Capital acreana pulsa mais no Terminal Urbano e nos Mercados Novo e Velho. Comida e conversa são aliadas.
MONTEZUMA CRUZ
montezuma@agenciaamazonia.com.br
RIO BRANCO, AC – Diga aí, querido, está à procura de quê? Vamos entrando. Com o característico sotaque nortista ouve-se repetidas vezes esta frase quando se visita o comércio do Terminal Urbano de Ônibus, um dos cartões postais acreanos. O coração pulsante de Rio Branco não está nos palácios do Governo, do Judiciário ou do Legislativo. Fica na beira-rio, ocupada há mais de três décadas por migrantes procedentes da floresta.
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A meiga vendedora espera o freguês /M.CRUZ
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Para conhecer melhor a cidade, o visitante deve percorrer o Terminal Urbano, o Mercado Velho, a Encosta da Gameleira e o Mercado Elias Mansur, o Novo. Se não fizer isso, perderá a oportunidade de se familiarizar com um dos lados mais movimentados da capital acreana, atualmente contando mais de 314 mil habitantes.
A porção territorial que hoje corresponde ao município de Rio Branco, inicialmente sede do Departamento do Alto Acre, foi formada como entreposto comercial avançado da economia mercantil da borracha, e reconhecida desde as primeiras expedições feitas pelo sertanista Manoel Urbano da Encarnação.
Às 11h da manhã, sob uma forte chuva de janeiro, a
Agência Amazônia colheu alguns flagrantes da vida desses lugares. Hasteada em pontos estratégicos, a bandeira do Estado indica o respeito e o sentimento das pessoas para com o Estado cuja história encerra um dos capítulos mais emocionantes da ocupação amazônica. Os prédios antigos foram revitalizados e se destacam na paisagem.
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O cabeleireiro Vermelho: 15 fregueses por dia e a alegria da conversa /M.CRUZ
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Cabelos, unhas e pés. O cabeleireiro Vermelho comenta as fofocas do dia, ri, alisa os cabelos da moça e quer saber onde vai sair a foto. Em média, ele atende a pelo menos 15 clientes por dia.
Pequenos salões de beleza, a maioria unissex, contrastam com bazares de armarinhos, bijuterias, artigos de couro, plástico, látex e miudezas em geral. “O zelo garante a presença”, ele diz. Para Vermelho, a conversa "dá mais motivação à vida". Tudo funciona em dois estreitos corredores repletos de mercadorias e bugigangas de todos os tipos e para gostos diferenciados. Os boxes são de madeira.
Ao meio-dia, no Mercado Municipal, a Pensão da Mãezinha, Janete, Nazira, Cantinho da Morena e outros espaços, vendem refeições a partir de R$ 5: peixe frito, caldeirada, moqueca no leite da castanha, sarapatel e carne cozida são os destaques. Na calçada à beira-rio, outros pequenos restaurantes vendem comida a partir de R$ 4. Em geral, encontram-se sucos de cupuaçu, açaí, caju, graviola, bacaba e outras frutas.
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Robson, estátua viva /M.CRUZ
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Comerciantes, jornalistas, policiais, universitários, estudantes e muitos desocupados se reúnem religiosamente ali. Dão vazão às suas histórias, falam da política e espalham notícias no estilo do rádio-cipó. A ninguém é dada a ignorância dos fatos. O Mercado Velho está para Rio Branco tal qual as conhecidas bocas malditas estão para outras capitais e grandes cidades brasileiras.
A Encosta da Gameleira foi construída em 2002 pelo ex-governador Jorge Viana (PT). Por ela transitam diariamente pessoas em busca de entretenimento. O Mercado Elias Mansour tem mais de 150 bancas e surgiu numa área anteriormente degradada sob o ponto de vista ambiental e social.
A chuva passou e a visita continua. Robson, estátua viva, veio de Ariquemes (Rondônia) e impressiona o público no calçadão. Ao lado dele, um carrinho de água de coco situa-se estrategicamente na frente das pequenas lojas. Robson pára por alguns minutos, faz um lanche, e volta a se exibir à multidão.
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Um povo orgulhoso do seu Estado /M.CRUZ
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Ao redor do Terminal Urbano e dali até a Praça dos Povos da Floresta e nas esquinas das ruas centrais, há pontos fixos para os vendedores de saladas de frutas.
O repórter vai viajar de barco para Boca do Acre (AM) e pede informações sobre redes, cordas e mosquiteiros. Anda 50 metros e encontra todos esses artigos numa das pequenas lojas do segundo calçadão.
Com R$ 40 estão garantidos os preparativos da viagem. Fumo de corda, lampiões, lanternas, tecidos multicoloridos, peças de cama, mesa e banho, em profusão, enfeitam prateleiras e gôndolas. Atenciosas e persistentes vendedoras permanecem o tempo todo em pé, na frente dos estabelecimentos, para convidar o visitante a conhecer as ofertas.
O rio divide a cidade
▪ Rio Branco, fundada em 28 de dezembro de 1.882, por Newton Maia, é cortada pelo Rio Acre, que divide a cidade em duas partes denominadas Primeiro e Segundo distritos.
▪ A Gameleira foi a testemunha dos combates travados entre revolucionários acreanos e tropas bolivianas durante o crítico período da Revolução Acreana que tornou o Acre parte do Brasil no início do séculao passado.
▪ Com o Tratado de Petrópolis e a criação do Território Federal do Acre, Villa Rio Branco afirmou-se como o principal centro urbano de todo o vale do Acre, o mais rico e produtivo do ex-território.
▪ A partir de 1920, a cidade de Rio Branco assumiu a condição de capital do território e depois do Estado.
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Palácio Rio Branco, maravilha amazônica, é a sede do Governo Estadual /M.CRUZ
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Com o passar do tempo a administração política foi transferida para a margem esquerda do Rio Acre, com terras mais altas e não inundáveis. Ainda assim as ruas que integravam o centro da cidade formada pelas ruas Cunha Matos, 17 de novembro e 24 de janeiro permaneciam sendo a principal área comercial da cidade, dominada pelos imigrantes sirio-libaneses. Em meados da década de 30 o lugar foi conhecido por Bairro Beirute.
▪ A cidade obteve sua autonomia pelo Decreto Federal nº 9.831 de 23 de outubro de 1.912. Sua área mede 8.580 km 2. Concentra 47% da população do Acre.
▪ Em 28/12/1882 Neutel Maia instalou no mais importante aglomerado da localidade, o Seringal Empresa, na margem direita do Rio Acre, onde havia grande concentração de seringais e se extraía o melhor látex e produzida a maior quantidade de borracha do Alto Purus.
Fonte:
Montezuma Cruz -
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