Segunda-feira, 23 de janeiro de 2012 - 15h29
No vasto Céu inominável, Macunaíma viu uma cidade à margem de um vasto Rio. Lá do alto, percebeu um pedra a brilhar incessantemente em um prédio Karipuna. O Anti-Herói, sem titubear, pensou que se tratava da sua valiosa “muiraquitã”. Decidiu, então, sair do seu retiro secular e ir à Porto Velho procurar pelo seu amuleto.
Após alguns segundos na tormentosa travessia para a mortalidade, Macunaíma acordou no banheiro da Rodoviária de Porto Velho. A fedentina o incomodou tanto que saiu em carreira. O porteiro do mictório ficou assustado e, ao mesmo tempo, encucado por não se lembrar de como uma criatura tão feia havia entrado sem ser notado. O Sem-Caráter logo se espantou com o lugar não aprazível em que havia sido jogado. Sujeira para tudo que é lado. Indagou como um Povo podia aceitar um sítio tão feio e sujo como cartão postal.
Apesar do mal-estar, o estrangeiro não se demoveu da sua empresa. Era preciso seguir. Caminhou um pouco em direção à rua e viu uma enorme alagação. Ruas tomadas pelas águas da chuva engoliam pessoas e autos. Lembrou-se de que não trouxe sua ygara (canoa). Olhou para o Céu e, em vez da luz que inflama o dia, viu gigantesco outdoor. Era o cartaz do lançamento de um filme chamado “A Luta dos Inocentes”. O elenco tinha como personagens Snooker Eight, Épiphanie Gauche, Dewey Duck, Ivan Kolive e Outros, com direção de Walter Disney. Macunaíma não entendeu nada. Mas achou o título interessante. Mesmo assim, seguiu, a nado, em busca do seu destino.
O Homem do “ai que, preguiça!”, ao alcançar solo firme, procurou saber entre os transeuntes como poderia ir à parte central da cidade. Foi informado que poderia pegar um ônibus e se deslocar ao seu destino. Aguardou por um tempo e, todo molhado, entrou no grande coletivo lotado. O calor lá dentro era tanto que se recordou dos dias em que conversava com o Deus Hélio. Olhou para o cobrador e perguntou por que não poderia ser instalado algo para aliviar a temperatura. A resposta foi concisa: “há uma proposta para renovação de toda a frota por ônibus com ar-condicionado, mas tudo depende de mais uns três reajustes no valor da passagem...”. Macunaíma sentiu um pesar pelo tratamento desrespeitoso com aquelas pessoas. Sentiu, mesmo entristecido, que seu traje secara...
Ao descer no ponto desejado, espantou-se com centenas de placas por toda a cidade. Eram avisos de obras em andamento, reformas e mais reformas. Havia até um com os dizeres: “Aqui, uma contra-reforma”. Inquietou-se com aquela situação: “seria isso tudo poesia ou uma tremenda patifaria?”. A sua curiosidade era caudalosa e precisava ser saciada. Resolveu perguntar a alguém para saber o que acontecia em Porto Velho. Um Velho do Ponto disse para o Amazônida: “esta cidade é a campeã mundial de obras inacabadas ou malfeitas. Tudo aqui começa e termina nas calendas gregas. E o que termina desaba ou é de má qualidade. O Povo nem liga mais.”. O Velho se foi e o deixou Macunaíma sozinho a remoer pensamentos.
O espírito do viandante ficou indignado com o abandono dos porto-velhenses pelo cacique local. Decidiu consultar oráculo da cidade. Quando chegou à beira do rio, clamou por uma audiência com o Madeira. Algumas questões precisavam se esclarecidas, mas Macunaíma sabia que só poderia fazer um pergunta:
- Por favor, sábio e denso Madeira, por que existe nas suas margens tanto desrespeito com um Povo tão maravilhoso? Por favor, responda!
- Caro Macunaíma, é bom tê-lo conosco. Saiba que esta Terra foi agraciada pela benção da própria Gaia. O trigo jorra em torrente deste solo fértil. Contudo, um punhado de joio avocou para si o domínio de tudo. Desrespeito após desrespeito, os cidadãos são vilipendiados na sua dignidade. Porém, não se preocupe. Apesar deles, amanhã, esta época será apenas um momento triste que passou. O Joio passará e Trigo passarinho. Quanto ao seu amuleto, o Gigante Piaimã o encontrou e resolveu, após ver tanto sofrimento, doá-lo ao Povo de Porto Velho. São as minhas palavras.
O colossal Madeira partiu e deixou Macunaíma com um ar de esperança que nunca tivera em toda a sua existência. Percebeu, assim, que sua pedra mágica poderia ficar em Porto Velho. Veio-lhe a certeza de que com isso logo o joio seria retirado da gestão pública e do coração de alguns habitantes locais, pois era inapelável que o respeito voltaria a iluminar este Povo com as retinas já tão fatigadas pelo sofrimento.
Nas suas andanças pelo mundo, Macunaína jamais encontrou lugar mais promissor e, ao mesmo tempo, tão abandonado. Como quem pretende desaparecer antes que lhe peçam o voto, ele dá um rápido abraço no Curipira, embrenha-se na mata e vai ao encontro de Ci.
Ao longe, a Banda de Sileno continua a tocar uma música estranha: “Sobra joio? (Na cidade se vê!) / Falta trigo! (O pão cadê?) / Sobra trigo? (Mas o ladrão levou!) / Agora, falta joio! (O ladrão foi preso!?)
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