Quarta-feira, 13 de outubro de 2021 - 13h55
Dormi no Hotel do Cici, sobre a Rodoviária de piso de
cimento coberto com serralha de madeira, a minha primeira noite em Ariquemes.
Do outro lado da rua de chão de lama grudenta, hoje Avenida Tancredo Neves, no
meio do mato, mas já batizada de Área Institucional, o Pau do Fuxico
do mesmo Cici, altos falantes que, do cume de um poste de madeira, mandava
música caipira e recados para os ‘parceleiros’ – como todos se
denominavam - que chegavam e partiam em
ônibus velhos que, por milagre, corriam as poucas vias existentes de primeira
penetração. Verdadeiros carreadores. Era um dia de março de 1979.
Ao andar pela cidade, que só tinha o Setor 1 em implantação
e a hoje Avenida Capitão Sílvio de Farias, na época uma estradinha de chão no
meio da mata chamada de RO-01, sem conhecer ninguém, com todos os sentidos em
alerta para tudo que via e ouvia, acabei entrando na Casa Daltiba, ao lado do
Comercial Corbélia, na já tratada como Avenida Jamari.
Solícito, Osvaldo Daltiba me recebeu percebendo que eu era
mais um novato recém-chegado. Me apresentei dizendo-lhes ter chegado de
Itabuna, Bahia, da minha profissão e da minha missão: escrever sobre o Projeto
Burareiro, que estava sendo implantado no município em terras doadas
pelo Incra, com financiamento do Banco do Brasil, para os selecionados criarem
a mais nova lavoura cacaueira do país.
Em seguida, ele me apresentou a pessoa com quem falava. Um
cidadão muito branco, cabelo louro escasso, olhos azuis e sotaque carregado de
gente do sul, bem caipira. Era Lérson Sápiras, do dono do maior comercial de
abastecimento alimentar e outras tantas coisas da cidade.
Sobre o balcão da loja do Daltiba, que pegava de uma ponta
à outra do salão, um tecido branco aberto e esparramado. Mal me identifiquei os
dois falaram quase em uma só voz: pronto! Já temos um jornalista pra nós
ajudar. Tratava-se de elaborar frase de recepção ao governador do
Território Federal de Rondônia, coronel Humberto Guedes, que estava na
iminência de chegar na cidade. E o pano esperava a inscrição de boas-vindas.
Foi minha primeira contribuição ao desenvolvimento da cidade de Ariquemes, de
onde não saí mais até mudar-me para Porto Velho dezoito anos depois.
Mas parece que foi ontem. Lembro, sinto saudade e
reverencio verdadeiros pioneiros que os interesses políticos mais imediatos
ocultam. As homenagens e reconhecimento vão, em regra, para quem pode ajuda-los
agora, hoje, na próxima eleição. E esquecem aqueles que, verdadeiramente, são
os ‘mais destemidos pioneiros’ como canta o nosso hino.
Registro alguns nomes sobre os quais me dedicarei, noutros
momentos, a registrar a importância de cada um: o técnico agrícola grapiúna
Demerval Borges e sua mulher professora Vitória Alda; o burareiro Carlos
Guerreiro e sua mulher professora Glísia; o culto técnico eletrônico baiano
Temístocles Maia; o arrojado Joel Simeão; Denizar Raposo e sua mulher Marli,
protetora dos idosos, e seus irmãos; o idealista Hirama Massao; o burareiro e
já político Abel Soares; a professora Geni Panizi; o ilustre Padre Catarino; o
dedicado pregador da Igreja Assembleia de Deus, Pastor Dedê; a ilustre
professora Júlia Patta e o inesquecível Pedro de Oliveira Filho e a sua
Assunção.
Esta, uma pequeníssima amostra de cidadãos e cidadãs, entre
tantos outros a ser nominados, que merecem nosso respeito e nossa reverência.
Amo Ariquemes. Minha segunda terra. Chão que gerou um dos meus
filhos e fez homem a outro e que até hoje os acolhe. Parabéns por trajetória
tão auspiciosa, aos 44 anos de emancipação, como exemplo de dinamismo e
progresso para o Brasil.
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