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Osmar Silva

Come Sagüi come



Um forte Pé-de-Vento, sacudiu o nosso bosque. E derrubou o nosso velho Jatobá. Como ele era muito alegre, com seus frutos alimentava a muitos e a outros tantos aconchegava em seus galhos, levamos na risada. Na brincadeira. Até festa fizemos. Ele não gostava mesmo de tristeza! Mas quando olhamos o espaço vazio que deixou dá uma melancolia. A verdade é que ele faz uma falta danada. Isso faz.

Nosso bosque estava recomeçando a revitalizar nossas esperanças, as vozes cantantes estavam tirando o travo das gargantas quando, de novo, aquele Pé-de-Vento reapareceu. Ficamos atentos, silenciosos por dois dias. Não ouvimos barulho de queda. Nada. Até que a Coruja nos avisou. Caiu sim, lá no extremo da floresta. Aquele belo pé de Aroeira, vindo lá do sertão, que parecia a mais forte de todas as árvores, caíra do nada e, num instante. Era verdade. A Brisa vinda do lado do Nordeste confirmava. Deus do céu, por quê? Quer acabar com nossa floresta, levando logo as melhores e mais belas árvores desse jardim!

Desta vez não sentimos graça nenhuma. Não cantamos, não fizemos festa. O silêncio foi a ordem impronunciada que vigorou. O que fizemos foi balançar nossos galhos e farfalhar nossas folhagens para deixar cair o orvalho do nosso pranto. Eu, velha Castanheira, embora cercada de amizades de longas eras, gostando de ser o que sou, e satisfeito com o meu lugar nesse jardim, temi pela minha sorte. E se esse Pé-de-Vento ainda estiver escondido em nosso bosque e vier em minha direção? Ele não já levou o velho Jatobá e o forte Aroeira? Hein!

Ainda estava nestas reflexões quando o Sagüi chegou numa carreira afobada, quase sem fôlego e me abraçou. Arrepiei minhas cascas. “Seu Castanheira acabei de ver. Lá naquela curva do rio. Bem lá na curva mesmo, está derrubado o seu Ipê Roxo. Suas folhas bonitas estão espalhadas e os galhos despedaçados”. Minhas seivas congelaram em meus membros. Eu bem que desconfiava. O danado do Pé-de-Vento estava escondido na curva do rio. E dali saiu para levar a mais bela árvore do nosso bosque. A notícia já se espalhou. Ouço os murmúrios tristes de todos os viventes da nossa floresta. Estamos mais pobres. Estão sendo levados os mais belos espécimes. Será que o Senhor está construindo outro mundo em outro lugar? Com certeza é isso. E por isso está levando nossas melhores árvores para enfeitar lá! Será?

Começava a me conformar com esses misteriosos desígnios. Comentei com os do meu quintal que esse Pé-de-Vento estava passando muito perto de mim. Fiz, resignado, minha oração ao Criador. Que seja feita a Sua vontade. Pois mal retomei o fôlego e vi. Desta vez eu mesmo vi. Não foi nem a Brisa nem o Sagüi que me disseram. Eu vi o Pé-de-Vento chegar e, sem mais nem menos, levou a bela, engraçada e conversadeira Seringueira. De bem do meu lado ele a levou. Aquela, que com seu leite, a muitos alimentou. Os filhos de Adão e Eva a chamavam de Almecinda. Ai de mim. Come Sagüi come. Come as minhas castanhas para que me sinta vivo. O meu quintal está chorando. Manda Senhor, o sol da manhã para colorir o nosso bosque.

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Fonte: Jornalista Osmar Silva/DRT 1035 - sr.osmarsilva@gmail.com

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