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Montezuma Cruz

Vigilância alcançou Amir Lando


No período ditatorial, a vigilância sobre as pessoas alcançou Lando em Rondônia Arapongas vasculham a vida do advogado para detectar relações duvidosas; 30 anos depois, ele volta às origens. 

MONTEZUMA CRUZ
montezuma@agenciaamazonia.com.br 

BRASÍLIA — Com óculos de aro fino, de cavanhaque e roupa esporte, o recém-formado advogado Amir Lando desembarcava na Amazônia em 1969 e em meados dos anos 70 era nomeado presidente da Comissão de Discriminação de Terras Devolutas, pelo coordenador regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), capitão do Exército Sílvio Gonçalves de Faria.  
Lando chegou a Rio Branco (AC) num avião Búfalo da Força Aérea Brasileira, integrando a caravana do Projeto Rondon. A Amazônia, sempre carente na área de saúde, depositava nos universitários a esperança de atendimento. Trinta anos se passaram e até hoje o vazio amazônico também se traduz num vazio de médicos.
Prefeitos do interior pagam salários acima de R$ 5 mil mensais e dão viagens aos interessados em assumir postos de saúde e hospitais.

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Lando foi coordenador de Terras Devolutas na Amazônia Ocidental / SENADO
Sob o comando do terceiro presidente da ditadura, o general Ernesto Geisel, o regime escolheu Faria para promover a reforma agrária no extinto Território Federal de Rondônia. Ali, o capitão compartilhava do poder do próprio governador, coronel de Exército Humberto da Silva Guedes, que na CPI não admitira a gravidade da grilagem de terras.
Guedes acreditava que as grandes áreas detidas por seringalistas estavam sendo regularizadas
“dentro dos permissivos legais” (termo que usou no seu depoimento). 
Lando nasceu em Piratuba (SC). Depois de cursar o ginasial em Lajes, especializou-se em direito agrário na Universidade Federal em Porto Alegre (RS). No cargo de presidente da Comissão de Terras recebia pouco mais de dois mil cruzeiros por mês, “um acinte”, conforme explicou aos deputados integrantes da CPI da Terra.
 
Técnicos da extinta Embrater e da Embrapa eram mais bem remunerados. Ao deixar o Incra em 1975 e até setembro de 1976 Lando prestou assessoria ao Ministério da Agricultura. 
O capitão Faria morreu com quatro cruzes de malária em 1979 na clínica do médico Carlos Botelho, em Porto Velho. Em outubro de 2003, no Senado, Lando homenageou-o: “Ele fez justiça social em uma terra ainda rude, assentando milhares de famílias; depois do marechal Rondon foi o personagem mais importante para Rondônia”.
 
 

Advocacia de peso
 

De volta a Porto Velho, Lando associava-se ao mais famoso advogado de Rondônia, o paraense Fouad Darwich Zacarias. A cada baforada no cachimbo cheio de fumo Buldogue, Zacarias afugentava algumas pessoas que o visitavam no escritório da Rua Barão do Rio Branco, no centro da cidade.
 Gostava de poesia, teatro, cinema e de uma boa conversa.

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Faria comandou o Incra em Rondônia /ARQUIVO AM
Os dois patrocinaram causas das maiores demandas fundiárias no extinto Território Federal e depois no Estado, grande parte em benefício de seringalistas e grandes fazendeiros. Seringalistas que tomavam empréstimos do Banco da Amazônia, mas nenhum valor agregavam às terras. E ainda tiveram as dívidas penduradas no banco, para posterior execução judicial.
 
