CARTA A UM PORTO-VELHENSE NÃO NASCIDO

Caro patrício e Irmão. Saiba que é com muita alegria que esperamos o seu nascimento. Nossos pais estão muito apreensivos com a sua chegada. Aliás, você vai ser o quinto membro de uma família que mora há quase 40 anos em Porto Velho. Pena que as notícias sobre a nossa cidade não são boas em quase nada. E é sobre isso que lhe escrevo estas breves palavras.

Primeiro, quero lhe dizer que o ciclo econômico que esta Capital está envolto é, sem titubeação, o maior da sua extraordinária História. Um momento de vultosos investimentos que, proporcionalmente, é o maior do Brasil. Contudo, não tivemos a grandeza de escolher um governante que pudesse fomentar adequadamente o desenvolvimento humano e urbanístico desta cidade. Porto Velho se tornou a Capital mais “feinha” deste País. Triste título para um lugar em que “o céu faz moldura para engalanar a natureza”.

Temos um prefeito que resolveu construir uns viadutos inacabáveis. Nem o Oráculo de Delfos conseguiu decifrar o motivo desses paradoxais monumentos ao vácuo. Quereríamos que você não tivesse o desprazer de olhar essas obras kafkianas que tanto transtornos têm causado à população, mas, pelo andar do jegue, isso vai acontecer. Sem dizer que todos os dias o engarrafamento causado por esses paralelepípedos surreais nos tira a paciência. Às vezes, temos a impressão de que o desrespeito é proposital. Na verdade, Porto Velho ainda vai ser uma Cidade que Respeita Todos. E é por isso que lutamos.

Infelizmente, Caçula, esses fatos são apenas os primeiros de uma lista numerosa. Vou contar só mais alguns, para não deixá-lo perder o sono necessário para o seu desenvolvimento.

A nossa Rondônia tem aparecido no noticiário do Fantástico por diversas vezes e o fantástico disso tudo é que se trata dos mesmos fatos: o Presidente do Legislativo Estadual é preso sob a acusação de ser chefe de uma organização que desviava dinheiro público. Chamam a nossa Terra Mater de “Roubônia”. E somos gozações em todas as redes sociais... Felizmente, algumas mensagens são de força e de coragem para que não dobremos o espírito diante de tanto desrespeito pela coisa pública rondoniense.

Agora, vou lhe contar acontecimentos bizarros. A nossa cidade virou um faroeste de Poe. Caçambas e tratores tomaram conta das ruas centrais. A Força (Polícia) Nacional chegou em comboios. Tanques do Exército saíram acelerados dos quartéis. Helicópteros perambulavam pelos céus. Homens vestidos de roupa da NASA mediam a radioatividade do nosso solo. Dizem que viram por aqui o Elvis a passear ao lado de uns ET’s. A nossa vovozinha alertou que o próprio Inimigo estava solto pelas ruas de Porto Velho. Nós passamos uma semana sem sair de casa. Achávamos que era um estado de sítio ou que o mundo iria acabar. Até hoje ninguém sabe o que causou isso tudo. Os jornais divulgaram que foi um surto coletivo de alucinação. E pior que creio que não se tratava de nenhum estado alterado da mente... Mas de uma realidade esquizofrênica.

Depois desse sufoco todo, a nossa mãezinha sugeriu que nós nos mudássemos para outro lugar. Não concordamos com ela. Alegamos que esta Terra é muito boa e que essas pessoas que diuturnamente tentam destruir este recanto não vencerão. Ao final, ela se demoveu da idéia, abraçou-nos e pediu desculpas pelo pensamento que teve. Porém, exigiu que sejamos mais criteriosos no momento de escolher os nossos dirigentes e, principalmente, façamos do nosso dia-a-dia um engajamento para uma Porto Velho melhor.

Desculpe-nos pela missiva não muito alegre. Abraços fraternos e até breve.

Ação Popular: Respeitem Porto Velho!!

Fonte: Antonio Serpa do Amaral Filho / antonio.serpa@trf1.gov.br
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