Sábado, 6 de junho de 2015 - 14h52
Uma das mais belas cerejeiras de Rondônia caiu no final de maio. Justamente o mês de Maria que ela tanto gostava de enfeitar com a alegria de suas cores.
As flores da floresta acorreram em socorro, assim como as castanheiras, as seringueiras e o sisudo pau-ferro. Mas nada mais podia ser feito. O vendaval dos céus foi forte, rápido, definitivo. Sem chance. Restou-lhes aspirar a brisa fresca que cortava vales e montanhas, chacoalhando levemente as folhas e a relva das matas e dos campos, em silente reverência.
- Escuta todo mundo. Nós sabemos que é assim. Até a pedra tem o seu dia de virar areia. Vamos balançar nossos galhos, pois os passarinhos e outros bichos querem é festa. Resmungou o Quariquara, exorcizando a tristeza.
- É mesmo! Ela gostava era de alegria, completou o Faveiro. E começou a bater palmas com suas folhas verdejantes.
Ela, assim como todas as espécies de vida, cumpriu o seu ciclo. Mas teve o cuidado deixar sementes de várias gerações. Filhos, netos, bisnetos . E um grande exemplo de lutas e de vitórias. De conduta reta.
Num pequeno pedaço de chão a Cerejeira e o seu Jequitibá, construíram sua floresta. Alí, entre Jaru e Ariquemes. Um lugar bonito, famoso. A Cunha do Marechal. Foi ali que deixou Maria, Joaquim e Damião. Cícero e Preta. E o José, fiel Limoeiro que nunca lhe arredou o pé. E muitos mais que estão renovando a floresta.
A Cerejeira Jacira foi a maior festeira daquelas matas. Ali tinha igreja e campo de futebol. Debaixo de sua copa ocorreram festas memoráveis. Ora para cobrar, com a valentia e a coragem do Jequitibá Parafuso, o documento de suas terras, ora para louvar ao Criador pela escola ou pelo posto de saúde. E todos se fartavam com seus frutos.
Muitas vezes fui portador destes pedidos junto ao prefeito Francisco Sales, dos coordenadores do Incra, Galvão Modesto e Doutor Ernani. Junto ao Teixeirão. Assis Canuto foi quem os colocou lá naquele canto de chão. Mas muitos queriam tirá-los de lá. Armas foram expostas e usadas. Mas os caminhos precisavam ser abertos. Galhos e pés-de-pau caíram. Até que se restabeleceu a paz.
Muitos participaram dessa luta. O Mogno Zé Preto chegou a ser o ‘prefeito da Cunha do Marechal’ e o Araucária Osmar Klaus foi dos valentes mais cobradores de quem tinha obrigação. Todos, quase sempre sob a batuta do galho forte do Jequitibá e da beleza serena da Cerejeira.
Rondônia deve, e muito, a todos eles. Que não têm nome em praças nem fotos em museus ou galerias. Mas o portentoso estado de agora e do futuro, só é o que é e será o que será, porque nasceu dessa estirpe florestal.
Sou parte dessa mata. E estou ficando só.
OsmarSilva – jornalista – sr.osmarsilva@gmail.com
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