Segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019 - 09h38
Desde que anunciaram a estreia
da peça teatral “Dom Quixote” no novíssimo Teatro Manchete, no Rio de Janeiro,
nos idos dos anos 60, eu comecei a juntar dinheiro para a sessão de estreia,
sempre muito cara, por contar com a presença de personalidades das artes e da
alta sociedade carioca da época.
A sessão de gala de estreia de
um filme ou de uma peça de teatro, na época, sempre gerava um clima de
expectativa, de acontecimento singular. Principalmente quando trazia, no cartaz,
nomes com os de Bibi Ferreira e Paulo Autran nos papeis principais.
Eu era fã dos dois. Da mesma
forma que era de Elizabeth Taylor e Richard Burton. Então mandei para a
lavanderia o meu melhor terno, aquele no qual eu me sentia elegante. E até
bonito! Afinal, eu tinha só vinte e poucos anos. E a juventude já é bela por si
só.
Quando abriram as vendas dos
ingressos fui dos primeiros a comprar. Por isso, fiquei próximo ao palco. Logo
atrás das primeiras fileiras de cadeiras reservadas para autoridades e personalidades.
Inclusive jornalistas colunistas sociais em alta conta naqueles tempos.
Ibrahim Sued, um dos maiores
colunistas sociais do jornalismo brasileiros, sentou-se bem na frente.
Sessão de gala de estreia de
uma peça ou de um filme, era naquele tempo, de gala mesmo. Coisa chic e muito
séria. Os homens vestiam terno completo, jaquetões e alguns, até smoking. E as
mulheres, mesmos as feias ficavam bonitas em função do esmero nos penteados, na
maquiagem e nos vestidos longos elegantérrimos.
Para um jovem repórter, na
verdade ‘foquinha’, nas beiradas do prato da profissão, estar ali para ver
atuação de astros consagrados, era um encanto. Mesmo só, sem namorada e sem
companhia. Mas o ambiente educado aproximava a todos. E gerava amizades.
Finalmente se fez silêncio no
Teatro Manchete e a peça começou. Paulo Autran dando vida ao Dom Quixote e Bibi
Ferreira encarnando Dulcinéia, personagens do clássico de Cervantes. Não lembro
quem fez o Sancho Pança. Mas lembro que ao final de cada ato os aplausos e os
gritos de ‘bravo!”, se multiplicavam por todos os lados da plateia.
Foi a última vez que os vi ao
vivo. Já os conhecia de outras peças em atuações separadas. Foi um tempo em que
a música clássica dos ”Concertos Para a Juventude”, do Teatro Municipal, e as
grandes produções cinematográficas de Hollywood, dividiam meu lazer com a
literatura da Biblioteca Nacional, onde tinha uma carteira de sócio. Depois caí
na brabeza áspera da vida.
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