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5 ANOS SEM EDUARDO VALVERDE: UMA LIDERANÇA QUE FAZ FALTA


 

Por Antônio Serpa do Amaral Filho

Enquanto o país arde no fogo da crise política e econômica e o desespero começa a tomar conta das principais lideranças do Partido do Trabalhadores, inevitavelmente, por ironia do destino, surge a lembrança de Eduardo Valverde, deputado petista que há cinco anos falecia num acidente de trânsito ao lado do também combativo militante Ely Bezerra. O vazio político deixado com seu falecimento é explicitamente sentido na atual conjuntura, especialmente num cenário onde o5 ANOS SEM EDUARDO VALVERDE: UMA LIDERANÇA QUE FAZ FALTA - Gente de Opinião povo se põe perplexo diante da falta de lideranças que apontem caminhos positivos para superação da crise. O ciclo histórico do Partido dos Trabalhadores parece estar chegando ao fim. A estagnação do governo Dilma Rousselff, as acusações contra a presidência do Senado, na figura de Renan Calheiros (PMDB), e da Câmara Federal, na pessoa de Eduardo Cunha (PMDB), somado com a corrupção na Petrobrás e a condução coercitiva de Lula pela Polícia Federal, pintam horizontes sombrios para a nação brasileira neste momento. Grandes empresários como Marcelo Odebrech revelaram-se os maiores assaltantes dos cofres públicos. Até a prisão do ex-presidente Lula foi pedida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo!

Nesse triste cenário, pieguismo e saudosismo à parte, é perfeitamente necessário dizer que o deputado Eduardo Valverde está fazendo falta. Não por mero culto ao personalismo, mas pela evidente carência de homens que exercitem a arte da política com maestria, dignidade e postura ética, colocando-se como agente político a serviço das demandas sociais, que emergem num volume nunca dantes imaginado, por conta da endemia de corrupção e incompetência administrativa verificadas tanto em nível nacional quanto local. O país nunca precisou tanto de homens decentes, de partidos políticos fortes, de proposições éticas consequentes. 

Enquanto a maioria dos políticos atrelam o exercício do mandato a interesses de grupos já privilegiados dentro do cenário político-econômico, Eduardo Valverde optou pela via que lhe parecia mais radical, no sentido de raiz, e coerente com a vida parlamentar: tornou-se um político de rabo preso com inúmeros setores da sociedade civil organizada no estado. Sua atuação na Câmara Federal era sempre de porta-voz dos movimentos sociais os mais diversos, pautando ora a agricultura familiar, através da associações de agricultores, e para a qual chegou a destina emenda orçamentária de 2 milhões e 400 mil reais, ora a pesca, a PEC sobre os servidores do ex-território federal, a ampliação de oferta de ensino superior na região norte, a regularização fundiária nos bairros periféricos de Porto Velho e de outros municípios e até o Movimento de Combate a Corrupção, dentre muitos outros temas.

Não é porque Eduardo Valverde morreu que se tem nele uma personalidade política que faz falta no caótico contexto em que vive Rondônia e restante do país, mas é pelo que de fato ele construiu com sua ação política, deixando um legado de realizações que atesta para a história a qualidade do trabalho parlamentar que realizou. Portava-se como verdadeiro agente construtor de ideias práticas, canalizador e articulador de projetos sociais condizentes com os reais interesses da polis. Ou seja, Valverde era mesmo, etimologicamente falando, um Político, com pê maiúsculo. A energia advinda do clamor social era o combustível que abastecia o tanque do seu mandato parlamentar, a têmpera do seu espírito republicano e a utopia de participar ativamente da construção de uma sociedade deliberadamente melhor para todos e para todas. Não era da esquerda panfletária. Não fazia do esquerdismo uma bandeira barulhenta e apenas toscamente reivindicatória e denunciativa. Antes, agia como militante eleito pelas bases sociais para representá-las efetivamente no campo da realidade onde emergem os conflitos de interesses. O diálogo permanente com as representatividades dos tecidos sociais era sua fundamental ferramenta de ação política. O socialismo era o seu ideal. Mas o realismo era sua bússola preferida. Valverde sabia que numa sociedade capitalista impregnada de contradições e  históricas injustiças sociais é preciso ter um sonho na cabeça e os pés fincados na resolução dos grandes e graves problemas do povo. Para ele, não bastava idealizar, era preciso realizar, dialogar sempre, operacionalizar os programas administrativos dedicados às temáticas do meio ambiente e desenvolvimento sustentável para amazônia, da reforma agrária, do saneamento básico, do acesso à casa própria, dos movimentos sindicais, dos Povos e Comunidades Tradicionais do Estado de Rondônia, do desenvolvimento da educação, da desigualdade salarial entre brancos e negros, e tantas outras bandeiras de luta, que só mesmo um autêntico político de esquerda é capaz de ostentar com praticidade, lucidez e capacidade de realização. A memória e o legado de Eduardo Valverde continuam de pé. O seu sonho de uma sociedade mais justa e igualitária, no entanto, ficou ainda mais distante, com a crise moral, econômica e política, e a decadência, inclusive, do Partido dos Trabalhadores e a prisão dos seus grandes líderes. Com essa o deputado Valverde não contava! Pelo tanto que fez, diríamos até que não merecia ver tanto destrambelho e imundície política, mesmo que de longe, do além...

 

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