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Gente de Opinião

Orlando Cavalcante Pereira da Silva Junior

Não vou ao cemitério


No próximo domingo, 13 de maio, será uma data especial.

Será comemorado o dia das mães.

É comum – e muito normal – filhos que tenham mães falecidas irem ao cemitério visitar o túmulo das mães.

Eu não vou.

Não que Dona Maturina não mereça minha presença lá.

É diferente meu pensamento pois lá somente tem seus restos mortais.

Eu reverencio a minha mãe, relembrando suas ações, suas zangas, seus cascudos, sua chatice e muitos outros adjetivos que a velha tinha.

Relembro também. Para reverenciar minha mãe, no dia que chequei com um de meus filhos bem doente, na casa dela, com ele em meus braços, dizendo que ele iria morrer e ela, com a calma de Maria, o pegou nos braços e apenas disse:

_ Calma! Deixa ele aqui que não morre não.

E hoje ele é um garoto forte e bonito – parecido com o pai.

Reverencio também Dona Maturina, relembrando o esforço que ela fez para que todos os filhos fossem pessoas honradas, seguindo uma religião que ela acreditava bastante e nos moldou dentro dos conceitos dela.

Em 2012 é mais especial ainda, pois coincide com a aparição de Nossa Senhora de Fátima na Cova da Iria, em Portugal.

Acredito que não tem data melhor para comemorar o dia das mães como no dia 13 de maio.

Não que eu esteja com heresia, comparando Dona Maturina a Nossa Senhora de Fátima, pois como mãe, acredito que daria um empate técnico.

Pois mãe e mãe. 

Ou alguém acha que do mais angelical ao mais perverso ser, não nasceu de uma mãe?

Então todos têm alguém para reverenciar no dia das mães.

Agora, voltando à realidade minha, não adianta eu ir ao cemitério para aceder velas em homenagem para Dona Maturina e durante o resto do ano não lembrar suas ações e seu jeito peculiar de criar seusmonstrinhos.

De que adianta acender velas e não ter nada de bom para contar aos amigos de especial sobre minha mãe.

Digo assim por ter tido o prazer e a satisfação de, em um supermercado, ter sido cobrado por uma senhora, contemporânea de Maturina por eu não ter mais contado os causos de mamãe.

Então, acredito que assim estou reverenciando a velha.

Vejo casos de filhos que vão ao cemitério, acendem velas e nunca falam de seus entes queridos e pior, quando falam é com desdém ou sem respeito algum.

Prefiro não ir ao cemitério e relembrar com grande prazer e um toque de irreverência dos meus que já se foram.

Reverencio Dona Maturina, na figura das mães de meus filhos – que são muitos.

Reverencio também, quando vejo amigas – e as elogio – pelo jeito carinhoso de tratar seus rebentos com aquele carinho que somente mãe tem.

Reverencio mais uma vez, quando vejo e ouço você, contando como aquele garotinho é tratado, suas peripécias, sua evolução escolar e sua edificação como ser humano.

Reverencio ainda Dona Maturina, quando vejo, na feira, uma velha senhora, tentando comprar meia galinha para poder alimentar seus filhos.

Lá no cemitério, resta apenas parte da matéria.

As ações de minha mãe estão em todo lugar.

Estão nos meus filhos, e em um especial, estão em escolas que passo pela frente e sei que ali ela trabalhou pela educação de filhos de outras mães, estão no jeito Maturina de ser que vejo em minhas irmãs e sobrinhas quando estão educando seus filhos.

Quem me conhece sabe muito bem do que estou falando.

Não vou ao cemitério. 

Obrigado, obrigado mesmo, Dona Maturina.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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