Em 1982, Zacarias presidiu a seccional de Rondônia da Ordem dos Advogados do Brasil e se tornou o primeiro presidente do Tribunal de Justiça do Estado. Consagrado até pelos garimpeiros do ouro do Rio Madeira, cuja causa defendeu, nas primeiras eleições do novo Estado, Lando elegia-se deputado estadual constituinte.  
Mesmo governista, o relator substituto da CPI, deputado Nosser Almeida (Arena-AC), fez parte da lista dos investigados por órgãos de informação da ditadura. Ele fustigava Lando pelo fato de haver deixado o Incra e instalado um escritório de advocacia especializado em direito agrário.  
“Com aquele pretexto de que fora funcionário do Incra, V.Sª adquire facilidades para resolver determinados problemas, aquele jeitinho, como se costuma dizer” — questionava-lhe Almeida. Aborrecido, Lando respondera: “A perfídia é quase um ingrediente do ser humano”. Justificaria em seguida que só se exercitaria nesse tema, porque o Direito Penal nunca fora seu forte. 
Lando apresentava-se um homem sempre vigiado, em casa e no trabalho. “Paus mandados”, conforme ele próprio classifica, procuravam se aproximar para saber alguma coisa. Assim foi com agentes das polícias civil, federal, e com agentes da P2 (Serviço Reervado da Polícia Militar).  
Essa situação ocorreu desde o período em que trabalhou no Incra até a sua filiação ao MDB rondoniense. “Nunca fechei as portas para qualquer pessoa”, disse. Diversas vezes Lando percebeu que os órgãos de segurança vasculhavam a sua vida pregressa, buscando alguma relação duvidosa. No seu passado estudantil havia militado na esquerda de Porto Alegre com o professor universitário e e ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont. No final da década de 60, Pont iniciava sua luta contra a ditadura militar. Foi preso por contestar o regime autoritário que se instalara no País, de forma desenfreada. 
De volta às origens
Lando elegeu-se deputado estadual em 1982, depois senador em 1998, e foi ministro da Previdência Social de 2004 a 2005. Em 1992 relatou a CPI do PC Farias, que causou o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo.
Quinze anos depois, com os direitos políticos recuperados, Collor se elegeu senador por Alagoas em 2006, afastou-se em 2007, antes da crise provocada pela situação do senador Renan Calheiros, e pretende se candidatar ao governo do seu Estado. Em 2006, Lando também perdeu as eleições para o governo.

Dono das fazendas Convento, em Corumbiara (RO) e Araçá, no município goiano de São João da Aliança, ele voltou a advogar no eixo Porto Velho-Brasília. Sabe de cor e salteado quais são as terras da União em Rondônia; quais as áreas onde o Incra emitiu licenças de ocupação provisórias. Conhece as áreas desapropriadas com fins sociais e sabe onde estão as terras que podem ainda podem ser indenizadas. É capaz de elaborar um detalhado mapa fundiário estadual. Na sede do Incra, em Brasília, poucos têm essa visão de raio X. 
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Santana relatou a CPI da Terra /KUPPÊ
Relator da CPI também foi perseguido
BRASÍLIA — O relator da CPI da Terra foi um dos homens mais visados pelo regime. Três vezes deputado federal, Jerônimo Santana (MDB) teve o nome na lista dos “cassáveis” durante o governo do general Ernesto Geisel. Em 1986 ele elegeu-se prefeito de Porto Velho e, em seguida, governador do Estado.
Sofreu um derrame, resistiu e está numa cadeira de rodas. Mora em Brasília desde o final da década de 80, quando esgotou sua terceira e última tentativa de voltar à política. Emociona-se e chega a chorar quando lembra, com muita lucidez, da luta pela elevação de Rondônia a Estado. Em 1978, seu projeto de lei para criado para esse fim foi copiado pela assessoria do ministro do Interior, Maurício Rangel Reis.
Em 2005, o jornalista acreano Altino Machado apurou, no Acre, que o nome do ex-deputado Wildy Viana das Neves, pai do ex-governador Jorge e do senador Tião Viana, está na lista de 28.555 nomes citados nos documentos dos extintos Serviço Nacional de Informação (SNI), Conselho de Segurança Nacional e Comissão Geral de Investigação (CGI).
Altino publicou a lista em seu blog. Outros: ex-governadores José Augusto de Araújo (falecido), José Rui Lino, Jorge Kalume (também foi senador); Joaquim Falcão Macedo, tio de Jorge e Tião Viana; Adel Derze, militar da extinta Guarda Territorial; os empresários Adonay Santos (falecido) e Alberto Felício Abraão; e o ex-deputado Nosser Almeida.
Kalume, Wildy Viana, Macedo e Almeida foram aliados do regime militar no Acre. Os advogados e jornalistas Foch Jardim e Rufino Farias Vieira (falecidos) também estão na lista. Rufino Vieira, pai do jornalista Antonio Alves, chegou ser preso logo após o golpe militar, quando o capitão Edgard Pereira de Cerqueira tomou de José Augusto de Araújo o Palácio Rio Branco, sede do governo do Acre.
Fonte:   montezuma@agenciaamazonia.com.br  - Agenciaamazonia é parceira do Gentedeopinião

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