Segunda-feira, 12 de abril de 2021 - 11h31
O incêndio é do lado de lá, quem socorre são os
bombeiros brasileiros de cá. Safras agrícolas de Guayaramerín (Beni) para
exportação entram pelo rio Mamoré, são registradas pela Receita federal e
chegam ao porto organizado do rio Madeira, em Porto Velho. Tudo gira em função
de Guajará-Mirim (46 mil habitantes) na fronteira brasileira com a Bolívia, um
município diferente até na solidariedade sul-americana, que no sábado (10) completando
92 anos.
É o único dos 52 municípios que decreta tradicionalmente
feriado o dia seis de agosto, data da Independência do Estado Plurinacional da
Bolívia.
Antiga possessão mato-grossense, Guajará-Mirim foi instalado
em 1929, ano do crack* da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Contudo, nunca se
deixou abater pela desgraça norte-americana e sua gente nem se surpreendeu
tanto, embora tenha reivindicado, quando o ex-presidente José Sarney o incluiu
entre as Áreas de Livre Comércio no País.
Do rio Mamoré, em Guajará, até o rio Madeira, em Porto Velho,
circulam cargas de exportação dos bolivianos,
informa Glenda Hara, coordenadora de comércio exterior na
Superintendência Estadual de Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura (Sedi).
Conforme a Sedi e a Sociedade de Portos e Hidrovias do estado
de Rondônia, a Bolívia exportou R$ 17,2 milhões de óleo; R$ 8,3 milhões de
arroz semibranqueado, polido. O estado que mais compra daquele país é o Rio de
Janeiro: alhos frescos ou refrigerados, por exemplo, que totalizaram negócios
de R$ 34,2 milhões no ano passado; depois, para São Paulo, R$ 14,3 milhões no
mesmo período. Os bolivianos vendem ainda para o Distrito Federal, Mato Grosso,
Acre, Espírito Santo e Minas Gerais.
“Nem tudo vem para o porto, mas a economia boliviana é
pujante”, reconhece Glenda Hara. Todas as mercadorias exportadas via porto de
Guajará-Mirim saem por rodovias (BRs 425 e 364) e peloo porto organizado de
Porto Velho.
“Olha o açaí! Olha o açaí geladinho! Pan, empanada y
tortilla!”. Se você ouviu estes gritos no meio de uma tarde modorrenta,
certamente está em Guajará-Mirim, lembram os jornalistas Alexandre Badra e Ana
Maria Mejia, filhos da terra.
Alexandre Badra, em seu programa Close não se cansa de mostrar
os encantos turísticos regionais, entre eles, a secular festa do Divino e o
Boi-Bumbá, quanto tem.
Guajará-Mirim é um termo oriundo da língua tupi: significa
cachoeira pequena, mas há controvérsias de vários linguistas.
Com ruas e avenidas planas, a cidade facilita e convida as
pessoas a andar de bicicleta. Tem até provas anuais de ciclismo promovidas pelo
Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia.
Nas lojas de maior procura, a bicicleta aro 29 nas marcas
Lotus [do grupo Cairu, de Pimenta Bueno] e Colli [de Sarandi-PR) são vendidas
atualmente por R$ 1800,00, divididos no cartão ou a vista. É alta a procura da
bicicleta elétrica importada, cujo preço varia entre R$ 2.800 e R$ 3 mil.
No verde da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto, famílias
de antigos seringueiros ainda extraem látex e cultivam babaçu, que entre outras
utilidades, serve também para gerar energia elétrica.
Ali, mulheres se dedicam à produção de sabonetes coloridos
artesanais, e os homens produzem botas e saias de borracha que já foram
enviadas para Alemanha. A pesca amadora, liberada na época logo após a desova
dos peixes, é outra grande atração. As belas praias do rio Pacaás Novos e a
Serra dos Pacaás Novos também são espetaculares, mesmo ainda exploradas turisticamente.
No Distrito de Surpresa, onde existe farta produção de
melancias vendidas na feira de Guajará, o Instituto Chico Mendes de
Biodiversidade preserva o Parque Nacional da Serra da Cutia. Com área de 216,5
mil hectares, o Parque Estadual de Guajará-Mirim faz parte desse imenso cenário
verde. Criado com uma área original de 258 ha, ele perdeu 53,6 mil ha devido a
títulos definitivos de propriedade da terra.
BOA CULINÁRIA
A professora Olga Mejia Brasil, ex-diretora da Escola Estadual
de Ensino Fundamental e Médio Simon Bolívar, elogia a culinária local. “Temos temos diversos de venda de saltenha
pontos pela cidade, só no Centro são três”, ela informa.
Segundo a professora, as saltenhas bolivianas também são muito
procuradas em Guajará. Elas são vendidas congeladas. “Pra mim são as melhores,
porque são as mais fiéis à receita dos bolivianos.
O cominho é produzido a partir de uma planta usada desde os
tempos dos celtas, e por árabes e romanos. Os preços variam de R$ 4 a R$ 5,
dependendo do comércio, e as saltenhas por encomendas também, conforme o
tamanho. O cento de saltenhas custa R$ 90; na compra do cento das grandes
permanece o preço de unidade, R$ 4.
“As receitas variam um pouco, umas mais
apimentadas, outras com maior quantidade de outros condimentos, entre eles, o
cominho, e inovaram também no
recheio: frango e camarão mas todas se remetem à da Bolívia”, explica
a professora.
