Domingo, 8 de fevereiro de 2015 - 12h18
Não há mais o que esconder. O Estadão está agonizando. O jornal mais combativo das décadas 80 e 90 está ha vários dias sem circular. Isto após diversas interrupções, nos últimos tempos, em sua periodicidade por falta de papel e até tinta. Agora, diz-se, a impressora está quebrada.
O prédio moderno que foi símbolo de punjança e era visitadas pelas mais altas autoridades de todos os poderes do estado, cujo dono era cortejado e temido, está vivendo a decadência e o abandono. A redação ampla e fervilhante de antes, os gabinetes informatizados cheios de trabalhadores da comunicação na azáfama da produção diária entre telefones que não paravam de tocar, estão vazios e silenciosos, na penumbra das poucas lâmpadas.
Entre as paredes e corredores da redação, da administração, da diretoria, da distribuição e do amplo salão de impressão, poucos, raros e dedicados funcionários, uma faxineira ali, um trabalhador acolá. Irmanados na mesma melancolia e no mesmo atraso salarial. Sem expectativas de futuro, esperam um milagre.
A mesma impressora, com seus vários compartimentos, que expelia diariamente milhares de exemplares com cadernos coloridos e páginas com manchetes quentes, que circulavam pelo estado inteiro, ainda está lá, por trás de vidros que ainda encanta visitantes. Agora, a portentosa máquina, razão de orgulho, está silenciosa e sem tinta nas veias. O jornal, uma metralhadora temida, sempre matraqueando contra quem o ignorasse, não assusta mais ninguém.
Os leitores do O Estadão, muitos, milhares daqui e de fora, estão órfãos de defesa. Não falarei das razões e motivos que o levaram a essa condição falimentar. Não, pelo menos agora. Mas da falta que está fazendo, da lacuna que está deixando, do prejuízo que está causando à sociedade e à democracia, a sua ausência. Todos perdem quando um veículo de comunicação deixa a trincheira. É menos luz sobre os que agem nas sombras, se locupletam de coisas públicas, se juntam em organizações criminosas. Os governos perdem um importante vigilante de suas mazelas, os empresários perdem valoroso porta voz de suas causas, o povo perde a defesa primeira de suas dores e sentires.
Acho, sinceramente, que temos que ter uma lei que proteja e garanta a permanência de veículos de comunicação. Pode até quebrar, falir. Os efeitos e consequências do que gerou o quadro negativo, devem ser realmente creditados e cobrados dos donos e gestores. Mas um instrumento legal deve haver para amparar a continuidade da dupla função social do veículo garantir empregos, dá continuidade aos serviços que presta à comunidade, mais, sobretudo, de assegurar a livre manifestação da sociedade. Não é a imprensa o quarto poder? Então temos que protegê-la como pilar indispensável à consolidação de um estado de direito.
Rondônia, que já teve o Alto Madeira, O Guaporé, A tribuna, O Estadão, O Diário da Amazônia, A Folha de Rondônia, O Imparcial e até O Parceleiro circulando diariamente, vem pouco a pouco, perdendo seus instrumentos mais valiosos de defesa. Só nos resta agora, o Diário da Amazônia e o Alto Madeira. Este, graças à comovente dedicação e persistências dos irmãos Tourinhos, que o vem tirando de um quadro de dificuldades e chegando aos cem anos de circulação como um dos mais longevos do país. Um veículo que é a principal testemunha da evolução histórica desse pedaço do Brasil. Ainda bem, graças a Deus. E, registre-se: o meio impresso continua sendo o de maior credibilidade no seio da sociedade.
OsmarSilva é jornalista – sr.osmarsilva@gmail.com
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