Sexta-feira, 1 de julho de 2011 - 17h06
As contradições que estão levando ao fracasso o modo de vida ocidental, leia-se o american way of life, com a sua lógica auto-destrutiva e devoradora de recursos naturais transpassaram os limites da humanidade e de forma inexorável partiu com as suas legiões para a conquista do oeste, far west, velho oeste ... E aqui, se inicia a nossa análise sobre a conquista do distante Oeste Amazônico e as relações de poder, tendo como delimitação, obviamente, o município do Porto Velho, nossa castigada e amada alma mater.
A memória de filmes de bang bang dá uma noção de como foi encarniçado o processo de ocupação espacial e da formação (e de deformação) de grandes fortunas dos Estados Unidos. Ironicamente a ficção parece ter muita semelhança com o processo ocupacional que ocorreu na Amazônia, principalmente nos estados do Pará, Mato grosso e Rondônia, onde a lógica continua quase cinematográfica.
Mas, aos inadvertidos, a coisa não fica só na semelhança, tem a ver com a lógica do estabelecimento do capitalismo, cada vez mais globalizado, sofisticado, com seus pervertidos derivativos e hedge funds, que precisa de seu braço armado, sujo e virulento para se estabelecer nos lugares mais ermos da fronteira ocidental.
O filme Bye Bye Brasil, do cineasta Cacá Diegues, que demonstra a saga de um grupo de saltimbancos no interior da Amazônia, mais precisamente, no município de Altamira – PA, apresenta em algumas cenas a lógica de ocupação do oeste expressas na pistolagem, no abuso de poder, no coronelismo, nos criminosos oriundos sabe-se lá de que buraco e nas obras patrocinadas pelo poder público. Assim como uma trupe mambembe chegando aos vilarejos do Novo México, recém-surrupiado dos chicanos.
O documentário Na Trilha do Uru Eu Wau Wau, de Adrian Conwell, mostra o contato dos indigenistas da FUNAI com os índios, ainda isolados, compelidos pelo desenvolvimento em Rondônia, que atraía cada vez mais agricultores e latifundiários para o Estado, estimulados a “superar” a floresta e quem dela dependesse para aplicar a lógica européia de produção, na maior tradição do faroeste.
Em Avaeté – A Semente da Vingança, de Zelito Viana, apresenta-se o episódio do Massacre do Paralelo 11, ocorrido em 1963, onde foram mortos os índios cintas-largas, exterminados por dinamite atirada de avião, estricnina adicionada ao açúcar, tiros de metralhadoras e brutalmente partidos vivos ao meio, a facão, do púbis à cabeça, tal como um porco, conforme descrito por Shelton Davis em seu livro Vítimas do Milagre, cujo saldo resultou no holocausto de mais de 3000 índios em um único dia, episódio que faria o próprio General Custer se babar de inveja.
Nesse clima de barbárie, foram surgindo os primeiros núcleos urbanos ao longo da BR 364, que na década de 1970/80, parecia mais a topografia lunar, onde uma viagem entre Cuiabá e Porto Velho chegava a durar mais de uma semana, e que para quem fazia a Odisseia rodoviária, nossa Capital parecia Ítaca para Ulisses, o Eldorado dos famélicos, a terra que os salvaria (e os salvou, apesar de alguns ostentarem bandeiras de seus estados, como se lhes tivessem provido, qual uma mãe coruja ou um pai laborioso, em seus carros de luxo, extraídos de Rondônia) de todas as mazelas vivenciadas pela sua Terra Natal.
Os migrantes chegavam aos borbotões, em paus-de-arara, em Chevettes, Corcéis, Fuscas e nos ônibus precários (que erigiram um império) e foram tomando o Estado de Rondônia, como se estivessem bem acomodados na sua casa nova, mas esquecendo-se que existiam moradores ali. Nem os consideraram. Foram botando a floresta abaixo (com incentivo governamental) e formando sua idéia de lar, a reprodução de seu estado de origem, entre a umidade, o calor e a malária. O que se assemelha aos seus congêneres yankees, pelo tifo e como versou Michael Stipe “pelos Jetstreams, gélidos e secos, que cortam os céus do deserto”.
Na sua grande maioria, eram pessoas humildes, lavradores que foram ludibriados pelas promessas propagandeadas pelo Governo Militar que vendia a imagem de Rondônia como se fosse o Valhalla, onde ficavam a mercê da falta de Assistência Técnica e Extensão Rural, lançados à própria sorte.
Nessa mentalidade emergiu a casta política de Rondônia, os vendedores de promessas que, tais como corretores imobiliários de terrenos celestiais, vendiam a ilusão de melhoria de vida dessa população à custa de favores e votos.
Mas os benefícios nunca chegavam e, dessa forma, à lógica do latifúndio se firmava, pois os agricultores eram compelidos a vender suas terras ao grande capital, tal como ocorria com os colonos do Oregon, que eram obrigados a venderem suas terras à beira das ferrovias, e aqueles que não o faziam, eram sistematicamente assassinados pelos pistoleiros contratados pelos especuladores, tal como ocorrem com os conflitos agrários, que ainda na atualidade, na primeira década do Século XXI, fez vítimas mais de seis lideranças em Rondônia e Pará.
