Sexta-feira, 18 de outubro de 2019 - 12h40
A energia elétrica que chega em
nossas casas, particularmente em Rondônia, deixou de ser um benefício e se
transformou numa afronta à dignidade humana. Apesar de ser um bem essencial à
vida, virou uma provocação à revolta e um estímulo ao crime coletivo, por de
estar dentro das casas das pessoas e elas não poderem usá-la em função do seu
absurdo e incompreensível valor, fora do alcance da maioria das pessoas.
É um instigante prato de
comida diante do faminto que só pode pegar uma colher porque é o que pode pagar.
Então, o que ele faz? Olha para um lado e outro, não ver ninguém, furta mais
uma colherada, e outra e mais outra, para satisfazer, minimamente, sua
necessidade essencial. Não é uma coisa surreal?
Agora preste atenção: esse
furto é previsto pelo Código Pen, mas estimulado pelo governo e o dono da
mercadoria. Tanto que ele não tem prejuízo algum. Tudo o que foi furtado é
cobrado e pago pelos que podem pagar o valor do produto que consumiram,
conforme arbitrado oficialmente.
O suposto prejuízo do furto
praticado pelo João é pago pelo José que não furtou nada de ninguém. É justo
isso? Claro que não! Até porque José, que não furtou nada de ninguém, está
pagando pela conduta de João, que foi quem, de fato, furtou sob a complacência
oficial.
Mas por que João tem essa
conduta? Ele é criminoso? Não!!! Ele é um trabalhador brasileiro como milhões, que
sobrevive com a metade ou um pouco mais que o mísero salário mínimo nacional. Ele
não tem condições de pagar a quantidade mínima de energia elétrica essencial à
sua vida.
E não paga porque o próprio
governo, que tem o dever de atender as necessidades essências dos cidadãos,
elevou de tal maneira o valor do produto e aviltou o valor dos salários de tal
forma, que os Joãos perderam a condição de atender essa necessidade básica à
vida.
Esses dias em nosso estado, em
evento sobre política mineral com a presença do ministro das Minas e Energia,
Almirante Bento Albuquerque, o governador Marcos Rocha tratou, em conversa
reservada, sobre a questão da altíssima tarifa da energia elétrica que revolta
a população de Rondônia e de outros estados.
Mas tarde, sem explicar o teor e o resultado da conversa com
o ministro, fez a seguinte manifestação em sua rede social:
“Uma energia barata, com tarifas módicas e a
prestação de serviços dignos é o único caminho para um Estado que almeja
tornar-se grande e atender com dignidade e qualidade a população ... Desde o
início do ano estamos enfrentando o exorbitante valor da energia elétrica. Um
absurdo que atenta contra nossa dignidade”.
Corretíssimo o raciocínio do governador. Mas só isso não
basta.
Por seu turno, a Assembleia Legislativa toca uma CPI para
apurar responsabilidades na conduta da prestação de serviços e das relações da
concessionária Energisa com a sociedade. Pode ajudar corrigir falhas. Até já
apontou algumas. Mas não derruba o valor da tarifa. Não resolve o problema dos
Joãos
O governo e a Assembleia demonstram preocupação com o
problema. Mas se quiserem fazer alguma coisa de fato, para o João parar de
furtar uma colher de comida? Dou uma sugestão: derrubem o valor do ICMS,
um imposto do estado, de 20 para 5%, não resolve, mas ajuda bastante a
mitigar a fome do João.
Dou um exemplo: tenho nas mãos uma conta de R$ 864,00. Só o
ICMS é R$ 158,65. Com 5%, seria R$ 43,20 e o João economizaria cerca de R$
115,00. Já seria uma boa ajuda. Concreta, reta, sem demagogia.
E deixa os tributos, taxas e encargos federais para à bancada
federal resolver. Como por exemplo, derrubar a taxa de distribuição,
que é de 18,22%, para também, 5% por sermos estado produtor de energia elétrica
com três hidrelétricas instaladas. E não ter que pagar praticamente
outro ICMS. Quem aguenta?
Deixa para deputados e senadores, sob a vigilância da
sociedade, ações que evitem novas punhaladas nas costas do combalido
consumidor. Como tentaram fazer, junto à Anell, estes dias em mais uma
provocação à exasperação coletiva. Quando a boiada estourar, ninguém segura.
Osmar Silva – Jornalista – Presidente da Associação da
Imprensa de Rondônia-AIRON – sr.osmarsilva@gmail.com – WhatsApp
69.99265.0362
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