Segunda-feira, 21 de março de 2022 - 10h32
“Fazia
calor, ele usava terno escuro e estava perfumado. Desceu do carro preto
blindado em companhia de dois seguranças e foi recebido no quintal de sua casa
por outros três, que usavam colete à prova de balas e estavam armados. A
propriedade, que fica no Setor de Mansões, à beira do lago Paranoá, poderia
passar por um clube, a contar
pela piscina, com uma onça preta de cerâmica bebendo água e uma edícula cheia
de boias coloridas em formato de macarrão. Ou por uma fazenda urbana, com uma vista espetacular da cidade,
árvores frutíferas, viveiros, patos, galinhas, cachorros, gatos, emas e até um pônei”.
(ÉPOCA, página 16, 25/02/2019)
Não! Não é um astro da música pop internacional nem uma
estrela brilhante de Hollywood que está chegando em casa. Tampouco é a casa de
um superatleta do futebol brasileiro ou americano. Nada disso. E menos ainda a
morada de um oligarca russo, embora tenham algo em comum. A cena descreve
simplesmente um servidor público do Brasil chegando em casa, após mais um
exaustivo dia de trabalho.
A diferença dos demais servidores, é que se trata de um
ministro do Supremo Tribunal de Justiça do Brasil. Ele, e outros dez membros da
Corte, com moradas de igual nível de vida, estão no ‘topo do sistema’ como definiu, em certa ocasião, o ministro Gilmar
Mendes, o personagem e a sua ‘humilde
residência’ descritos acima.
Afinal, ganhando R$ 45.853,13(valor de 2021) por mês, mais
que o presidente da República, que ganha somente R$ 30.934,00. Menor que o menor
salário de ministro do STF, no caso, o do magistrado Nunes Marques que é
somente R$ 34.054, 21.
Afinal, eles têm ou não tem motivos para se acharem no ‘topo do sistema’ e fazerem todas as
merdas que fazem dando uma banana para o cidadão sem se preocupar com ninguém?
Claro que tem! Todos sabemos que o cargo vitalício e
irremovível traz vantagens muito além dos salários, e múltiplos benefícios como
os descritos acima: carros blindados, seguranças armados, viagem em
primeiríssima classe com diárias ricas para qualquer parte do mundo. E tudo
fruto de leis, regras e ações de interesse próprio, cravadas nas costas do cidadão-contribuinte
sem ser consultado ou sequer ter conhecimento. Vantagens que nem o presidente
da República tem.
Os membros do Poder Judiciário brasileiro são
patrimonialistas. Como servidores públicos eles auferem status de vida similar
à de grandes empresários e oligarcas do país e do mundo.
Por outro lado, o Senado da República, um clube de
privilegiadíssimos 81 sócios, é o Poder Moderador e de controle do Supremo
Tribunal e do Poder Judiciário. Mas há décadas renunciou ao seu papel
fiscalizador. Esqueceu da sua função de corrigir e punir os desmandos das
cortes superioras. E por que?
Simples: em todas as legislaturas, pelo menos a metade têm
dívidas pendentes no STF. Respondem por crimes, muitos já julgados pelas cortes
inferiores.
Assim, a Corte Maior é quem tem o controle. Qualquer ato,
ação, lei em desacordo com o interesse de qualquer dos 11 ministros do STF não
prospera.
Se algo passar, processos saem das gavetas ou de debaixo da
bunda dos homens do ‘topo do sistema’.
Eis a razão pela qual centenas de pedidos de impeachment ou
inquéritos relacionados a apurar condutas impróprias contra qualquer dos 11
membros do Clube Maior da Justiça do Brasil não andam, não prosperam e logo são
enterrados nos mais profundo dos abismos. E se alguém insistir, vai parar na
cadeia por ‘atacar a democracia’.
Desta forma, os dois poderes andam de braços dados. Ninguém
mexe com ninguém. E os dois se dão bem. Afinal, os senadores e os deputados da
Câmara Alta também são patrimonialistas.
O Parlamento ganhou, com apoio do STF, simplesmente R$ 5
bilhões para gastar na política este ano. Isto inclui, entre outras coisas, até
compra de imóveis. É, você sabia disso?
Pois é. Cada senador ou deputado federal custa, por ano, a
bagatela de R$ 24,7 milhões por ano. Contam com R$ 106 mil por mês para
contratar(nomear) até 25 assessores. Estes, somados com os assessores de
carreira, formam uma quantidade de gente e de custo superior à média das médias
empresas do país.
E, ainda, cada senador e deputado federal ganha R$
33.763,00 por mês além da enorme lista de privilégios e vantagens financeiras.
Mas só isso não basta: todos sabemos que utilizam o cargo e o poder de voto e
de veto, de emendas impositivas e de barganhas por cargos, para obterem muito,
muito mais.
E tudo isso cravado como uma faca em nosso pescoço. Afinal,
o ambiente público e político são bons espaços para se ficar rico ou
multiplicar fortunas.
Estas são as razões pelas quais os homens do ‘topo do poder’ exorbitam de suas
funções, invadem jurisdições, precarizam órgãos auxiliares da Justiça, como o
MPF, se impõem até sobre o Poder Executivo, cagam para o eleitor e o povo e não
acontece nada.
Eles têm razão: estamos vivendo um SemiPresidencialismo.
Mesmo que fora da lei.
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