Quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012 - 15h11
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
Hoje, à meia noite, Ernesto Melo, o Poeta da Cidade, abrirá oficialmente o carnaval de Porto Velho, desfilando em carro aberto como o grande homenageado da Sociedade Cultural Galo da Meia-Noite. Enquanto a agremiação carnavalesca comemora seus 20 anos de existência, o compositor festeja seus 60 anos de vida, inúmeras canções e muita boêmia ao longo das suas sessenta primaveras.
Ao som da Banda Carijó, o cortejo sairá do tradicional bairro Caiari arrastando uma multidão estimada em 40 mil brincantes, e desse encontro inusitado resultará, com certeza, a maior ópera popular jamais vista nos folguedos karipunas. É, por extensão uma homenagem à música popular de Rondônia. O poeta fez 60 anos e toda cidade vai cantar. Ele venceu todos os seus desenganos e encontrou o amor que quis amar: Erenir – o amor que o poeta quis pra si.
Ernesto Melo, também poeta do Mocambo, é um apaixonado pelas coisas de sua gente, um pintor de aquarelas musicais cantando seu partido alto sem medo de ser feliz. Corajoso, cantou: o 5º BEC (Batalhão de Engenharia e Construção) chegou trazendo os seus generais, a força e o poder da ditadura destruiu minha cultura, não respeitou meus ideais – o Morro do Querosene veio abaixo.
As cores para o seu canto ele toma emprestado da multitonalidade que perfaz seu rincão natal: Porto Velho, uma cidade que nasceu no ventre da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, numa epopéia que arregimentou índios, brancos, negros, pardos, estrangeiros do mundo todo, caboclos e beradeiros. Se alguém for ao Triângulo, lá encontrará a alma de Ernesto Melo, porque, acompanhado da sua viola e Deus, ele foi testemunha ocular de uma cena inusitada: viu o samba subindo o morro do Triângulo na voz Black, Manga Rosa e Sabará, Doca Marinho e do Negro Valdemar. No Mocambo ainda ecoam os acordes perfeitos de suas serenatas, entoadas num tempo em que ali cheirava cachaça, cheirava desgraça, cheirava mulher. Não importa. O viver da gente simples e suas mazelas têm espaço bastante na criatividade do Poeta da Cidade, pois esses elementos são na verdade a matéria-prima de seus sambas mais sensíveis, quando o lamento se mistura com a saudade, a dor e a alegria de viver se fundem num mesmo almágama e a poesia se mescla à narrativa de um cronista que teima em não deixar morrer o manancial memorialístico inesgotável que ele carrega no seu coração e na sua mente, como um velho escriba predestinado a contar e a cantar para o povo os anais inexistentes nas obras pedagógicas servidas nos bancos escolares. Ernesto canta para viver, para ver seu povo feliz, para pensar e repensar o passado, colhendo sabedoria para construir e celebrar o presente. Seu samba não é somente um lamento romântico e saudoso, é também um olhar profundo sobre a condição humana dos seus antepassados, uma leitura dos tempos idos, uma reconstrução poética de uma geografia que hoje basicamente só existe em suas memórias. O conjunto da obra de Ernesto Melo é, em suma, uma verdadeira declaração de amor à sua cidade natal. Não é à toa que ele confessa: Porto Velho, meu dengo, tu és o meu caso de amor. Por isso hoje o Poeta canta de Galo no terreiro do Galo da Meia-Noite!
No infortúnio da solidão atroz, o jeito é quedar-se nu com a mão no bolso, olhando para as impassíveis paredes que miram, espiam a gente até de rabo
Um dia da caça, outro dos “povos novos”, de Darcy Ribeiro
Num primeiro voo de radiofusão para além das plagas amazônidas, a Música Popular de Rondônia começou a ser mostrada na Rádio BBmusic, da cidade Búzi
As lágrimas internacionais que choraram a morte do poeta
A democracia voltou a ser ameaçada no país cujo nome é uma homenagem a Símon Bolívar, o Libertador das Américas. Com essa última quartelada, já são
Os homens do poder sempre passarão; o bom humor, passarim!
Apesar do vazio cultural, da perda irreparável para o humanismo e para a criatividade brasileira e do profundo incômodo emocional provocado pela par