Segunda-feira, 29 de maio de 2023 - 10h31
‘O
Brasil não conhece o Brasil,
O
Brasil nunca foi ao Brasil,
(...) O Brasil não
merece o Brasil,
O
Brasil tá matando o Brasil,
O
Brasil, SOS, ao Brasil,
O
Brasil, tão matando o Brasil,
O Brasil, bye bye bye,
bye bye bye, bye bye bye, bye Brasil’
(Elis Regina em
‘Querelas do Brasil’, de Maurício Tapajós e Aldir Blanc, 1980)
Se alguém com menos de 60 anos disser que conhece o Brasil,
está equivocado, iludido ou vivendo no mundo paralelo da ‘bolha’, onde estão
guardados e protegidos do Brasil real, verdadeiro, que lhes é desconhecido.
Poucas letras ou poemas musicais foram tão premonitórios
quanto ‘Querelas do Brasil’ de Maurício Tapajós e Aldir Blac na
magistral interpretação de Elis Regina, que abre esta crônica. Releia, e pense.
Claro que não estamos falando do Brasil do carnaval, das
festas juninas, do ‘pancadões’, das praias, do futebol e nem dos grandes
rodeios e os mega shows de forrós e músicas sertanejas. Este Brasil do sonho e
da ilusão, eles fazem questão de manter. Até para desviar a atenção do Brasil
que estão desmontando em fatias e recriando à imagem monstruosa de Frankenstein.
Estamos falando de um Brasil que está gritando SOS, como
diz a canção. Um Brasil das liberdades e oportunidades que estão sendo
expulsas. Estamos falando de um Brasil que abdicou do ‘império das leis’ para
assumir o papel de ‘fora da lei’.
Falamos de um Brasil que substitui a harmonia entre os
poderes por ‘fina sintonia’ de cumplicidade entre chefes de poderes. Ambiente
no qual se visitam, se confraternizam com churrascos e bebidas finas, fausto e
luxo. Celebram vitórias e derrotas de adversários comuns. Uma promiscuidade
jamais vista em qualquer república minimamente séria, a qualquer tempo e lugar.
É desse Brasil mergulhado numa crise institucional,
política e financeira, sob a égide de um governo despótico, que se impõe não
pelo respeito, mas pelo medo, pelo terror, que estamos falando, qual o grito
que ecoa na voz de Elis Regina há mais de 40 anos.
Esse Brasil brasileiro, altaneiro, verde e amarelo do qual
nos orgulhávamos, - ‘ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil’
– é passado.
O Brasil que pede ‘SOS’ está agonizando com o fim da
democracia reconquistada com as ‘Diretas Já’ e a Constituinte
de 1988. É um Brasil que chora e sofre, vendo o autoritarismo, o estado
de exceção, prisões em massa por crimes inexistentes, e a perseguição política
a um lado ideológico, tiranicamente avançando.
O pedido de ‘SOS’ grita contra a parcialidade da
justiça e a expansão da impunidade. Grita pelos patriotas sem voz e sem defesa,
presos nos porões da ‘Ditatura Judicial’ em que estamos
mergulhados, e afundando cada vez mais, a cada hora.
O Brasil dos supremos poderosos já decretou o fim da
liberdade, pela voz arrogante e ameaçadora do seu ministro da (in)Justiça, vociferando
a censura contra as redes sociais, ‘de um jeito ou de outro’.
O Brasil de governante que diz uma coisa e faz outra, de
parlamentares ‘mercadorias’ à venda por qualquer preço, de
ministros e juízes que não sustentam amanhã o que dizem hoje, e rejeitam no dia
seguinte o que decidiram no anterior, para atender à vontade do governante.
Este é o ‘Brasil que está matando o Brasil’.
‘Este Brasil não conhece o Brasil. Este Brasil
está matando o Brasil. Bye bye Brasil’
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