Terça-feira, 9 de outubro de 2012 - 13h15
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
Baixada a poeira da corrida pelos votos no primeiro turno, dois fenômenos políticos foram revelados na última empreitada democrática e por isso merecem uma pincelada de análise, ainda que muito limitada: com os votos dados a Lindomar Garçon venceu o popularismo. Com a falta de votos de Fátima Cleide a antipopularidade petista mostrou sua cara, e só Carolina não viu.
Popularismo, nobre leitor, não é exatamente populismo, mas traveste-se de sua versão mais rasteira e simplificada. Os papas do populismo tupiniquim – Getúlio Dorneles Vargas e Jânio da Silva Quadros – que o digam. Um suicidou-se e o outro pediu pra ir ao banheiro das forças ocultas e nunca mais voltou, mas ambos eram mestres na arte do encantamento das massas – sempre encefálicas, claro.
Para exibir uma performance essencialmente populista o candidato do PV, Lindomar Garçon, necessitaria ter pelo menos cem vezes mais a eloqüência que não tem, duzentas vezes mais o carisma que não tem, trezentas vezes mais a liderança que não tem, quinhentas vezes mais a visão política que não tem e mil vez mais o fogo messiânico que também não possui. Garçon faz teatralmente um tipo popularesco, agrada às massas porque é simplório na sua comunicabilidade, superficial na análise da realidade e bonachão como um palhaço de circo. Por isso, no palco da arte de administrar os interesses do Estado, seu desempenho político chega a ser apenas a borra do capuccino populista original servido com requinte nos 30 e na década de 60 pelo janismo do varre, varre, vassourinha e acaba a bandalheira. Garçon vai dar muito trabalho na peleja com Mauro Nazif, sem dúvida, mas deverá sucumbir por falta de combustível e sustentabilidade num cenário de segundo turno, onde muito provavelmente deverá estar acompanhado de Mariana Carvalho e Mário Português.
Sim, mas cá entre nós, de onde veio a tal da anti-popularidade petista, uma das novidades dessa primeira fase do ranking eleitoral? A resposta é de um óbvio ululante: das ações partidárias e práticas administrativas dos próprios integrantes do Partido dos Trabalhadores em Porto Velho, com destaque para o prefeito Roberto Sobrinho. A chamada nação vermelho, vermelhaço, vermelhão se despedaçou em estilhaços feito o Muro de Berlim, que foi lançado ao solo pacto por força da onda avassaladora da Glasnost e da Perestroika. O encantamento da estrela vermelha cedeu lugar à frustração, à esperança se contrapôs o desencanto, sendo a confiança substituída pela incredulidade e a eficiência pela incompetência. Batendo tudo isso no liquidificador da crítica social, ficou no consciente e inconsciente do porto-velhense uma vontade enorme de vota contra o PT, emergindo desse bojo o anti-petismo, cujo ícone maior vem a ser o prefeito Roberto Sobrinho. É claro que o líder petista fez tecno-administrativamente uma grande gestão, alcançando metas até então nunca atingidas pelos seus antecessores; obras por sinal muito mal divulgadas. A administração Roberto Sobrinho chegou a ser até premiada por instituições independentes. Mas a imagem social que ficou é que fez relativamente pouco se comparado ao que deveria fazer e ao volume de dinheiro disponibilizado para tanto. Nunca, desde o Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense, um prefeito teve tanto dinheiro para investir no seu projeto de governo. Em que pese a justa e necessária presunção de honestidade e inocência, Sobrinho tornou-se suspeito aos olhos da comunidade municipal ao se fazer empresário prestador de serviço durante sua gestão. Ao conduzir egocentricamente e com mão de ferro o processo sucessório interno do Partido dos Trabalhadores, Sobrinho deixou vir à tona sua veia autoritária e arrogante. Imaginando ser um Lula Guaporé, capaz de eleger até um poste, levou o partido a uma briga de foice, tendo Fátima Cleide que socar duro em Miriam Saldanha e Cláudio Carvalho para sagrar-se candidata, confronto que fez o PT sangrar e se espatifar internamente. Sem tempo para cicatrizar as profundas feridas abertas, o partido caminhou trôpego, cambaleante, fraco, sem entusiasmo e sem força moral para angariar o voto de confiança do eleitor. Nesse imbróglio, muita gente deixou de votar em Fátima Cleide não especificamente por ela ou em razão dela, mas por ser contra e desconfiar do PT. No bolo da aversão petista, o julgamento do mensalão entrou apenas com os confetes, a massa principal foi feita aqui mesmo, em Porto Velho. Nasceu, então, o eleitor anti-PT. Para esse tipo de eleitor o símbolo maior da incompetência petista tomou forma nas obras inacabadas dos viadutos da BR, projetos que deveriam ter sido um sucesso e não foram, que deveriam ser um exemplo de competência e não foram, estruturas que deveriam servir à população da capital e não serviram. No Mercado Cultural, onde chove mais dentro do que fora, como disse o Alexandre Ronald, os quatro melhores projetos artísticos, Fina Flor do Samba, Seresta Cultural, Roda de Samba do Beto Cézar e Jambera, não foram concebidos pelos petistas. Deveriam ter sido, mas não foram. Assim também foi a candidatura de Fátima Cleide, que tem todas as credenciais para ser uma excelente prefeita: deveria ter sido um grande sucesso nessa jornada política; deveria, mas não foi, vítima da antipatia engendrada por sua própria agremiação partidária. O difícil não é o Príncipe chegar ao poder, mas ter sabedoria para mantê-lo.
No segundo turno, o popularismo subirá ao ringue para enfrentar Mauro Nazif, um boxeador que tem a língua um pouco presa, mas que, por saber socar duro, poderá levar Lindomar Garçon à lona.
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