Terça-feira, 3 de setembro de 2013 - 14h08
O governo Confúcio Moura, confundindo alhos com bugalhos, mais uma vez atolou o pé na jaca cultural: serviu ao público um Arraial Flor do Maracujá morno, requentado, mal organizado, sem motivação e sem competição. Um fiasco. O cortejo fúnebre do Manelão, General da Banda do Vai Quem Quer, mostrou-se mil vezes mais animado e significativo. O Arraial foi uma grande farsa circense, tendo como timoneira a despreparada e imatura secretária Eluane Martins. Ainda nesta semana a Assembleia Legislativa deve apreciar a extinção da SECEL. Sintomático, cremos.
Fadado ao desaparecimento, após trinta anos de edição, a nossa maior vitrine folclórica parece nada representar para os confusos gestores da atual administração governamental. Sem planejamento, sem equipe, sem mídia adequada, sem PN, os náufragos de sempre, vindos de outras marés, aportam em nossos barrancos e se fincam como grandes salvadores da pátria rondoniana, afundando literalmente o que ainda resta de original e autêntico do nosso imaginário popular. O funeral maracujesco só não foi mais tétrico por conta dos inabaláveis brincantes de quadrilhas juninas e bois-bumbás, que não permitiram tal desmantelo. Mesmo assim, vi e ouvi um Roque, tradicional locutor da festa, triste, melancólico, taciturno...sorumbático...quase catatônico. Igual tristeza foi vista no semblante dos “barraqueiros”, que investiram na produção de comidas típicas e jogaram no lixo o dinheiro investido. Sem planejamento e fora do ciclo da folha de pagamento do funcionalismo, o prejuízo foi certo.
É de imaginar o constrangimento, e por que não dizer uma quase síncope cardíaca, que machuca e dói no âmago da alma, sofrido pelo Karipuna mucururu também conhecido como Amo do Tracoá (Paulinho Rodrigues) ao entoar suas composições inspiradas no Boi-Bumbá Corre Campo, na quinta feira (29/08) no Curral do Maracujá. Posso apostar todas as minhas fichas que o abnegado produtor cultural passou à base de maracujina, tamanha a falta de perspicácia da atual gestão do Estado de Rondônia. O famoso Amo, em determinado momento daquela pífia encenação cultural, entoou: Ah! Eu mandei desafiar cantador/ para vir cantar comigo / quero mostrar meu valor / estou pronto e preparado / pro brinquedo de São João... o Areal é berço forte de tradição popular... a SECEL faz o arraial / deixa muito a desejar / do repasse do dinheiro Zé Katraca vai falar... E fez-se um silêncio profundo naquela arena do faz de conta. O silêncio dos inocentes (?). Parabéns ao Amo do Tracoá, e toda a Nação Corre Campo, pela lição.
O cinismo administrativo é tanto que ninguém se importa com a data da manifestação cultural, como se o elemento cronológico específico não integrasse a essência significativa do bem cultural. Pelo andar da carroça, logo teremos no ciclo natalino, bois-bumbás dezembrinos, quadrilha de papai-noel, amigo oculto da Flor do Maracujá, o auto de natal do Diamante Negro e quem sabe um carnaval jingobel fora de época. A estrutura digna de megaeventos serviu e serve apenas para justificar vultuosas quantias liberadas via “emendas”, que duvidosamente alicerçam interesses outros.
Pasmem! Os barracões-produtores, onde são confeccionados figurinos, alegorias, instrumentos percussivos, adereços, estruturas metálicas, atendimento e inclusão social, envolvem profissionais de todos os segmentos e na somatória, em Porto Velho, chegam a mais de 50 mil reais. A “estrutura” do arraial consumiu milhões. Os grupos folclóricos receberam, ou melhor, receberão, se não ocorrer mais um calote do governo, míseros R$ 5.000,00 (cinco mil reais). A FEDERON, inadimplente em 2012 por conta do inadimplente Governo Confúcio e proibida de receber repasses financeiros para aquisição de matéria prima, apesar dos açoites “confucianos & eluânicos”, usou a força do caboclo sete flecha, não permitindo a desgraça total. A equação do imbróglio ficou assim: o Estado deve dinheiro à Federon, a Federon deve prestação de contas ao Estado, o Estado não paga à Federon porque esta não prestou conta ao Estado, a Federon não presta conta porque diz que só recebeu a metade, e o Tribunal de Contas, para apimentar o angu, emitiu uma medida cautelar inibitória, que proíbe ao Estado de repassar o valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), ainda pendentes de quitação com o convênio assinado com a FEDERON no exercício de 2012. Ou seja, em Rondônia a questão cultural é uma sinuca de bico.
Trocando em miúdo, papagaio come milho e periquito leva a fama. Ao realizar o Flor do Maracujá, o governo fica bem na foto e os Grupos e Associações Folclóricas vivem à míngua, se submetendo a participar de um Arraial agostino, farsesco e patético. A turma do governador Confúcio Moura, sem políticas públicas para o setor, quer misturar cultura, esporte e lazer no mesmo balaio de gato, numa espécie de samba do crioulo doido, nada fazendo de concreto para incrementar a produção cultural. Mas como valorizar as coisas daqui, se vieram de caixa-prego puxando aquela famosa cachorrinha?
O folguedo fúnebre foi ocultamente chorado, sob as máscaras de Cazumbá, Pai Francisco, Catirina e Mãe Maria. Não fossem esses mascarados, a inumação seria completa, com o total patrocínio do Governo do Estado de Rondônia. Mas tenham fé! Ano que vem, o senhor Confúcio Moura contratará carpideiras para que as exéquias do Arraial Flor do Maracujá sejam choradas e revestidas de toda pompa que seus malfeitores têm alojada no coração.
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