Segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023 - 11h26
A mídia faz o maior barulho quando uma bomba ou míssil
russo atinge uma área urbana e mata três ou cinco civis na Ucrânia em uma
‘guerra declarada’ pela Rússia. O fato vira manchete no mundo inteiro. Ou
quando mata um repórter estrangeiro bisbilhotando uma área periculosa, em outro
pais, sem autorização para isso, como ocorreu ano passado na Amazônia.
Essa mesma mídia está fazendo o maior escândalo com os
famélicos ianomamis ‘importados’ da Venezuela para o Brasil, para servirem à
causa de um lado da política brasileira para atacar o outro lado.
Mas é esta mesma mídia, com zero indignação, que glamouriza
os crimes e os bandidos de todos os dias, para obter audiência nos milhares de
programas policiais espalhados no país, imitando o Datena e outros ícones do
crime espetacularizado na televisão.
Para esta mídia hipócrita, as 40 mil mortes violentas e os homicídios
que acontecem anualmente no país, que agora, pelo ritmo que se ver, voltará aos
60 mil do passado, não merece a mínima indignação ou repúdio, nem a menor
compaixão pelas vítimas decorrentes desta barbárie.
Os governos, as instâncias do judiciário, o parlamento e o
independente Ministério Público, tão surdos, cegos, lenientes e, às vezes até
coniventes com criminosos de alto coturno, deveriam pelo menos, usar a
expertise e a tecnologia criada para montar boletins diários de quantas pessoas
morrem e se contaminam com o coronavírus, para mostrar a quantidade absurda de mortes
da guerra civil brasileira não declarada, mas conflagrada nas ruas e morros das
cidades assim como no meio rural. Além ainda, dos óbitos decorrentes de doenças
evitáveis e tratáveis.
Os mortos a tiros e facadas, os executados com pena de
morte sentenciados pelo Tribunal do Crime, mais célere e eficiente que a
justiça dos senhores Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Roberto Barroso,
Ricardo Lewandowski e Edson Fachin entre outros, sempre muito ocupados correndo
atrás de quem duvida das urnas eletrônicas, do resultado das eleições de 2022,
de quem diz que o presidente da República é o que é, de quem protesta e expõe
descontentamento ou de quem não gosta deles ou de quem eles não gostam. E,
agora, mais ocupados ainda em vigiar o que cada brasileiro pensa e fala, já que
o direito ao pensamento contraditório foi varrido do mapa e das legislações
postas.
Estes supremos senhores não conseguem enxergar a verdadeira
tragédia brasileira produzindo viúvas, filhos órfãos e pais sem o arrimo da
família. Um boletim pelo menos nos mostrará, todo dia, o tamanho da nossa
verdadeira tragédia.
Um boletim diário mostrando as mortes decorrentes de
câncer, dengue, doenças da falta de água tratada e de esgotamento sanitário, de
acidente e ilícitos do trânsito, prestará um grande serviço de conscientização à
sociedade e até às autoridades, na formulação de políticas públicas de combate
ao que, de fato, interessa ao povo brasileiro: ambiente pacífico e saúde neste
país de beleza tropical.
As expectativas não são nada boas em nenhum campo de
atividade para trabalhadores e médios ou pequenos empresários. A não ser,
claro, dos beneficiados encastelados nos palácios dos poderes e dos parceiros
mamando nos peitos gordos e sob a sombra do lado que a vaca deita.
Mas ter esperança, não custa nada, é de graça e alimenta a
alma para fazer o corpo resistir aos açoites da escravidão imposta.
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