Os inquilinos

O “Velho Guerreiro” trombeteava todo domingo no Programa do Chacrinha: ‘quem não se comunica se trumbica’. E o povo sentencia: ‘quem tem boca vai a Roma e fala com o Papa’. Essas expressões traduzem a importância da comunicação. Da informação objetiva, clara e verdadeira. Principalmente por quem exerce atividade em nome de outrem. Precisa prestar contas de feitos, esclarecer, justificar. É o caso dos governos, dos chefes de poder, dos entes públicos. E sabem por quê? Por que estão no poder, mas não são o poder. Estão lá postos por nós. Fomos nós que demos as prerrogativas de agir em nosso nome por determinado tempo. É de nós, o povo, que emana o poder que exercem de forma indireta. Está na Constituição Federal de 1988. Portanto o poder é povo, a quem devem esclarecimentos.

Faço essas considerações após ouvir, de todos os cantos, voz unânime criticando o Governo do Estado e Assembléia Legislativa, pondo os dois no mesmo saco. Logo eles, tão antagônicos na atual legislatura. Tudo por conta da lei proposta pelo Executivo e aprovada pelo Legislativo estadual isentando os construtores das usinas do Rio Madeira de pagamento do ICMS. Um imposto que todos pagam. Do mercadinho do bairro ao lojista da Sete de setembro. E que cobram, com lucro, de mim e de você.

O valor do ‘presente’ do povo rondoniense às multinacionais varia conforme quem fala. Entre duzentos e poucos milhões, conforme o deputado Valter Araújo, a quase um bilhão para os vereadores da Capital. Não sei qual é a verdade. Mas sei que, se tivessem usado suas verbas publicitárias para explicar ao povo, - este sim, dono do poder -, a necessidade e as vantagens de doarem seu rico dinheirinho a quem não precisa, certamente não haveria tanta reprovação nem a suspeição de locupletação. Desde que provado o benefício e a vantagem social, a conveniência e justeza da medida. Mas ninguém se preocupou com isso. Agiram como se fossem donos da casa e do cofre. E não como inquilinos por quatro anos.

Mas tem o lado bom. Dizem que as empresas se comprometeram com uma compensação de duzentos milhões para a sociedade rondoniense. Não é lindo! Nós – que somos muito ricos, temos dinheiro sobrando, não temos problema nenhum – damos dinheiro pra eles, e eles, que são bonzinhos, dão dinheiro pra nós. Não é fantástico? A diferença que houver entre essas doações é tão pequena que nem se leva em conta. Coisa de rico. Fica para algum pobre. Uma boa ação. Deus gosta.

Vi no noticiário da tevê um trator derrubando um barraco, entre dezenas, que abrigavam pobres sem teto em Porto Velho. A família chorava o prejuízo e a dor de não ter onde dormir com seus filhos. Falta dinheiro, vontade e decisão política para evitar quadro de tamanha violência como esse. Falta legislador para elaborar lei que autorize o executivo a abrigar essas famílias até a entrega de uma casa construída em regime de urgência, lhes resgatando a dignidade vilipendiada. Não é dever de o Estado promover o bem comum? Por que então dá pra quem tem, tirando de quem não tem? Hein! É deles o poder. Só para lembrar.

Osmar Silva / sr.osmarsilva@gmail.com      

Fonte: Jornalista Osmar Silva/DRT 1035 - sr.osmarsilva@gmail.com
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