Segunda-feira, 12 de julho de 2021 - 19h16
Se os resultados da pesquisa do DataFolha retratam a realidade, é uma questão de tempo o afastamento de Jair Bolsonaro da presidência da República pelo único meio possível, o legal, que é o impeachment. Bolsonaro pode pelo menos tentar – e até conseguir – protelar a consumação do seu impedimento, mas estará diante da ameaça seguinte: a derrota prevista na eleição do próximo ano.
A protelação exigirá um gasto alto em medidas populistas, como uma nova versão do Bolsa Família, que ele já anunciou, em versão ampliada e incrementada. Sua margem de manobra, no entanto, em função da crise fiscal, é estreita – ou nenhuma.
Outro fator que pode beneficiá-lo é a redução da gravidade da pandemia do coronavírus pelo avanço da vacinação e eventual maior seriedade no comportamento social (a ser avaliada ao fim deste veraneio de julho), a outra vacina contra a recidiva. Esse componente já não depende da vontade pessoal de Bolsonaro. Os escândalos na compra de vacinas e em outros momentos da atuação do governo deram um grau de autonomia à política sanitária.
O comportamento do capitão é um elemento de perturbação. Ele continua a agir insensatamente, desafiando a compostura, arruinando o que ainda resta da solenidade do cargo e partindo para a oposição e os críticos como se estivesse numa briga de rua. Ou esses procedimentos derivam da sua patologia pessoal (e ele cavará a própria sepultura) ou continua a apostar no confronto extremo, radical, do tudo ou nada. Do golpe, portanto.
Mas quem o apoiará nesse golpe, num ambiente muito diferente daquele de 1964? E o que fazer do - e com o - país no dia seguinte? As forças armadas aceitarão seguir um comandante que pratica a máxima do absolutismo monárquico que deu na grande revolução francesa, depois de mim, o dilúvio?
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