Terça-feira, 8 de setembro de 2015 - 10h41
Às vésperas do feriadão de 7 de setembro, ouço no bar da Ângela, os projetos dos trabalhadores. Especulam o que fazer e lembram o que perderam. Viajo com eles. Falam de banhos e pescarias. Onde ir? Alguém sonha: se eu tivesse grana fazia como o patrão que não tá nem aí para o preço do dólar e se mandou com a namorada para a Califórnia. Uma senhora emendou: e minha patroa foi pro Macho Pichu. Se eu também tivesse grana eu ia pra longe. O que é que a gente vai fazer aqui nesse feriadão?
É verdade. Pra quem não pode sair só restam os botecos de todo dia. E as igrejas. Nem o barquinho flutuante do forró do Rio Madeira não existe mais. Como não existem mais as fileiras de barracas com comidas típicas, cervejas geladas e sons diversos. Gente pra lá e pra cá, grito e sorriso de crianças correndo entre o povo, na beira do rio, atrás do barracão da Madeira Mamoré. Jovens e namorados subindo na velha Maria fumaça, fazendo pose, tirando retratos. Acabaram com tudo e deixaram um cenário de abandono, descaso, degradação, bandidos e cracolândia.
Nos anos 80 eu juntava grupos de amigos em Ariquemes e vínhamos acampar nas areias brancas e sombreadas da Cachoeira de Samuel. Veio a usina e nos levou o banho e a bela paisagem e nada deixou no lugar. Passamos a frequentar a Cachoeira de Teotônio e a torcer pelas equipes do festival de pesca de todo verão. Campeões daqui e de fora exibindo Jaús gigantes, Pirapitingas enormes, Surubins e Cacharas, Filhotes e Barbas Chatas. Uma festa estampada nas páginas dos jornais da semana seguinte. Publiquei muitas destas fotos no O Parceleiro.
Um mundo de gente com rede de pesca, anzóis, caniços e panelas. Muitas bacias simplesmente colhendo os peixes que erravam o salto na subida da cachoeira em busca de lugar para desovar e renovar a espécie. Um paraíso. Até quem não sabia pescar colhia peixe caído do céu. Com o boné.
Também nos tiraram a Cachoeira do Teotônio de tantas belezas, tantas farturas, tantas histórias. E nos roubaram as ilhas, calmas de areias brancas, no meio do rio para onde nos levavam barquinhos rabetas alugados que enfrentavam as correntezas com valentia. A curta viagem por si só já era uma grande aventura. Valia o passeio, viesse de onde viesse o passageiro.
Levaram-nos tudo e nada deixaram. Para ser justo, fizeram um arremedo de balneário um pouco mais distante, à margem da expansão do lago. Fizeram até uma prainha artificial. Mas nada lembra do ambiente encantado das cachoeiras que desafiou tantos aventureiros pelos séculos e a tantos encantou nos nossos tempos. Fizeram uma vila abandonada, dentro do mato, se acabando sem nunca ninguém ter morado. E uma estrada de chão tão ruim que é pra você ir somente uma vez e se arrepender.
Da mesma forma nos usurparam a Cachoeira de Santo Antônio. Não tinha a beleza das coirmãs Samuel e Teotônio. Mas era dentro da cidade e acolhia a população que dependiam do ônibus e da bicicleta. Que não tinham condições de buscar lazer mais longe. Suas pedras recebiam pescadores e escondia namorados. E tinha a ilha de um antigo presídio que suscitava estórias, casos, crimes e até tesouros. Aguçava o imaginário popular.
Perdemos a Santo Antônio também. Estamos perdendo tudo. Da mesma forma que perdemos o passeio de trem da Madeira Mamoré. Agora a Maria Fumaça só existe nos cartazes publicitários e no apito que se ouve numa propaganda de rádio. Está como o Marechal Rondon, que virou peça publicitária exposta em Shopping Center. Enquanto seu busto, abandonado numa praça, serve de latrina para os pombos e mictório para bêbados e noiados.
Depois de perdemos tudo, perdemos a identidade. Quem somos afinal?
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