Segunda-feira, 6 de maio de 2013 - 13h41
Depois de muitos anos, voltei para minha cidade. A saudade se dissipara e o ar do pomposo rio dos troncos me fez mais forte novamente. Era o momento de fazer coisas que só por aqui eram feitas com muita satisfação. Entre tudo, ir à feira bem cedo e comer uma tapioca de manhã com aquele café bem forte. Lembro-me de que em tempos idos meus ancestrais me levavam e eu ficava contente em passear por lá. Esse hábito não tardou a incorporar a minha existência. Voltar para casa exigia o desjejum predileto. Quando cheguei à feira, percebi que algo insólito estava a acontecer. Um grupo de um lado com vários cartazes, crianças com baladeiras e a tropa de choque do outro. Um famoso político também se encontrava por lá e conversava com os envolvidos no incidente. Era uma situação estranha e até a fome fez uma pausa. Fiquei muito curioso para saber dos fatos. A precaução, porém, me impediu de aproximar da contenda.
Olhei para o lado e vi o seu velho Manoel, o vendedor de cupuaçu. Depois de cumprimentá-lo – ele mal se lembrou de mim! – perguntei, meio atônito, o que ocorrera. Ele me disse que no dia anterior um urubu tinha atacado o Juquinha na hora do almoço. Foi triste. Os urubus bicaram tanto o moleque que teve que ser internado.
Seu Manoel continuou: “As pessoas, em razão de uma lei municipal, não puderam fazer nada contra os urubus. Os urubus tinham trânsito livre na feira e não podíamos lhes causar nenhum mal. Acontece que a molecada, armada de estilingue, começou de madrugada uma guerra contra os urubus para vingar o amigo. Foi uma chuva de pedras. E alguns urubus morreram. Logo, chegou a ONG que defende os urubus e a tropa de choque ficou entre as crianças e os urubus. O prefeito chegou e o circo foi concluído”.
Aquela situação era de uma tamanha incompreensão. Como poderia uma lei municipal permitir o trânsito livre para os urubus. Como a população poderia aceitar aquela situação, ainda mais quando uma criança foi vitimada pelos bichos do lixo.
Despedi-me do seu Manoel e fui para perto da confusão. E ouvi a voz do prefeito que bradava em tom maior: “Olhem com atenção, vamos criar o vale-urubu para quem adotar um urubu, o valor vai ser suficiente para ajudar na criação e mantença do bicho. Não podemos mais deixá-los à míngua e peço a todos os pais que contenham as crianças. Não podemos fazer nenhum mal aos urubus. A lei os protege.”
De repente, um membro da ONG passou por perto de mim. Eu, já nervoso, perguntei que coisa era aquela de defender urubu. O incauto defensor me disse que os tempos eram outros e que a defesa dos urubus era vital para a sobrevivência da feira. Além do mais, a própria lei protegia os urubus. Fiquei estarrecido com tamanha estupidez. Deixei que ele partisse. Percebi que a feira não era mais a mesma. As pessoas não eram mais as mesmas. Senti-me um estrangeiro em mundo humanamente inumano.
Como alguém que quer mostrar a vitória, o prefeito logo se aproximou de mim e falou cinicamente: “Forasteiro. Por que você se importa com isso? Eles amam o lixo e os urubus. O acidente com o Juquinha foi apenas um acidente. E tudo se resolverá. Os urubus fazem parte da paisagem. Imagina uma feira sem urubus? Não existe. Além do mais, isso dá um monte de votos e dinheiro. Essa ONG ganha recursos para proteger os urubus. E eu agora vou criar o vale-urubu. As crianças vão ganhar corrimboques e no final de ano eu vou para a Disneylândia... No mais, o Povo me ama e a lei me protege”.
Fui para o quiosque, pedi a tapioca e fiquei a remoer na consciência aquele cenário. O café veio meio frio. O reencontro com a face melancólica da minha cidade fez findo o pertencimento e vivo o sabor do perdimento...
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