Terça-feira, 29 de julho de 2014 - 15h40
Um grande evento cultural está marcado para o dia 31 de julho, quinta-feira, às 20h: Carmênio Barroso estará fazendo o lançamento do seu livro “Solilóquio” no ambiente da Taba do Cacique, tradicional e histórico reduto da boêmia local, que este ano está completando 48 anos de existência na capital. A apresentação da obra deverá ser feita pelo professor William Harvey, presidente da Academia Rondoniense de Letras. Haverá, também, apresentação de Rose Mary, que interpretará, dentre outras, a música “Querida Taba”, especialmente composta para homenagear o espaço cultural criado por Carmênio. O ator e poeta Mado fará uma performance especial, apresentando interpretações teatrais de alguns textos do novo autor.
Sobre a obra que vai ser lançada, disse o articulista cultural Antônio Serpa do Amaral Filho: “As mãos de Carmênio nos trazem seus escritos. As mãos que outrora serviram as cervejas mais estupidamente geladas da então provinciana e suburbana Porto Velho do antigo Território Federal de Rondônia são exatamente as mesmas que hoje nos oferecem metáforas, efeitos semânticos, hipérboles inusitadas, emoções torneadas em sonetos enxutos e bem postos, alegorias do imaginário e sextilhas românticas e nostálgicas, embaladas em invólucro de pulsações que sorrateiramente se alojam em nossos corações como o frasal de uma música clássica invadindo a alma à revelia da permissão que não foi conscientemente concedida.
Mas não são apenas as mãos carmenianas as serviçais dessas construções literárias. Tende a escrever com o sentido da visão, o escriba. Seus textos têm nos olhos brilhantes as janelas captadoras dos mistérios existenciais destilados em formas sutis e criativas, como se a poesia fosse a única e verdadeira cachaça da alma. Peça por peça ele dá vida e inteligência, dignidade e movimento, às formas criativas e inebriantes sorvidas em goles fartos e ansiosos, como se a literatura e a boêmia estivessem se divorciando, em pororoca desalmada, nas entranhas de cada um de nós, leitores de suas prosas e frequentadores da Taba do Cacique.
Com a pena na mão desvendando a grafite todos os quadrantes das possibilidades poéticas, sua alma enluarada rendeu-se à interlocução com o universo despudorado das sombras e rondas da vida, captando nuances sensíveis, transpostas agora em construções artísticas que nos deixam boquiabertos pela generosidade com que o artesão trabalha a palavra, as figuras de linguagem, fomentando imagens comunicacionais cativantes, revelando amores confessáveis e inconfessáveis, perdidos no tempo.
Aos 84 anos, depois de ter militado na política ao lado de Renato Clímaco Borralho de Medeiros, no movimento estudantil e na administração madrugadeira da Taba do Cacique, sabe Carmênio que escrever é despir-se no palco da criatividade literária. A nudez do rei não é preciso. A do poeta são ossos do ofício. O strip-tease espiritual é condição sine qua non à verdade que haverá de se estabelecer entre a palavra e o ser. Como se não houvesse pudor no contexto, nua, a alma do escrevinhador revela suas faces sem disfarce ao texto, espelho narcísico e pretexto desse afã. É assim, pois, como um operário das letras, a tangenciar do fundo do seu coração todas as purezas e impurezas da alma, que Carmênio, a ser um poeta ávido e louco, lúdico e empenhado no mister de desenhar poções estéticas no espaço cênico de suas antíteses e paradoxos, nos convida para o deleite de sua obra. Há mais vida inteligente e poesia na Taba e na alma do Cacique do que possa supor as hordas noturnas e soturnas das aves etílicas que por ali passaram em revoada, à caça de nacos de felicidade!! “
Nascimento da Taba
Por ironia do destino, a criação da Taba do Cacique está ligada a um episódio de cunho histórico. Quando estourou o Golpe Militar de 1964, Carmênio, que foi ativista da União Rondoniense de Estudantes Secundaristas, respondia interinamente pela prefeitura de Porto Velho. Nas primeiras horas da madrugada de 1º de abril daquele ano, a mando do Capitão Anacreontes, interventor do militarismo golpista, a polícia entrou em ação e lhe deu voz de prisão em sua residência, sendo posteriormente levado ao prédio do Palácio do Governo para “prestar contas com a Revolução”. Acusado pela Ditadura de malversação de verbas públicas, ele foi preso e deposto. Afastado da política na qualidade de cassado, Carmênio, para ganhar a vida, resolveu montar um bar denominado “Caiçara”. Esse bar evoluiu para um restaurante, que veio a se chamar Taba do Cacique, em homenagem ao seu pai, Augusto Barroso, que gostava de literatura indigenista e influenciou na escolha do nome. Criada com estatus de restaurante com cozinha internacional, a Taba do Cacique era inicialmente frequentada por profissionais liberais, gente do alto escalão do governo e integrantes da nascente burguesia local, representada por sócios do Lions e Rotary Club. Ali rolava os regabofes dos endinheirados caciques do pedaço, o papo político e as fofocas da alta society. Euro Tourinho, proprietário do jornal Alto Madeira, esteve presente à festa de inauguração da casa em 31 de julho de 1966. Durante sua trajetória de vida, vários foram os projetos culturais apresentados na Taba do Cacique, dentre eles, Canta Candelária (1990), com direção do grupo Cabeça de Negro; Coração Bandido, com Sílvio Santos (2004), Mesa de Bar, com Ernesto Melo (2000), Anjos da Madrugada nos 40 anos da Taba, Prova de Samba (2000), Rubens Parada e Convidados, Bolero, Chorinho e Bossa (2000). Este ano, aos 84 anos de idade, Carmênio Barroso tornar-se escritor e reúne uma coletânea de poemas produzidos durante sua caminhada pela vida e os apresenta à comunidade de leitores da capital.
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