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Gente de Opinião

Serpa do Amaral

ADEUS À PÁTRIA DE CHUTEIRA!!


O país passa por uma revolução silenciosa, sem sangue nem tragédias, sem tiros nem mortos, mas com paixão, emoção, choros, lágrimas, tensões, torcida, vitórias e derrotas. É o Brasil no Pan, redesenhando para si e para o mundo um perfil mais condizente com sua condição de "impávido colosso" do continente americado.  Tomando um grande porre de democracia, estamos nos autodescobrindo enquanto nação. Não somos apenas fazedores de gol, estamos descobrindo que somos também grande forjadores de medalhas, muitas inclusive de ouro! Muito ouro. A melhor safra de ouro da história! Salve os guerrilheiros do esporte!

Em meio a esse processo revolucionário não custa nada lembra algumas coisas: já fomos república das bananas. Com o invento da "folha seca" por Didi, o drible desconcertante de Mané e as firulas do Rei Pelé, passamos a ser o país do futebol. Tri-campeões do Mundo. Tetra e Penta. À falta de objeto-símbolo da nacionalidade, a chuteira caiu como uma luva à louvação popular. Daí a sacada de Nelson Rodrigues: a Seleção é a pátria de chuteira! E todo mundo se curvou à sabedoria do Anjo Pornográfico – por óbvio. O futebol não está apenas nos gramados. Ele é o principal assunto da mesa de bar. No local de trabalho, alcança picos de 90% de audiência em dias de muito tédio. O esporte bretão tem lugar garantido no coração do brasileiro. Nem todos os nacionais têm uma religião, mas todos os tupiniquins possuem um time de futebol para torce aos finais de semana. O homem comum brasileiro é incapaz de saber citar três nomes da Academia Brasileira de Letras, mas sabe de cor toda escalação do time tri-campeão do mundo: Félix, Ado, Leão, Carlos Alberto, Zé Maria, Brito, Baldochi, Fontana, Wilson Piazza, Everaldo, Marco Antônio, Clodoaldo, Joel, Rivelino, Gerson, Jairzinho, Paulo César, Pelé, Dario, Tostão, Roberto e Edu.

O futebol faz a alegria do povo, sem dúvida. Mas também é um ópio capaz de dopá-lo. Com o Pan-2007, o povo começa a perceber que pode extrair alegrias da natação, do taekwondo, do atletismo, do vôlei, do basquete, da ginástica e de tantas outras modalidades desportivas. Tem início o fim da Galáxia do Futebol. A pátria não precisa apenas calçar chuteiras, ela precisa, sim, correr, nadar, lutar, remar, saltar, lançar dardos e discos, pedalar e criar, sempre com elegância, inteligência e ousadia. Os guerreiros e guerreiras que defendem o Brasil no Pan sabem que os velhos de Brasília não podem ser eternos. Com a finitude deles, tem fim também a carcomida mentalidade que sustentou até aqui a ideologia do futebol como centro do sistema galáctico. Outro dia, um deles se foi: ACM, o "Toninho Malvadeza", coronel à moda antiga, Senhor de Engenho de todos os recôncavos da Bahia de Todos os Santos. Partiu sem ver o Brasil conquistar sua medalha de número 100 no PAN. O Brasileiro é cordial, mas não é burro. Está re-inventando seus ídolos e suas modalidades esportivas, diversificando seus aplausos e tornando-se mais exigente quando o assunto é cidadania no mundo do esporte. Nelson Rodrigues que nos desculpe, mas a seleção já não é mais a pátria de chuteiras. A seleção é apenas a seleção. A pátria, esportivamente falando, começa a ser construída agora, com a melhor performance brasileira da história do Pan. O gigante começa a despertar do berço esplêndido! E pode até ganhar ouro, se souber superar seus velhos paradigmas! Adeus à Pátria de Chuteira!!

Fonte: Antônio Serpa do Amaral Filho  - Escritor

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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