Sábado, 19 de abril de 2014 - 21h21
Passei a Sexta Feira Santa à toa. Me debatendo entre os valores de hoje e de um passado não tão distante. Queria estudar, pesquisar, escrever. Mas uma vozinha interna, aqui dentro do meu ouvido dizia: ‘hoje não. Hoje é o dia em que nosso Senhor Jesus Cristo morreu pra nos libertar do pecado’. Escutava e via o rosto do Frey Celso, um alemão franciscano que, com a bíblia na mão, marcas de balas no corpo obtidas na segunda grande guerra mundial e o arrependimento na alma do que fora obrigado a fazer para sobreviver, nos ensinava o maior mandamento: o amor incondicional por nossos irmãos e o respeito a quem deu a vida para nos salvar. E assim, atravessei o dia. Na noite anterior fui à igreja com meu filho Arthur Felipe, de 12 anos, oramos juntos e nos penitenciamos das nossas falhas. Estava em paz.
Mas as lembranças reacesas da minha infância pulavam dentro d e mim. E recordava que a semana que antecedia a Semana Santa se chamava Semana Caçadeira. Nela, se tomava todas as providências para abastecer a casa, atender as necessidades da família. Estoca-se tudo, dava-se solução ou andamento aos negócios pendentes. Todas estas providências eram necessárias para se poder congelar as atividades laborais na Semana da Paixão.
Naqueles tempos, não muito longe assim, os valores eram intrínsecos. Não se batia nas crianças durante a Semana Santa, marido e mulher não brigavam. Não se bebia bebida alcoólica e nem se ouvia música do ‘mundo’. Os sons ou eram religiosos ou eram de orquestras executando canções que conduziam ao devaneio ou à reflexão. Nem as farmácias abriam. Na necessidade extrema, o farmacêutico atendia. Fora daí, somente as ‘rezadeiras’ entravam em ação. Certamente, por estarem em sintonia com Deus.
Eu, meus oito irmãos, dezenas de primos e amigos, assim como todas as crianças, adorávamos a Semana Santa. Não só porque não apanhávamos, mas, sobretudo, pela variedade e quantidade de bolos, doces, chocolates e pratos de toda natureza que eram, meticulosamente, programados para todos os dias da Semana Santa. E nada de carnes. Só coisas novas e diferentes que, nós crianças, levávamos para os vizinhos. E deles, voltávamos com amãos cheias e os dedos lambuzados de provar de tudo. Uma festa!
À noite, as orações da Via Sacra com todas suas estações montadas nas janelas das casas da rua, da comunidade. E, ao final, as guloseimas com refrescos de todas as cores e sabores. Eu adorava o de baunilha. E as brincadeiras no terreiro das casas alumiadas pela fogueira crepitante. Ao fim da noite, as histórias de Jesus, de Deus, do Espírito Santo e da Virgem Maria contadas pelos mais velhos. Ouvíamos e dormíamos nos colos da nossas mães.
Acordávamos com os gritos de ‘mata o Judas!’, ‘mata o Judas!’ e com o temor de apanhar por todas as desobediências cometidas na Semana Santa. Mas isso já é outra história.
Foi assim a minha infância. Esse mundo ainda nãose perdeu. Ele está vivo dentro de mim.
OsmarSilva – jornalista – sr.osmarsilva@gmail. com
Língua de Fogo – O desafio do Léo em reeducar o povo e manter a cidade limpa
É mais fácil erguer um prédio, abrir uma estrada, construir uma escola ou fazer uma ponte, do que mudar velhos e arraigados costumes, onde a boa edu
Língua de Fogo – Hora das facadas da maldade nas costas do povo
Sexta-feira gorda de Carnaval, último dia útil de fevereiro, 28.Oportunidade boa para os parlamentos municipais, estaduais e o Congresso Nacional, r
Língua de Fogo – Decano do STF não é luz, é sombra que desonra a Corte Suprema
A luz cadente de Ulysses Guimarães continua a iluminar cabeças e corações de boa vontade no Brasil:“A voz do povo é a voz de Deus. Com Deus e com o
Língua de Fogo – STF: origem das piores notícias que atormentam o país
Eu lutei contra a Ditadura Militar de 1964. Quando fecharam o Calabouço, no Rio de Janeiro, um restaurante/escola, em frente ao Aeroporto Santos Dum