Sexta-feira, 22 de junho de 2012 - 19h22
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
Enquanto o mundo discute o futuro do planeta na Conferência Rio mais 20, o presidente da Assembléia Legislativa de Rondônia lava a calçada da OAB e o desembargador Vulmar Araújo enxágua a roupa suja do precatório de 5 bilhões de reais na calçada do Tribunal Regional do Trabalho, Jurandir Costa e Fernanda Kopanakis lavam a alma binacional dos ribeirinhos com ambientalismo, arte e cidadania, sacando da cartola do imaginário para as os telões lúdicos, livres e libertários o lendário Mapinguari, (sob a direção Marcos Magalhães) e a história do Calango Lengo Morte e Vida Sem Ver Água, de Fernando Miller, dentre muitas outras atrações. Eis então que de repente uma série de produções cinematográficas tomam de assalto o Vale do Guaporé – tudo monitorado de perto pelo jornalista Zola Xavier, o produtor da Caçambada Cutuba, Caçador de Alfarrábios e Subsecretário de Cultura no Estado do Rio de Janeiro, que veio conferir pessoalmente com quantos paus se faz a canoa de uma grande mostra de cinema no meio da selva onde o Brasil já foi Castelhano.
É o Festival Latinoamericano de Cinema e Vídeo Ambiental levando o fomento da arte cinéfila e das brincadeiras do circo aonde o povo está. Faz parte da caravana uma série de outros produtores e diretores, agitadores culturais ávidos por mostrarem suas obras e personagens aos povos da floresta, ali onde se juntaram negros, brancos e índios na construção de uma estrutura societária secularmente tratada a ferro e a fogo pelos europeus das antigas Lusitânia e Granada. Em contrapartida histórica, a realização desse Festival assume, hoje, o status irônico de uma quilomboclagem mestiça mostrando que realmente não existe pecado do lado, debaixo, do Equador. Os homens da Companhia de Jesus é que abençoaram o pior de todos os que foram levados para aquelas barrancas: o da exploração e espoliação mercantilista.
O prefeito Roberto Sobrinho disse certa vez que os munícipes de Porto Velho vivem de costas para o rio Madeira. Com o Festcineamazônia invadindo as praias tropicais ao longo do rio Mamoré, ficamos todos de frente para o frondoso vale. Não apenas para abrilhantarmos os olhos boquiabertos dos amazônidas bolivianos e tupiniquins que habitam aquelas paragens, mas principalmente para nos olharmos frontalmente, buscando no espelho reluzente e instigante da sétima arte os elementos da nossa própria identidade, neste caldeamento étnico de uma Rondônia cosmopolita, onde somos todos e não somos nada ao mesmo tempo. O circo mágico temperado por luzes, câmeras e ação pode ajudar os rondonienses e rondonianos a superar essa paradoxia. Até porque 10 mil pares de olhos já se embeveceram com as edições anteriores desse projeto e isso deixa efervescências profundas nos tecidos sociais positivamente contemplados. Com a autoridade de quem atingiu a marca de 120 horas de exibição e percorreu mais de 40 mil quilômetros em terras tantas - algumas nunca dantes visitadas por esse setor do mundo cultural -, essa mostra de cinema acabou se transformando num imenso telão montado de frente para o Brasil e para o mundo. Pena que isso não dá crédito para ver Rondônia, por um minuto de fama, ser bem falada no Jornal Nacional.
Glauber Rocha, se estivesse vivo, diria que é o maior e mais genial projeto cultural parido macunaimescamente a partir do empreendendorismo karipuna, da arte cênica inteligente e – latu senso - da produção politicamente engajada. O rondoniense já não está de costas para o rio e para o vale, posicionou-se de frente para o horizonte de uma sociedade melhor.
Com uma câmera na mão, várias telas debaixo dos braços e muitas idéias na cabeça, a arte de Francis Ford Coppola e Charles Chaplin começa sua viagem na noite de hoje, a partir de Guajará-Mirim, desaguando em seguida num banzeiro de cores, imagens e argumentos que atingirá as localidades de Surpresa, Forte Príncipe da Beira, Porto Rolim e Pimenteiras, chegando às plagas quilombolas de Santo Antônio e Pedras Negras, além de aportar em várias comunidades no território da República Boliviana. Ao público serão mostradas as películas The Boléia, Peixe, Garoto Barba, Remoto Controle Remoto, A Rosa, Nas Asas do Condor, Lata, Leonel Pé-de-vento e Quilomblagem.
É a chegança do documentarismo, do cinema de animação, realismo ou ficção aos olhos dos herdeiros daqueles que constituíram os Quilombos do Vale do Guaporé, os negros que vieram de longe, muito longe, em calabouços náuticos desde a grande travessia, ouvindo o barulho do mar, sentindo sede, fome, sofrendo açoite no porão, respirando o breu pestilento e aspirando a maresia. Rufem, pois, os tambores de umbanda: a quilomboclagem cinéfila já vai começar!!
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