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Gente de Opinião

Osmar Silva

A ‘Cara Preta’



Observo a ‘Cara Preta’, uma jovem fêmea siamesa de olhos azuis, em sua preguiça. Deita e se esparrama. Chamo a atenção da minha mulher: olha a folga dessa senhora! Levanta e deita, e deita toda espaçosa, em qualquer lugar. Até na nossa cama. A Joyce – minha mulher – não perde a oportunidade: ‘essa égua andou se enroscando por aí, e agora, só quer dormir. Tu sabes por quê? Ela tá é prenha!’ Caí na risada: ‘pois é. E tu vais é virar vovó!’

Relembrei os gritos da minha vó Salomé com a mulherada solteira da família: ‘quem me aparecer de bucho por aqui, pode pegar a trouxa e sumir’. Avisava: ‘senão eu mesma jogo os trapos no olho da rua’. E sentenciava: lugar de puta é no cabaré. Aqui só emprenha quem casar’. Tempos difíceis aqueles.

Mas a ‘Cara Preta’ é de uma sociedade onde os valores são outros. Atemporais. A gravidez se impõe como regra natural para a perpetuação da espécie. Esse é o único fim. Entre nós, também animais, a coisa é diferente. Envolvemos amor, paixão, traição e vingança. Sentimentos. E valores éticos, morais, religiosos e legais.

Assim, abrimos a porta para o estado entrar em nossa vida, casa e impor suas leis.  É o que nos diferencia dos outros animais. Regras que nós mesmos criamos e nos impomos. No mundo da ‘Cara Preta’ tudo já fica resolvido na temporada do cio. As escolhas e simpatias desaparecem ao fim do período. Sem sequelas.  

Mas, ao final, o que também buscamos é a perpetuação da espécie. Além do domínio do Planeta. Não é à toa que já somos sete bilhões e trezentos milhões de seres. E, seremos dez bilhões em 2050. Apesar das restrições ao crescimento da natalidade na China e Japão. O Planeta suportará tanta gente?

Essa é uma questão que cabe aos cientistas e aos governantes do mundo resolver. No dia a dia da vida, com exceção de algumas mulheres e homens, todos querem deixar a sua ‘marca’ e o seu DNA nesta terra.

Pergunte a uma mulher de vida sexual ativa que ainda não engravidou qual é o seu maior desejo. Ter um filho, responderão a absoluta maioria. E também dirão a mesma coisa homens que, aos quarenta, começam a se questionar: ’ Caracas! Não tenho uma semente!’.

Uma jovem mãe de gêmeos, apaixonada pela sua família não titubeou em dizer que, se tivesse que escolher entre o marido e os filhos, ficaria com os filhos. Ela, e toda mãe, em qualquer tempo do passado ou do futuro. O filho ascende ao topo da hierarquia afetiva desde sua concepção. O companheiro cai, automaticamente, para o segundo lugar. A ordem da natureza se impõe à mulher.

Se ela se tiver que escolher entre o amor de sua vida e os filhos, rasgará o coração e partirá a alma, mas ficará com os rebentos. Por quê? Pelo simples fato de que, como qualquer animal, estará cumprindo a lei da natureza: garantido a continuidade da sua espécie. Igual a ‘Cara Preta’.

Nem adianta tentar convencer uma mulher de não engravidar por que o Planeta não cabe mais gente, ou a água doce não dará para matar a sede de todo mundo.  Ou o Zika pode chegar pelas asas do mosquito e encolher a cabeça do bebê. É chover no molhado. Pior que tudo isso, é se olhar no espelho, vê o tempo passar, alisar a barriga e se perguntar: ‘será que nunca terei um filho? Será que tenho algum problema? Por não engravido?’

Essas questões afrontam a natureza da mulher. E a lei do universo. Não há quem se conforme de não poder cumprir a sua missão nesse mundo. Essa frustração gera uma dor silenciosa. Dói para sempre. Então, deixa a ‘Cara Preta’ se espraiar. Ela pode.

Osmar Silva – Jornalista – sr.osmarsilva@gmail.com

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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