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Montezuma Cruz

Povo Krahô mostra visão do belo na televisão


MONTEZUMA CRUZ – O cineasta Rafael de Almeida, 20 anos, é daqueles que acreditam na existência de um outro mundo de valores dentro desse mundo capitalista e pragmático. Demonstrou isso ao filmar Impej (pronuncia-se Impei), um documentário de nove minutos, rodado em março deste ano entre os índios Krahô do norte do Estado do Tocantins. Conheci Rafael na semana passada, durante a gravação do Programa Curta Dentro da Lei, da TV Justiça. 

Atualmente, ele estuda Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) na Universidade Federal de Goiás (UFG), na sua terra natal, Goiânia. Ali, aprendeu que se pode viver de várias maneiras esta terra, sempre procurando as melhores companhias. Rafael foi buscá-las com vontade e ousadia. O resgate histórico, a fotografia e o cinema estão permanentemente em pauta com os mestres de Rafael, os professores Nilton Rocha, Lisbeth Oliveira e Lara Satler, que muito o influenciaram. 

O Curta dentro da Lei vai exibir Impej nos próximos dias. Veja no final deste texto como sintonizar a TV Justiça. 

O Brasil tem cerca de 370 mil índios divididos em 220 povos que falam mais de 180 línguas diferentes. Fazem parte da população brasileira que reivindica há tempos políticas públicas para a sua produção cultural. Rafael notou isso e sentiu que, a exemplo do Xingu, no Brasil Central, e em outras regiões, o índio usa filmadora, iluminador e microfone, para, ele próprio, se tornar sujeito da sua própria história. Entrevistamos Rafael:

AGÊNCIA AMAZÔNIA – Quando você começou a trabalhar com imagens e como surgiu a Estação Filmes?

RAFAEL DE ALMEIDA – Sempre tive um grande interesse pelas imagens, mas isso só foi despertado de fato na faculdade, quando pude estudar e começar a aprender trabalhar com elas. Ainda há muito a ser aprendido. A Estação Filmes surgiu logo depois que eu e meu sócio-amigo Douglas Pinheiro tivemos nossa primeira experiência com vídeo, o curta-metragem de ficção Pela metade, em agosto de 2006. O resultado e a receptividade que tivemos nos supreendeu e serviu de indicativo que era esse mesmo o caminho. Desde então temos tentado experimentar linguagens e buscar novos trilhos. 

Povo Krahô mostra visão do belo na televisão - Gente de Opinião

Rafael ouviu relatos impressionantes dos Kraô

A POSSIBILIDADE DE FILMAR
Impej surgiu de uma oficina fotográfica? De que maneira os Krahô lhe receberam? Onde fica a aldeia visitada?


A possibilidade de filmar Impej surgiu de um projeto chamado Memória Viva Krahô,em que me inseri em setembro de 2006, quando fui à aldeia pela primeira vez. O projeto trabalha com a inserção dos meios de comunicação no ambiente indígena como forma de resgate e perpetuação da cultura local. Eu e mais seis alunos de Comunição Social da UFG fomos lá ministrar oficinas de fotografia, vídeo, rádio e computação. A aldeia fica no norte do estado do Tocantins, próxima a Itacajá. Foi uma experiência fantástica. Não tenho dúvidas de que aprendemos muito mais do que ensinamos. Fomos recebidos com festa por eles. No primeiro dia os rituais com cantos e danças adentraram a noite. Depois dessa primeira visita, voltei à aldeia em março de 2007 para fazer o Impej.

Fale do significado da palavra Impej . Da vida indígena mostrada pelo filme, o que o sensibiliza?

Impej na língua krahô significa tudo aquilo que seja bom e belo. Logo, os significados podem variar bastante, mas o que o documentário ressalta e o que mais me sensibiliza é que a visão do belo krahô está muito além da capacidade do homem branco de perceber o belo. Registrar depoimentos que alegam que impej (o belo, o bom) é tudo aquilo que estiver acima da terra e abaixo do céu, englobando o sol, o vento, o Cerrado, as frutas etc emocionaria a qualquer um.

Sentiu que os índios querem qualidade de vida, como falam no filme? Considera possível eles conseguirem isso por conta própria, ou ainda dependem da tutela da Funai?

É perceptível que eles querem qualidade de vida. E poder ter isso no filme me deixa feliz porque mostra que, apesar de os krahô perceberem que possuem uma infinidade de coisas que considerem impej ao seu redor, também sentem falta de outras, como um telhado durável para cabana, que não seja preciso trocar todo ano. Acredito que a cada dia eles sejam mais capazes de perceber que possuem direitos e é preciso lutar por eles, inclusive levando a Funai a ser cada vez mais atuante. 

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Uma percepção além da que tem o homem branco /ARQUIVO DO DIRETOR

QUE LIÇÃO
Impej está legando para estudiosos da causa indígena e para o povo brasileiro em geral?

Impej me ensinou muito, me fez buscar o significado de uma palavra e me deparar com uma outra visão de mundo, na qual o belo está sempre ao lado – desde que eu queira vê-lo. Pensar que as pessoas que assistem ao documentário percebem isso já é uma felicidade imensa, e vai depender de cada um tomar ou não isso como uma lição.

Qual o seu próximo filme?
O próximo filme da Estação é um documentário com estréia prevista para janeiro de 2008. Conta com direção de Douglas Pinheiro, minha fotografia e chama-se Memórias de Sombras.

Sintonize a TV Justiça

O programa Curta Dentro da Lei visa estimular a relação dos telespectadores da TV Justiça por meio de debates temáticos diversificados pelo ponto de vista jurídico, antropológico, sociológico, filosófico e comportamental, após exibição de curtas-metragens. Depois da exibição do curta-metragem, a mediadora do programa, conduz o debate com uma pessoa que representa a produção exibida e um especialista no tema abordado pelo filme.

Curta Dentro da Lei traz para a TV Justiça a sétima arte valorizando os que têm espaço restrito para mostrar suas obras. Às quartas-feiras, 21h, com reprise aos sábados, às 17h, e domingos, à 1h e terça-feira, às 7h. Acesse aqui a TV Justiça.

Por DTH para todo o Brasil
Directv: canal 209
Sky: canal 95

Satélite: Brasilsat B1
Freqüência de recepção: 3.649,00 MHz
Polarização: Vertical
Taxa de informação: 4399,00 Kbps
FEC: 3/4 

Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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