Segunda-feira, 16 de abril de 2012 - 15h15
O Velho do Porto, após profundo mergulho sócio-político, descobriu um breviário dos políticos porto-velhenses. Trata-se de um manual feito para se aprender a domesticar os que vivem no eterno sofrimento causado pela politicagem e pelo desrespeito. É uma verdadeira cartilha antidemocrática, mas é o instrumento corriqueiramente utilizado por quem deseja amesquinhar os direitos dos cidadãos e fazer riqueza com a coisa pública.
“No primeiro momento, proclame-se de esquerda. Use jeans e blusa vermelha com um homem de barba na foto. Diga-se amante da Democracia, igualdade, respeito, dignidade. Não tolere nenhuma insinuação de falta de Ética. Bata no peito e brade que a causa popular é o seu único objetivo. Compre algumas bandeirinhas e contrate um séquito para acompanhá-lo nas reivindicações.
Quando participar dos cansativos debates, cite como fonte bibliográfica autores com nomes complicados. De preferência, utilize autores franceses, russos ou alemães: Foucault, Gilles Deleuze, Dostoievski, Nietzsche e Schopenhauer. Também mostre conhecimento sobre autores nacionais: Machado de Assis, Cora Coralina, Nelson Rodrigues, Monteiro Lobato, Clarice Lispector e Drummond. Fale de teatro e do sonho de que a arte seja uma ferramenta de construção social do indivíduo.
Mostre sua mulher como boa dona-de-casa. Porém, ressalte os talentos intelectuais dela e de sua densa formação acadêmica. Uma primeira-dama de ferro é sinônimo de voto. Seus filhos devem aparecer abraçados e a brincar com intensa felicidade.
Para conquistar o apoio popular, ataque veementemente à gestão regente. Mostre as mazelas que tomam conta da cidade. Fique indignado e, quando possível, chore por saber que tudo poderia ser melhor. Converse com o Povo. Visite as casas e abrace os moradores. Diga que o tempo da mudança chegou e que as coisas vão melhorar, bem como que, após a vitória dos que amam Porto Velho, Povo será o regente do governo.
Com a eleição, chore copiosamente no palanque. Diga que o Povo, depois de muito sofrimento, tomou o poder e que, a partir de agora, a máquina administrativa terá como única função a satisfação do interesse público. Ressalte que quem sempre viveu às expensas da obtenção de vantagem ilícita perante a Administração tem seus dias contados e que, no primeiro dia do mandato, toda corrupção vai acabar. O homem de bem será o maestro e o paradigma a ser implantado definitivamente no setor público.
Utilize formulas genéricas para justificar as medidas adotadas para composição dos problemas que a sociedade apontar. Não se esqueça de utilizar a primeira pessoa do plural nas comunicações. Eis alguns exemplos: ‘faremos tudo dentro possível’, ‘temos trabalhado muito’, ‘a população precisa entender que nos esforçamos’, ‘alertamos para que as pessoas cooperem’, ‘lutamos para a cidade ser melhor do que antes’, ‘nós fizemos mais e melhor’.
Se essas expressões não surtirem efeito, busque ser poeta ou filósofo: ‘a chuva, que aqui chove, não chove como lá’, ‘Porto Velho ou não, eis a nossa questão’, ‘um Povo que não se contenta com pouco, não se satisfaz com nada’, ‘Porto Velho por todos e todos por Porto Velho’, ‘não percamos o bonde e a esperança, nossa cidade vai melhorar’, ‘Porto Velho luta, logo existe’, “Ame esta Capital ou deixe-a’, ‘A vida em Porto Velho também é sofrimento’.
Faça também uma densa propaganda sobre as suas obras. Ressalte que a sua gestão fez muito mais por Porto Velho do que todas as anteriores: em qualidade e quantidade. Emocione-se a citar as maravilhas feitas na cidade. Peça para alguém, previamente contratado, para elogiar a sua gestão. Coopte pessoas com um linguajar claro, cantante e gramaticalmente ajustado. Como exemplo de fala: ‘estamos profundamente felizes com as obras feitas pela Prefeitura. Nunca alguém olhou para a gente. Agora, tudo mudou e estamos muito satisfeitos com as obras no nosso bairro’. As pessoas precisam acreditar que vivemos tal qual a música: nesta rua, nesta rua tem um bosque...
Fale com alegria e convicção sobre as grandes construções da Municipalidade. Diga que são produtos das mais modernas teorias da arquitetura. Mesmo que seja apenas uma rampa de terra e asfalto por cima com um fosso no centro, chame de viaduto. Diga que esse tipo de obra está em harmonia com a Arte e com a ‘cara de nossa gente’. Não demonstre hesitação em caso de demora na conclusão. Tome a palavra e utilize as lições aprendidas neste Breviário. O Povo vai reclamar e sofrer muito, mas diga que o preço do crescimento é a doação. De forma elegante, cite que o porto-velhense é um Povo grandioso e capaz de suportar as intempéries para alcançar a bonança.
Caso uma das veias abertas da BR Karipuna rebente, diga que isso foi um fato da Natureza e que nem o mais previdente humano poderia supor que essa tragédia aconteceria. Faça um paralelo desse acontecimento com o terremoto no Japão, o alagamento do Rio Branco e do Rio Itajaí ou o deslizamento em Angra dos Reis. As tragédias comovem as pessoas...
No final do mandato, agora com um terno italiano, inicie um complexo e planejado sistema de pequenos empreendimentos: troque o sentido das ruas, crie uma operação tapa-buracos, arborize a cidade, sinalize as ruas e multe os infratores de trânsito. Depois disso, mesmo com toda a rejeição política e a certeza de que dificilmente terá uma nova chance eleitoral, lamente o fato de algumas circunstâncias alheias à vontade não terem permitido a realização de uma gestão melhor. Em comunicado à TV, despeça-se com lágrimas e fale que não faltou empenho para trabalhar por Porto Velho em todos esses anos. E que a oposição tenta macular a sua imagem como gestor e como pessoa. Mencione, ainda, que ama muito Porto Velho e que jamais deixará que pessoas desavisadas a desrespeitem.
Ao final, fuja para Ilhas do Caribe, compre bom vinho francês e prato de caviar. Celebre o saldo da sua conta corrente. Mande informação para a imprensa de que está na Europa para concluir o doutorado em Literatura e que vive em imóvel alugado, sem muito luxo, já que não tirou um centavo dos cofres públicos. Depois de alguns anos, candidate-se a deputado estadual. A imunidade parlamentar é importante para os processos...”.
Após essas linhas, o Homem do Madeira pensativo olha a ampulheta que desafoga as últimas gotas de areia. No horizonte, o crepúsculo do Rei. O tempo presente aponta para a renovação. Não para o coroamento de alguém sem lastro ético, mas para a construção de uma terceira margem do rio, a qual jamais poderá pactuar com o aviltamento e a destruição desta Capital: “Rei! Rei! Amanhã todos descobrirão a sua nudez!”.
Ação Popular: Respeitem Porto Velho!!!
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