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Serpa do Amaral

IPHAN RECONHECE QUE TEM MUITO POR SE FAZER


 

NO CEMITÉRIO E PROMETE DESFRALDAR 50 BANDEIRAS
EM HOMENAGEM AOS MORTOS DA CANDELÁRIA


O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Rondônia reconhece que realmente tem muita coisa por se fazer no Cemitério da Candelária e promete, em execução a um plano de obras para aquele campo santo, desfraldar 50 bandeiras em homenagem àqueles que ali foram sepultados, enquanto se desenrolava a epopéica edificação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, berço histórico da civilização guaporé. Operários de pelo menos cinqüenta nacionalidades diversas, segundo alguns historiadores, foram recrutados pela empresa comandada pelo então chamado “o Dono do Brasil”, o empresário Percival Farquar, para construir a lendária Ferrovia do Diabo no meio da selva amazônica, e essas bandeiras assinalariam o pitoresco cosmopolitismo que marcou o início do processo civilizatório dos rondonienses. Argumentou Beto Bertagna que as obras estão paralisadas há mais de 30 dias e que serão retomadas com força total em breve, quando então serão implementadas uma série de ações conservacionistas com o objetivo de dar àquele cemitério o tratamento digno que o bem cultural merece. Trata-se da promessa não apenas de um burocrata federal, mas principalmente de um documentarista que encontrou em Rondônia fortes motivos para amar, trabalhar e viver nestas barrancas. Quem sobreviver, verá. E a auditoria cultural registrará para posteridade.

Nós, este cronista jornalístico e o historiador Emanuel Gomes da Silva, autor das denúncias também veiculadas nas colunas do repórter Lúcio Albuquerque e do articulista Antônio Cândido, estivemos na sede do Iphan para ouvir o que tinha a dizer seu superintendente. Bertagna disse que não tem medo de levar porrada da imprensa, que acha tudo muito democrático, porém reclamou do fato das matérias denunciativas terem sido publicadas sem que ele tivesse sido contactado para dar a versão da instituição sobre os fatos. Segundo ele, até o experiente Lúcio Albuquerque falou mal do Iphan, sem ter ouvido a outra parte contrária. Autocrítico, ele reconheceu que as obras de restauração das lápides e de outros materiais realmente deixaram a desejar, mas afirmou que elas serão retomadas sem que seja gasto mais dinheiro do contribuinte, uma vez que o Iphan saberá valorizar e fiscalizar a utilização dos 84 mil reais que estão sendo aplicados no conjunto das obras que foram e ainda serão realizadas naquele sítio memorial. O serviço parece ter sido tão mal feito que, ainda que informalmente, o superintendente do Iphan mostrou um parecer técnico em que é sugerida, por especialista, a retomada do processo de restauração das lápides. Questionado sobre a firma responsável pelas obras, ele declinou o nome da empresa que ganhou a licitação. Chama-se Vale do Jamari e é capitaneada por um rondoniense do bairro Caiari: Ênio Menezes.

Segundo o plano de trabalho verbalizado pelo superintendente do Iphan, até mesmo uma passarela, ligando o cemitério à Vila Candelária, poder vir a ser feita, facilitando o acesso e a visitação ao local. Além disso, serão afixadas várias placas informativas, melhorando a comunicação visual do ambiente; instalados bancos ao longo das passarelas e recantos, retiradas as pedras e melhoradas as passarelas. Uma outra coisa interessante é que, como parte de medidas compensatórias em vista da construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, o Iphan está reivindicando da empresa construtora, para o patrimônio cultural, um projeto de reativação do percurso da linha férrea entre Porto Velho e Santo Antônio; implantação do Museu da Estrada de Ferro Madeira Mamoré; projeto de Resgate e Conservação dos Bens Móveis remanescentes do patrimônio da Estrada de Ferro Madeira Mamoré na área de impactação da UHE Santo Antônio; recuperação e revitalização da área onde se encontram as ruínas do hospital e cemitério da Candelária; projeto de recuperação e revitalização da área onde se encontra a igreja de Santo Antônio; projeto de construção e implantação de um Centro de Memória dos  Povos Indígenas e um Projeto de construção e implantação do Centro de Memória dos  trabalhadores vitimados pela construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.

Se todas essas ações vierem mesmo a serem efetivadas, terá razão de ser o desfraldar altivo das bandeiras cosmopolitas hasteadas no Cemitério da Candelária, como se estandartes fossem da dignidade conquistada. Caso contrário, elas serão apenas flâmulas oficialescas acenando, basbaques, o tom da valsa e da peça burlesca em que historicamente estamos metidos e que não tem visita de Dilma Roussef que dê jeito - só mesmo uma revolução karipuna.

Fonte: Antônio Serpa do Amaral Filho

 

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