A professora (foto), fã da culinária local, lembra que uma
saltenharia entrega os produtos ao longo das rodovias BR 425 e 364, para
revendedores da beira da estrada. “Todos gostam muito”, ela diz.
Ela também destaca o tacacá produzido na cidade. “O nosso é feito com um tucupi custa R$ 3 o litro e
tem sabor inimitável, não é zedo, e dele fazemos excelentes pratos, desde peixe
a galinha caipira até a rabada no tucupi. O litro custa R$ 3.
Tacacá é um prato típico de origem indígena da região
amazônica. Tucupi é o sumo amarelo extraído da raiz da mandioca brava quando
descascada, ralada e espremida.
Ela também destaca o tacacá produzido na cidade. “O nosso é feito com um tucupi custa R$ 3 o litro e tem
sabor inimitável, não é azedo, e dele fazemos excelentes pratos, desde peixe a
galinha caipira até a rabada no tucupi. O litro custa R$ 3.
Tacacá é um prato típico de origem indígena da região
amazônica. Tucupi é o sumo amarelo extraído da raiz da mandioca brava quando
descascada, ralada e espremida.
Mesmo com essa riqueza alimentícia, Olga Brasil, que também
aguarda o retorno da maior festa da cidade, o Duelo na fronteira (competição
anual dos bois-bumbás vermelho e azul), lamenta o momento vivido pela cidade, a
exemplo de outras cidades brasileiras que estão impedidas de se divertir:
“Lamentavelmente hoje, estamos carentes de cultura, e eu costumo dizer que
Guajará vive uma lastimável depressão coletiva; mas o Soberano Deus nos dará
forças pra continuar”.
A renda per capita de Guajará é R$ 18,2 mil, segundo o IBGE.
Outros números do censo mais recente feito pelo instituto: 150 toneladas anuais
de arroz em casca; 27 t de feijão; 675 t de milho; uma tonelada de amendoim.
IRMANDADE COM A HOMÔNIMA
Quis a história que as duas cidades separadas pelo rio Mamoré
tivessem o mesmo nome: Guajará-Mirim e Guayaramerín, ambas amazônicas.
Numa placa do outro lado do rio Mamoré, em Guayaramerín
(Beni), estava escrito, quatro décadas atrás: El mar nos pertence por derecho,
recuperarlo es um deber.
Esse slogan denota que o povo boliviano tem direito ao mar,
porém, ainda não se desenhou uma doutrina geopolítica capaz de direcionar a
essa conquista, por outros meios.
A história indica que a ocupação militar chilena do porto de
Antofagasta em 14 de fevereiro de 1879 foi o início da Guerra do Pacífico. Sem
mar, 133 anos depois bolivianos do Beni (Amazônia Boliviana) se valem do porto
organizado de Porto Velho para exportar seus produtos por embarcações que
navegam pelo rio Madeira.
Na Superintendência Estadual de Desenvolvimento Econômico e
Infraestrutura, a rota fluvial entre Porto Velho e Manaus se revela superior
(para os bolivianos) à rota para os portos de Arica no Chile, e de Ilo e
Matarani, no Peru.
* A Quinta-feira Negra (em inglês, Black Thursday refere-se ao
dia 24 de outubro de 1929, quando ocorreu o crash da Bolsa de Valores de Nova
Iorque. O crash desencadeou a mais devastadora crise econômica da história dos
Estados Unidos, considerando-se a abrangência e a duração dos seus efeitos.
Marca o início dos 12 anos da Grande Depressão, que afetou todos os países
ocidentais industrializados.
SAIBA MAIS
► Em 13 de setembro de 1943, pelo Decreto-Lei
5 812, o município passou a fazer parte integrante do Território Federal do
Guaporé, criado nessa data pelo ex-presidente Getúlio Vargas. No dia 21 de
setembro do mesmo ano, pelo Decreto-Lei 5 839, a sua área territorial, somada a
uma parte da área territorial do município de Mato Grosso (MT), ex-Vila Bela da
Santíssima Trindade, passou a compor o novo município de Guajará-Mirim.
►Essa composição territorial e sua confirmação
definitiva como parte integrante do Território Federal do Guaporé se deu em 31
de maio de 1944 através do Decreto-Lei 6 550.
► Pelo Decreto-Lei 7 470, de 17 de abril de
1945, Guajará-Mirim e Porto Velho passaram a ser os dois únicos municípios da
divisão administrativa e judiciária do Território do Guaporé. Os novos
municípios só vieram a ser criados nos anos 1980.
“Jovem advogado que sai da Faculdade quer apoio para enxergar a nova realidade”
Desde 2023, o presidente da Seccional OABRO, Márcio Nogueira ordena a visita a pequenos escritórios, a fim de amparar a categoria. “O jovem advogado
Casa da União busca voluntários para projetos sociais em 2025
A Associação Casa da União Novo Horizonte, braço da Beneficência do Centro Espírita União do Vegetal, espera mais voluntários e doadores em geral pa
PF apreendeu o jornal Barranco que mesmo assim circulou em Porto Velho
Mesmo tendo iniciado no Direito trabalhando no escritório do notável jurista Evandro Lins e Silva, no Rio de Janeiro, de postular uma imprensa livre
"Mandioca é o elixir da vida", proclama o apaixonado pesquisador Joselito Motta
Pequenos agricultores de 15 famílias assentadas em Joana D’Arc e na linha H27, na gleba Rio das Garças, ambas no município de Porto Velho, ouviram o v