Segunda-feira, 17 de agosto de 2015 - 22h02
A Eletrobrás Rondônia está iniciando expansão de rede de energia elétrica que levará luz para dez mil moradias em Porto Velho. Muito bom. Seria melhor se fosse para trinta mil, que é provavelmente, a demanda reprimida da Capital de Rondônia. Melhor ainda se tratasse os futuros clientes com algum grau de respeito enquanto não fornece o serviço e o produto que todos reivindicam e merecem.
Ao contrário disso, esses futuros clientes são tratados como marginais que, deliberadamente, furtam energia elétrica, causam prejuízos à empresa e penalizam consumidores regulares a pagarem mais para cobrir os custos dos desvios.
É com essa visão que a empresa mantém permanente programa de combate aos ‘gatos’ que furtam a sua energia. E ela está certa. Mas deveria separar o joio do trigo. E quem são esses delinquentes que teimam em praticar esse delito penal?
Na absoluta maioria, trabalhadores e trabalhadoras humildes que não têm casa própria, vivem em áreas invadidas e sobrevivem com ou menos que o salário mínimo. Os excluídos.
É essa gente que vem construindo, há décadas, a expansão urbana de Porto Velho. Uma Capital que desconhece planejamento urbano prévio. E que sofre com os pífios ajustes feitos depois.
Quem não se lembra do advogado Agenor de Carvalho abatido na luta em defesa dos sem tetos urbanos? Hoje ele é o nome ao bairro que ajudou a criar na periferia da cidade. Uma invasão.
E a atrevida e valente Raquel Cândido que batia até em polícia em defesa dos sem teto? E o deputado Índio? São nomes que estão na memória e na história da cidade. Gente odiada e perseguida pelos latifundiários urbanos que travam o crescimento da cidade. Gente que defenderam os mais fracos. Indiscutivelmente, os fundadores da maioria dos bairros de Porto Velho.
Hoje, pessoas igualzinhas àquelas, lutam pela posse de terrenos abandonados por especuladores urbanos. E atraem políticos, polícia e o poder judiciário pela simples pretensão de ter um cantinho para morar. Gente que vive com a trouxa na cabeça, arrastando crianças e velhos de um canto para outro.
Se você duvida, pergunte, procure saber, especule. Como nasceu a Zona Sul? A pujante Jatuarana e os bairros do seu entorno? E a Zona Norte com sua próspera Amador dos Reis e os bairros que compõem a maior região urbana da cidade? Foram os donos que lotearam suas terras e deram para os pobres? Ou os governos desapropriaram, abriram ruas, botaram luz e água e deram para o povo morar? Ou foi o Incra que fez essa caridade?
Não foi nada disso. Foi essa gente humilde que construiu tudo isso com suor, lágrimas e sangue. O poder público chegou muito depois. Devagarinho. Atrasado, como sempre.
A exceção foi o bairro JK, com terrenos distribuídos pelo prefeito José Guedes. Há décadas. E, agora, a ação do governo do estado construindo milhares de casas, criando condomínios e bairros. Mas ainda pouco para atender demandas reprimidas por tantos anos.
Portanto a Eletrobrás deveria cortar o rabicho dessas invasões somente quando chegasse com a rede de energia na porta do cidadão. E não antes. Com um verão desses, é até crueldade. Ele não faz o rabicho por gosto. Ele quer uma ligação decente, com relógio e conta para pagar. Ele precisa de energia para viver. E a Eletrobrás tem o monopólio e a obrigação de atender à esta necessidade do cidadão.
E vá procurar ‘gatos’ nos centros nobres da cidade. Lá, no meio dos grandes, estão os grandes felinos.
OsmarSilva – Jornalista – sr.osmarsilva@gmail.com
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