Sexta-feira, 11 de agosto de 2017 - 07h53
Acabo de completar 73 anos. Nunca imaginei que chegaria a tanto. Foi ontem, em 1944, que saí do ventre de uma menina de 14 anos, cujos seios se formaram impelidos, precocement, pela força da gravidez e da amamentação.
Esta criança que se tornou mulher sem ter sido adolescente, pulou da infância direto para vida adulta. Sem escola, sem orientação e com responsabilidades de dona de casa, tinha que cuidar do lar, do filho e do marido. O instinto foi o seu guia.
Esta mulher, que não viveu os sonhos, devaneios e fantasias da adolescência, virou mãe de oito filhos aos 25 anos. E a partir daí os criou sozinha. Fui seu companheiro na lida de cuidar dos mais novos. E de por comida no prato de cada um.
Com ela aprendi todos os valores que me norteiam. Aprendi a desenvolver a paciência, pois sempre era o último na repartição de dádivas, que às vezes, não me alcançava.
- Não chore, não fique zangado! Eu também não ganhei.
Ancião, trabalhador de três turnos, ainda forte e saudável, agradeço a Deus pela mãe e pai que me deu. Atribuo aos dois anos de amamentação e ao amor incondicional que Dona Zuleide deu a cada um dos seus filhos, o vigor que anima meu velho corpo.
Olho para trás e acho incrível a minha vida. Cheia de altos e baixos, igual à corcova de um dromedário. Você não acredita de quantas coisas já fiz para sobreviver. Nem imagina o tamanho do salto que foi o de sair do analfabetismo no meio do mato e ser repórter aos 17 anos nos Diários Associados e, aos 20, morar no Rio de Janeiro e trabalhar no Jornal do Brasil.
O mais fantástico é que sou de uma geração, que participou e ainda participa, das maiores transformações da história humana.
Venho do tempo em que se casava com mulher virgem. Isso, após namorar na porta da família, sob o olhar de todos, noivar sob vigilância no sofá, montar casa e o enxoval da noiva e do noivo para, só então, casar.
Não existia motel nem a libertinagem de hoje. Era um tempo em que só existia dois sexos: o de Adão e o de Eva. E família era instituição sagrada.
Ah! São tantas as histórias. Hora dessas, conto mais. O fato é que só tem uma explicação para que eu tenha chegado até aqui: Deus sempre esteve comigo. Ele mora no meu coração.
OsmarSilva – Jornalista – Presidente da Associação da Imprensa de Rondônia-AIRON – sr.osmarsilva@gmail.com
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