Segunda-feira, 19 de agosto de 2013 - 05h05
O gostoso não era a aula. Era o fim da aula. Da última aula. Melhor ainda por ser o momento mais esperado. Chato era quando o professor não podia ficar. Todo mundo ficava triste. Pra compensar, íamos pras pedras do quebra mar do Aterro do Flamengo onde, aos poucos, a conversa fluía. O bom não era o almoço caseiro onde se consumia o cardápio do dia, o mesmo pra todo mundo num bandejão de metal. Era o papo que rolava. A sobremesa nem contava. Contava a conversa espichada até o último minuto antes de vazar para o trabalho.
Mas de todos os dias da semana, a sexta feira era o mais ansiosamente esperado. Algo especial como uma convocação pra uma passeata, um convite, um programa ou simplesmente um acerto para mais uma sessão de “Concertos Para a Juventude” no Teatro Municipal, de graça, onde assistíamos no domingo de manhã, a mesma peça mostrada para a burguesia de paletó e gravata na noite de sábado. Ou então íamos para uma velha e democrática gafieira no primeiro andar de um velho prédio da Praça Onze encima de um cine poeira. O fato é que a sexta feira era cheia de expectativas e novidades.
Era na aula, nos intervalos durante e após as explicações dos professores que discutíamos com os nossos mestres e decidíamos o nosso futuro e o futuro do Brasil. Alí, no Calabouço, um imenso barracão com telhado de zinco, encravado num espaço quase em frente do Aeroporto Santos Dumont, às margens da Avenida Beira Mar, no Rio de Janeiro, era o principal e mais efervescente ponto de encontro dos estudantes secundários e universitários do Rio de Janeiro na década de 60. E, ao final de cada aula, os assuntos eram postos em dia. Líamos matéria de jornais e discutíamos política até o primeiro bocejar.
Os bilhetinhos de Jânio Quadros, as reformas de base de João Goulart, a reforma da Educação de Alfredo Buzaid, o peleguismo dos sindicatos, os ataques e provocações de Carlos Lacerda e, posteriormente, com um pouquinho mais de cuidado, sob vigilância, os atos da Revolução Gloriosa de 64 e a execrável “Marcha da Família com Deus Pela Liberdade” das direitas conservadoras e entreguistas puxando o saco dos militares, eram o alvo de nossas discussões.
Tudo isso formava o cardápio de uma geração que aprendeu discutir e fazer política na escola. A geração que, em 68, foi às ruas onde o estudante Edson perdeu a vida. A geração que deixou o DNA reaparecido nas “Diretas Já” e no “Fora Collor”. E agora resuscitado nos movimentos e protesto de rua. Por isso louvei no artigo “O subversivo” esta geração que enterrou bandeiras e hipócritas regulamentos partidários. Geração a quem entreguei o bastão que há tantos anos carregava.
Fico triste em ver que estou terminando o curso de direito sem nenhuma discussãosinha que seja sobre os eventos mais funestos que agridem a sociedade e a dignidade do cidadão. Em muitas ocasiões provoquei professores buscando manifestações sobre julgamentos no Supremo Tribunal de Justiça, sobre decisões nos diversos fóruns do país, sobre as ondas de escândalos que enxovalham Rondônia e envergonham nossa gente. E nada. Eles parecem não viver nesse mundo. Estão anestesiados. Alheios. Zumbis.
O ambiente acadêmico de hoje demonstra não ter compromisso com a democracia, nem com os valores e tampouco com a formação ética da sociedade. Não debate, não discute, não produz nada, não pesquisa e nem faz extensão. Não tem compromisso social com ninguém nem tampouco com a sociedade. É apática, distante e até irresponsável. Nas particulares então, é que a coisa piora. Mas, na mídia, se intitulam construtoras do futuro. Que futuro? Estão preocupadas mesmo é com o lucro. Avarentamente. E só.
Entrei na faculdade menino, o coração pulando de ansiedade, cheio de esperanças. Saio com um diploma, uma grande decepção e uma maior ainda, interrogação: onde os jovens se preparam para assumir as rédeas da nação? Certamente não nas salas acadêmicas que vejo. Ressalto as raras exceções, num ou noutro mandato dessa ou daquela instituição. De resto, gostaria, e muito, de ser desmentido.
OsmarSilva – Jornalista – sr.osmarsilva@gmail.com
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