Quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019 - 09h30
Ligo a televisão e veja um sujeito discutindo feminicídio.
A certa altura do debate aparece a solução: a sala de aula. O assunto
gravíssimo, uma praga do nosso tempo, só será resolvido na sala de aula.
Tô no trânsito e ligo o rádio. Quero ouvir música, mas me
deparo com um bate-boca quente sobre violência nas escolas, onde aluno virou
algoz do professor. ‘Se o senhor me reprovar ... ‘ e logo vem a solução: tem que
botar polícia na escola, para dá moral.
Chego numa roda da profissão onde e o assunto é a violência
no trânsito. Um deles acabara de ser ‘fechado’ no sinal, reclamou e quase
apanhou. O remédio veio na hora: só a escola pode resolver isso. Tem que educar
o menino desde cedo, sentenciou um dos amigos.
As redes sociais não param de futricar e o jornalismo
explora até o osso, a sandice do ministro da educação, que determinou e assinou
embaixo: cantem o hino nacional, gravem e mandem para o MEC. Pronto! Tá
resolvido o problema da falta de patriotismo do povo brasileiro. Onde? Na
escola.
A Constituição brasileira sentencia que a educação é dever
de todos: da família, do estado e da sociedade. Mas parece que o estado está
usurpando as obrigações da família e da sociedade.
Ao chamar tudo para sí, através da escola, o estado comete
três erros graves: tira o poder da família e a enfraquece quando, na verdade,
tem o dever de fortalece-la. Segundo, isenta a sociedade da sua influência
benéfica ou maléfica na formação de cidadãos. Terceiro, assume uma obrigação
que não lhe compete e que não dará conta.
Nesse caminhar, ainda que todas as escolas do país venham a
ser de tempo integral, deixando as crianças e os adolescentes indo pra casa só
pra dormir e ver a família, não dariam conta do desafio utópico.
Nos tempos atuais, a escola já fará o suficiente se
conseguir manter o aluno em sala de aula, atrair sua atenção para as disciplinas
e obter um bom desempenho nas provas.
Melhor ainda: se estas disciplinas estiverem conectadas com
o mercado de trabalho que o jovem enfrentará ao concluir o ensino médio.
Afinal, entre os dezessete e dezoito anos, ele tem que estar preparado para se
auto manter, ajudar a família e contribuir com a Nação. Tem que ser útil para
sí, para a família e para a sociedade.
Todas as demais ‘matérias’ que hoje se impinge às escolas
são de obrigação da família e da sociedade difusa e não da escola. No máximo,
talvez, uma disciplina de ‘convivência social’ permeando diversas condutas
civilizatórias. E nada mais.
O patriotismo, o feminícidio, o trânsito e tantas outras
‘disciplinas’ até devem passar pelo espaço físico ocioso das escolas, nos
finais de semanas e feriados. Mas como temas ‘extraclasse’, conduzidos por
entidades da sociedade e envolvendo um chamamento a todos os entes do ambiente
social: pai, mãe, filhos, avós e netos.
OsmarSilva – jornalista – Presidente da Associação da Imprensa de Rondônia-AIRON – WhatsApp 992650362 – sr.osmarsilva@gmail.com
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