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Gente de Opinião

Orlando Cavalcante Pereira da Silva Junior

Milico


Após a ressaca do segundo turno das eleições para presidente da república, passei a ouvir e ver alguns poucos “gatos pingados” propondo que os militares retomem o poder.

Fiquei e estou “deverasmente” com medo.

Sei lá, embora pequeno ainda, no período da ditadura militar, vi algumas coisas que me dão calafrios só em pensar na volta dos militares.

Lembro muito bem, quando morava no Bairro do Caiari, na Rua Santos Dumont, 2532, em frente à Praça Aluízio Ferreira de tinha um vizinho chamado Inácio Mendes, muito conhecido à época pela defesa ferrenha da democracia, brigando contra os militares.

Ele era dono de um jornal que mudava de nome constantemente, toda vez que sofria alguma agressão. Teve o nome de “O combatente”, “O Combate” e outros que não lembro.

Algumas vezes ouvia meu pai dizer que só faltava colocar no nome do jornal de “O Combatido” pelas vezes que o mesmo sofreu a fúria militar.

Pois bem, vi um dia, “seu” Inácio, que estava limpando um porco, que acabava de abater, ter sua casa invadida, sem qualquer autorização judicial e sair arrastado pelo colarinho e jogado em um Jeep militar e ser levado para a 3ª companhia de Fronteira. E não foi a única vez que aconteceu.

Como leitor de Ruy Barbosa, resolvi enriquecer a minha escrita com sua celebre frase "a pior democracia é preferível à melhor das ditaduras".

E é a mais pura verdade – e quem sou eu para contestar tão nobre escritor e estadista.

Nasci no período pré-ditadura e pude viver o período que ela esteve a mandar no nosso país, de forma que acompanhei alguns episódios, tendo sido protagonista e um até certo ponto hilário, quando lecionando, aos dezoito anos, tirei uma brincadeira com o diretor da escola quando ele perguntou como eu estava e respondi que “estava bem e se nada melhorasse eu me mandava pra Bolívia”.

Só não sabia que os dois senhores que estava a conversar com o diretor – que também era militar – eram milicos e me procuraram a noite toda para eu poder explicar as minhas palavras.

Simplesmente bobeira de adolescente...

Tive que passar a noite escondido na casa de uma namorada.

Temos mais é que acreditar nos poderes constituídos que, harmonicamente, irão desenvolver formas de haver governabilidade, sem injustiças, sem morosidade sem desvios dos recursos públicos e com respeito ao povo brasileiro.

Ainda citando Ruy Barbosa, devemos pensar que "a esperança nos juízes é a última esperança. Ela estará perdida, quando os juízes já nos não escudarem dos golpes do Governo. E, logo que o povo a perder, cada um de nós será legitimamente executor das próprias sentenças, e a anarquia zombará da vontade dos presidentes como o vento do argueiro que arrebata."

Já que citei o Ruy Barbosa, também citarei René Louis de Voyer de Paulmy, Marquês d'Argenson a quem é atribuída à célebre frase "laissez faire, laissez aller, laissez passer"[i].

Não queremos ditadura, porém também não queremos uma anarquia.

Para pensarmos um pouco no que tem gente propondo não será com a tomada do poder pelos militares que teremos um Brasil melhor.

Até prova contrária, o pleito foi legítimo em seu resultado, cabendo à oposição fazer seu papel de fiscalizador, principalmente.

O Brasil melhorará com atitudes, respeito e, sobretudo, fiscalização aos atos dos governantes.

É lutando por nossos direitos constitucionais que poderemos aglutinar forças para termos um país melhor para nós e nossos descendentes.

E, por fim, milico nunca mais.



[i] - Frase atribuída ao comerciante Legendre que significa "deixai fazer, deixai ir, deixai passar". A sua origem é incerta e teria sido pronunciada numa reunião com Colbert, no final do século XVII, porém o primeiro autor a usar a frase foi mesmo René Luis.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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