Sexta-feira, 26 de julho de 2019 - 09h30
Na Guerra de Canudos, não sobrou ninguém pra contar estória; todos os viventes seguidores de Antônio Conselheiro foram passados a ferro e fogo, sem piedade, pela máquina mortífera montada nas cercanias do Arraial de Belo Monte pelo exército republicano brasileiro! Hoje teríamos uma visão fake e preconceituosa daquela guerra de fim de mundo, muito provavelmente cultivando uma visão estereotipada e oficialesca, elitizada e opulentamente favorável à bajulação dos vencedores, não fosse Euclides da Cunha ter escrito Os Sertões, contando os fatos tim por tim, desenhando um apanhado histórico-narrativo e denunciativo primoroso! O dono da pena literária fora militar e, nessa condição, teve que engolir a seco primeiro o seu próprio preconceito para depois chegar a um produto textual condizente e mais próximo possível da verdade histórica, sem perder o glamour de uma grande peça literária.
Escrita há 120 anos, o peso da obra levou para o pedestal do podium, na Feira Literária Internacional de Paraty, Flip 2019, a título de homenagem, o nome de Euclides da Cunha, o escriba que cunhou a famosa frase “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Apesar disso, os Paraíbas - como disse o medíocre capitão esfaqueado presidente da república de bananas - nadavam contra a correnteza de um país mergulhado numa estrutura econômica latifundiária, de produção monocultora, com o povo acorrentado a uma explícita e maldosa exploração de mão de obra trabalhadora nos clássicos moldes do Capitalismo Selvagem! O lema de então era: Quem pode mais, chora menos! Duas forças iluminati comandavam a geleia geral brasileira: Deus e o Diabo na terra do sol!!
Os valentes Paraíbas que não se renderam à vida e morte severina tão somente, que não sucumbiram aos sete palmos de cova medida, como parte do que lhes cabia daquele latifúndio, e não optaram por formar grupos de cangaceiros e jagunços, se entregaram à decisão de seguir com fidelidade canina a Antônio Vicente Maciel, o Antônio Conselheiro, também conhecido como o Messias Brasileiro, desafiando a jovem república proclamada por políticos de coturno e bancada pelos barões endinheirados do café. Eram, como na equação jurídica do juiz Sérgio Moro, em declarada tramoia engendrada com o Procurador da República Deltan Dallagnol, como tudo mundo já sabe, dois pesos e duas medidas. A fé dos sertanejos nos Beatos ou Conselheiros, e suas proposituras utópicas, significavam também um legítimo e criativo modus operandi de combater a miséria e extravasar sua revolta com as injustiças sociais que sentiam no oco das tripas ressecadas e famintas.
Todavia, enquanto o mundo das letras festejava mais uma grande realização literária na bucólica Paraty, patrimônio cultural da humanidade, Dirce de Assis declarava aos quatro cantos que queria tirar a palavra assassino da biografia de seu pai, Dilermando Cândido de Assis, o então jovem militar que, em tendo um romance com a mulher de Euclides da Cunha, despachou o autor de Os Sertões dessa pra melhor com certeiros tiros de pistola. Dilermando foi amante de Ana Emília Ribeiro da Cunha, a mulher de Euclides. No trágico duelo, travado em 15 de agosto de 1909, Dilermando, que era campeão de tiro, ainda chegou a levar cinco balaços, mas revidou, e veio a ceifar a vida do grande escritor. Daí em diante Dirce de Assis passou a ser chamada de "filha de assassino", coisa que a angustia profundamente. O pai dela não só matou Euclides, como matou também o filho do criador de Os Sertões em um segundo duelo, do qual, apesar de ferido, também sobreviveu.
Tombaram os cabras da peste, tombou Euclides da Cunha. Ironicamente o famoso escritor que fez um belíssimo tratado sobre o massacre de Canudos, onde as balas e lâminas de baionetas falaram mais alto que as vozes dos miseráveis sedentos de dignidade e justiça social, também sucumbiu a mortalha de projéteis agourentos, em nome de um outro ideal, o da honra aviltada pela traição da mulher amada. Em vida sobrou a filha do executor, tentando limpar o nome do pai da pecha de assassino. Daí que cada um no seu quadrado. Cada ideal guarda em si suas próprias verdades e contradições! No meio dessa área filosoficamente cinzenta, Cazuza saiu pela tangente e gritou: Ideologia! Eu quero uma pra viver! Euclides da Cunha, Paraíbas em luta, a Honra, a Filha do Assassino e o Anarquismo de Cazuza! Para o existencialismo, é tudo farinha do mesmo saco!
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