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Caçambada de censura atinge o Festival Ferrovia do Diabo


Caçambada de censura atinge o Festival Ferrovia do Diabo - Gente de Opinião

(Manifesto do Movimento Respeitem Porto Velho!)

Porto Velho tem em seu percurso histórico fatos ocultados e negados e que, pela resistência de algumas consciências, vêm à tona e revelam as tragédias e as lutas travadas nesta terra do Rio Madeira.

Citamos, por exemplo, a Caçambada Cutuba, ocorrido em Porto Velho no dia 26 de setembro de 1962. E que a censura fez questão de guardar na cumbuca do esquecimento.  Essa mesma censura que continua forte entre nós e caminha a largos passos para além das Três Caixas d’Águas e dos anos 60.

E, cá, adentramos o núcleo desta prosa, pois o tempo urge e o leitor e leitora aguardam esclarecimentos sobre outro atentado ocorrido na cidade da Bailarina da Praça: a caçambada de censura que atingiu o Festival Ferrovia do Diabo. Vamos aos autos.

Apuramos que organizadores de eventos de Heavy Metal resolveram, em 2016, homenagear Porto Velho em seu aniversário em 2 de outubro e criaram o Festival Ferrovia do Diabo, para apresentação de bandas locais e de outros Estados. Em parceria com a Funcultural, fariam show aberto e gratuito para toda a comunidade, no Mercado Cultural.

A Fundação de Cultura forneceria o palco, com som e iluminação, e os organizadores arcariam com todas as despesas com as bandas: passagens, hospedagem, alimentação, etc. E esse palco seria o mesmo a ser utilizado para as festividades de aniversário da cidade. Para, assim, evitar custos maiores para o Erário.

Nessa toada, o evento ocorreu em 2017 e 2018. Em 2019, o evento estava confirmado para a data fixada pela própria Funcultural, em 29 de setembro de 2019, no Mercado Cultural.  Os cartazes foram divulgados nas redes sociais há vários meses.

Contudo, no início de setembro 2019, o calvário se instalou. Para surpresa dos criadores do projeto, uma verdadeira narrativa do lobo e do cordeiro de La Fontaine se formou em torno do evento. Primeiro, os servidores da Funcultural alegaram que o pedido era intempestivo e não haveria tempo hábil para atendê-lo. Os organizadores argumentaram que consta do dia 10 de janeiro de 2019 o protocolo do projeto. Em seguida, diante da evidência de transcorrido longo lapso desde o protocolo, os servidores aduziram que o Município não poderia arcar com nenhum custo com bandas, seja hospedagem, seja passagens. Por isso, não poderiam mais realizar o projeto. Os organizadores se defenderam com o fato de que a despesa do Município seria apenas com o palco, som e iluminação e, inclusive, esse palco já seria montado para as festividades do aniversário de Porto Velho no Mercado Cultural, como em anos anteriores. Mencionaram, ainda, que as passagens das bandas de São Paulo/SP, Cuiabá/MT e Rio Branco/AC e os hotéis seriam adquiridos sem nenhum ônus para a Funcultural.

De pronto, os servidores da Fundação, em nova tese, citaram que Comissão específica iria deliberar sobre a questão novamente. Os idealizadores do evento mencionaram que o Projeto já havia sido aprovado e que esse fato foi confirmado em várias oportunidades por esses mesmos servidores da Fundação e que o cartaz já havia sido divulgado.

Por fim, os servidores da Fundação alegaram que, na verdade, o projeto foi aprovado apenas para a kafkiana fase procedimental: “a pré-aprovação”. E que os interessados poderiam voltar outro dia para a resposta final. Depois de várias idas e vindas, sem que fosse atendido por qualquer servidor da Funcultural e na iminência do festival, os organizadores do evento tomaram conhecimento, por terceiros, que o projeto havia sido indeferido por tal Comissão. Por WhatsApp, foram informados que a Comissão deliberou, por fim, pelo cancelamento do apoio por razões orçamentárias. Isso tudo em 15 de setembro de 2019, às vésperas da data do evento (29 de setembro de 2019) e mais de oito meses depois do protocolo do pedido (10 de janeiro de 2019).

E, finalmente, chegamos à parte dos autos mais relevante. Não se trata de discutir os atos discricionários da Administração que pode deferir ou não os projetos de Heavy Metal ou de outros estilos musicais. Na verdade, apresentamos a real motivação da negativa de autorização de realização do evento: a CENSURA.

Verificamos que vereadores de Porto Velho e parte da Comissão (ou equipe) da Funcultural deliberaram, em nome dos “novos tempos”, que esta Capital não poderia ter no calendário oficial de comemoração dos seus 105 anos um festival com este nome: FERROVIA DO DIABO. A palavra DIABO era incompatível com os interesses do Município. Os idealizadores do evento informaram, em última tentativa, que o nome foi baseado no livro de Manoel Rodrigues Ferreira, A Ferrovia do Diabo, História de uma estrada de ferro na Amazônia, obra conhecida em todo o Brasil.

Mas não teve solução. A nata da censura e da ignorância prevaleceu. Foi narrado que era incompatível com os valores da municipalidade apoiar evento em celebração ao “demo” e ao “coisa ruim”. Por isso, o projeto não seria deferido. Ponto final.

Não vamos nos tardar. Mas deixamos expresso para que saibam que nem todos concordam com a CAÇAMBADA DE CENSURA que lançaram sobre o Festival Ferrovia do Diabo. Por isso:

Acusamos parte dos vereadores de Porto Velho de violar o Estado laico!

Acusamos parte dos vereadores de Porto Velho de desconhecer a obra A Ferrovia do Diabo!

Acusamos a Funcultural de violar princípios inerentes ao serviço público: boa-fé, transparência, motivação dos atos administrativos, duração razoável do processo!

Acusamos a municipalidade de CENSURA ao Festival Ferrovia do Diabo!

Em tempo. Os organizadores informaram que o Festival Ferrovia do Diabo está mantido para o dia 29 de setembro de 2019, em outro local, em homenagem ao aniversário de 105 anos de Porto Velho. 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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