Terça-feira, 11 de abril de 2017 - 09h37
No mundo da minha infância, era assim: lugar de homem não era na cozinha. Cada vez que eu, meus irmãos ou meus primos entrávamos lá para bisbilhotar ou beliscar alguma coisa, recebíamos fortes cocorotes na cabeça, desferidos por mulheres de nós duros nos dedos. Com estrelinhas brilhando na dor, ouvíamos vozes gritando a expulsão.
- Sai daqui moleque! Cozinha é lugar de mulher! Vai cassar o que fazer!
Nossa participação ocorria fora da cozinha. Tinha era que pegar o facão e o machado, cortar, rachar a lenha e empilha-la ao lado do fogão de barro. E de levantar no albor de todos os dias, para pilar meio saco de arroz com casca até deixá-lo limpinho, branquinho.
Tinha mais: limpar o pilão e pilar o café torrado, em imensas panelas de ferro, de onde saia em forma de um beiju preto, grudento, brilhante, cheiroso. Esfriava um pouco e ia para o pilão. Saí de lá em pó depois de muito tum, tum, tum e alguns calos nas mãos.
Ainda não acabou. Agora era preciso lavar, enxugar e secar o pilão e as mãos-de-pilão, para mais uma tarefa: pilar a carne de sol assada na brasa e desfiada, misturada com farinha seca de mandioca, branca, até virar uma paçoca cheirosa e deliciosa para dá sustança no café da manhã.
Uma ou duas vezes por semana, havia a tarefa de pilar grãos de milho até transforma-los em fubá para fazer o cuscuz. Uma montanha de massa amarela úmida, equilibrada num prato de metal amarrado por um pano e posta para cozinhar numa panela de água quente.
Hum! Que coisa gostosa! Mais tum, tum, tum até a gente cortar os calos das mãos com afiadíssimo canivete amolado, com esmero, em pedra-de-amolar.
Por fim, em alguns dias da mesma semana, chegava a vez de pilar o arroz descascado até virar pó. Para quê? Para fazer cuscuz de arroz, alto, branquinho, cortado em fatias, com manteiga e umedecido com leite de côco catolé(babaçu) ou de vaca, de ovelha, de cabra. E até leite de jumenta, para apreciadores. Delícia na boca e beleza nos olhos.
Estas tarefas no pilão eram executadas por até quatro pessoas ao mesmo tempo. Num tum, tum, tum frenético, ritmado, musical, alegre.
A habilidade consistia em retirar a mão-de-pilão antes da outra descer com todo vigor, para moer o que encontrasse pela frente. Matéria ou mãos e dedos. Éramos hábeis nesse mister.
No mundo da minha infância era assim a participação de homens na cozinha. Na cozinha, não! Para a cozinha. Isto sim.
E menino virava homem antes do nascer do sol. Tempo em que homem era homem e mulher era mulher. E só.
OsmarSilva – Jornalista – Presidente da Associação da Imprensa de Rondônia-AIRON – sr.osmarsilva@gmail.com
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