Como ocorreu com o Gold Rush da Califórnia de meados do Século XIX, o município de Porto Velho sofreu um período de frenética garimpagem proporcionada pelo ouro existente na área de influência do rio Madeira, que de tão intensa fez com que a população se contaminasse por mercúrio através do peixe. Sem contar com as mazelas sociais ocorridas pelo crescimento desordenado, a qual gestou a “Geração Hidrelétrica”.
Neste ponto da comparação, a história se diverge, pois a expansão da economia energética dos EUA foi quem proporcionou, além da economia de guerra, é claro, a estrutura da potência hegemônica. Onde a regularização fundiária começou a ser estabelecida ainda no século XIX: as estradas eram pavimentadas do dia para a noite, viadutos brotavam como se fossem flores na primavera e cidades surgiam no meio do deserto com infra-estrutura básica de qualidade, em decorrência de planejamento para se tornar maior nação do mundo, apesar de toda a contradição que sua postura imperialista podia gerar. Naquele momento, tiveram que, de fato, se estruturar e se moralizar, saindo do estado de barbárie.
Enquanto que nas nossas paragens, com a lógica de aparelhamento do estado baseado no paradigma monárquico e bem assimilado pela ampla maioria dos mandatários tupiniquins pelo favorecimento e pela corrupção, que é também herança de nosso sangue lusitano. Tem-se o exemplo do gajo Pero Borges, supervisor da construção de um aqueduto em Elvas, região do Alentejo, que ficou famoso por fazer as verbas destinadas à construção do aqueduto desaparecer deixando a obra inacabada. A apuração do inquérito confirmou que Borges embolsou parte significativa da verba. Em 1547, foi condenado ser exilado para o Brasil onde se tornou, irônica ou profeticamente, o primeiro Ministro da Justiça do Brasil.
Outro fato pitoresco da história política, dessa vez de Rondônia, diz respeito ao Governador Jorge Teixeira que, nas andanças pelo interior do Território que se tornaria Estado, onde os reclames da população eram infindáveis e a perturbação de seu juízo por grupos de pretensos políticos ocorria em demasia, encontrou, enfadado com a situação, um método para dissuadi-los: os chamavam para abraçá-lo e fazer o registro fotográfico. Depois disso, dizem que sobraram muito poucos. Conta-se que entre os que se evadiram muitos se tornaram vereadores, deputados e até senadores.
Deixando as historietas lúdicas sobre o processo de surgimento de nossa fabulosa classe política, pois já custaram verdadeiras montas ao erário público, o fato que deve ser chamado atenção é de se inquirir onde se quer chegar, o que será de nossa cidade, do nosso Município, de nosso Estado e do País, uma vez que como diria Jim Morrison: “Dias estranhos nos encontraram”. E o que faremos? Cairemos em desgraça? Esperaremos acabar o momento histórico para a guinada de nossas vidas? Ou faremos o enfrentamento?
Nesse momento fugiremos da decadência e buscaremos conscientizar nossos concidadãos a buscar seus direitos nessa cidade esquecida pelas autoridades, fazemo-nos respeitar, denunciando os desmandos dos maus políticos e enalteceremos aqueles (bravos guerreiros) que lutam em prol do engrandecimento de nosso Povo.
Apesar da analogia utilizada no artigo, nem de longe queremos ser como Império Estadunidense, pois hoje sua cultura de consumo, política e economia se encontram em franca decadência, que se sustenta como potência hegemônica mundial pela força beligerante de sua indústria armamentista, mantendo a mesma lógica de conquista do Oeste.
Aqui queremos ter a cara de nosso Povo, onde possamos conviver com as diferenças culturais, com distribuição de renda e principalmente com as obras públicas concluídas, que permitam a sociedade se apropriar de suas benesses.
Chega de obras inconclusas, vamos responsabilizar os incompetentes através dos direitos constituídos e do estado permanente de mobilização.
Basta de chacinas no campo e de degradação de nossos recursos ambientais.
Orgulhemo-nos de quem somos e nos encorajemos a trabalhar em prol do presente e, principalmente, do futuro. Precisamos voltar a andar tranqüilos de bicicleta pelos parques e ciclovias e observar o pôr-do-sol, sem a incômoda sensação de estarmos sendo enganados ou de sermos potenciais vítimas do jovem que, enfadado com a situação, quer comprar a próxima pedra de “oxi” ou pelo engravatado picareta. Este, sem dúvida, mais nocivo que a própria droga.
Concluiremos os trabalhos e os dedicaremos àquele que de fato merece todos os louros da glória... o Povo!
Ação Popular: Respeitem Porto Velho!!!
Fonte: Antonio Serpa do Amaral Filho / antonio.serpa@trf1.gov.br
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