Quinta-feira, 19 de janeiro de 2012 - 11h40
Outro dia me deparei com uma referência do governador Confúcio Moura em seu blog invocando os méritos do médico em favor do gestor Confúcio. Referia-se às ácidas críticas do Conselho Regional de Medicina à sua gestão na saúde. Ele lembrou, então, as dezenas de vezes em que o mesmo Conselho o distinguiu pelas boas práticas médicas. Querendo dizer que se como médico fui bom, como governador também será. É só dá um tempo.
Entretanto não é esse o enfoque que busco nestas linhas. Embora reconheça que o governador enfrenta o desafio da saúde, abandonada por todos os que lhe antecederam, e eu pessoalmente, acredito no resultado do seu esforço. Vou até mais longe ao afirmar que, em breve, o assunto será tratado no antes e depois de Confúcio.
Mas o que quero contar-lhes é sobre um dos desafios que todos, com mais de vinte anos de Rondônia, enfrentaram ao chegar nesta terra “para integrar, para não entregar”: a malária. Ninguém se dava ao desplante de ignorá-la. Se pessoalmente não fosse afetado, alguém do seu meio era: um parente, um vizinho, um amigo. Os médicos então enfrentavam duplo desafio: evitar a picada do anofelino e salvar a vida dos contaminados. Com que armas? Com os parcos conhecimentos genéricos obtidos durante a faculdade – não há uma especialidade em malária – e a reduzida oferta de medicamentos. Na época, basicamente o quinino, nas versões cloroquina e primaquina.
Ariquemes, pela característica de sua colonização abrigando três projetos de assentamentos e consequentemente atraindo muita gente empenhada em derrubar mato sem nenhum critério e orientação, transformou-se na Capital Mundial da Malária. E de óbitos conseqüentes direta ou indiretamente da picada do mosquito. Rara casa havia que não houvesse alguém arreado. Foi nesse cenário que os médicos Confúcio, Alice(sua mulher) e Irani Rosique floresceram e aprenderam, de fato, a realizar o tratamento e o combate à malária. Aprenderam a distinguir uma Falciparum de uma Vivax. A controlar os efeitos colaterais danosos do quinino no organismo, principalmente no fígado do paciente. Perderam algumas e salvaram milhares e milhares de vidas com uma perícia que só médico de campo de guerra consegue desenvolver.
Em seguida chegaram outros pioneiros da medicina em Ariquemes: Dr. Délcio, Dr. Rodrigues(cujo filho é delegado e o atual secretário estadual da saúde), Dra. Aparecida e o Dr. Sérgio Andrade. Este, excelente cirurgião que salvou a vida do meu filho que chegou da Argentina quase morto de malária, que pegou aqui e eclodiu lá, quando fazia o 6º período de medicina em Rosário. Confúcio é uma espécie de patrono de toda esta geração de médicos pioneiros que sofreram, eles mesmos, suas própria malárias. Assim como este escrivinhador, que, por 14 vezes, foi derrubado pelo senhor ou senhora Anofelino. Hoje o meu fígado não agüenta mais o impacto das pimentas que tanto amava.
Foi nesse tempo e neste campo de luta que Confúcio Moura obteve o reconhecimento do Cremero pelas boas condutas médicas. Crédito que, agora, invoca na condição do governador que quer dá solução à crônica doença da saúde deixada agravada pelos antecessores. Mesmo com os protestos do Conselho, reconheça-se. Mas por que será mesmo que nenhum membro do órgão aceita o desafio de comandar a saúde de Rondônia? Mesmo convidados publicamente?
Fonte:Osmar Silva
sr.osmarsilva@gmail.com
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