Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Serpa do Amaral

Manifesto de repúdio ao índex rondoniense


Manifesto de repúdio ao índex rondoniense - Gente de Opinião

“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente”. Assim se desenhou a obra-prima e seminal de Mário de Andrade, publicado em 1928. Quase cem anos depois, numa manhã de fevereiro de 2020, os porões do conservadorismo, em Rondônia, nos lançaram ao ano de 1559 e pariram o filho mais monstruoso: o Index Librorum Prohibitorum. A vergonha de nossa gente.

 

Em expediente de duas páginas, confeccionado por ninguém menos que a Secretaria de Educação da Terra do Rondon, foram determinados a proibição e o recolhimento de 43 livros, de diversos autores e autoras, reconhecidos universalmente pela potência criativa e crítica de suas narrativas.

 

Num mesmo lanço, jogaram na fornalha da censura Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Sônia Rodrigues, Ferreira Gular, Edgar Allan Poe, Franz Kafka e outros. Com a execrável observação: “Todos os livros de Rubens Alves devem ser recolhidos”. E, para não deixar por menos, Macunaíma também se fez alvo desse atentado à Cultura.

 

Em razão da repercussão para lá de negativa, inclusive em outros países, a missão inquisitorial “Proibir o Riso e a Alegria” foi provisoriamente suspensa pelos responsáveis por essa mácula triste na histórica Cultural de Rondônia.

 

Contudo, acreditamos que a fome por censura e interdição ainda perdura e se exercerá em outros planos, silenciosa e destruidora.  A educação pública de Rondônia, com suas combalidas forças, escolas precárias e professores com salários diminutos, caminha para época de Trevas. Vivemos momento sombrio e esse índex é apenas um dos sintomas dessa pulsão pela decadência, ignorância e ódio.

 

Nesse plano, manifestamos TOTAL REPÚDIO a essa tentativa inconstitucional de proibir e mandar recolher livros que transcendem épocas e evidenciam a força da Literatura na construção de cidadãos e cidadãs, especialmente para alunos e alunas da rede pública de ensino de nosso Estado e do País.

 

Não será pela proibição ou censura de obras clássicas que a nossa Educação dará os passos necessários para a emancipação dos sujeitos pensantes e para a construção de uma sociedade justa e isonômica.

 

Aliás, é extremante grave que pessoas com essa visão distópica de impor um Fahrenheit 451 aos estudantes, em desalinhamento com qualquer parâmetro pedagógico e educacional, estejam na gestão da fundamental Secretaria de Educação deste Estado.

 

Rondônia nasceu do amálgama de tantos Povos e Culturas. Nesse passo, é caudalosa em diversidades, Democracia e risos. Por isso, não temos dúvida de que resistirá a essa grande noite que querem trazer para a nossa história. A febre autoritária daqueles que estão provisoriamente no poder não vencerá a Literatura. E a Poesia, segundo Ferreira Gular, flui potente e “Embala no colo/Os que têm sede de felicidade/E de justiça./E promete incendiar o país”.

Movimento Respeitem Porto Velho!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Diálogos insanos da pandemia

Diálogos insanos da pandemia

No infortúnio da solidão atroz, o jeito é quedar-se nu com a mão no bolso, olhando para as impassíveis paredes que miram, espiam a gente até de rabo

Um dia da caça, outro dos “povos novos”, de Darcy Ribeiro

Um dia da caça, outro dos “povos novos”, de Darcy Ribeiro

Num primeiro voo de radiofusão para além das plagas amazônidas, a Música Popular de Rondônia começou a ser mostrada na Rádio BBmusic, da cidade Búzi

As lágrimas internacionais que choraram a morte do poeta

As lágrimas internacionais que choraram a morte do poeta

A democracia voltou a ser ameaçada no país cujo nome é uma homenagem a Símon Bolívar, o Libertador das Américas. Com essa última quartelada, já são

 Os homens do poder sempre passarão; o bom humor, passarim!

Os homens do poder sempre passarão; o bom humor, passarim!

Apesar do vazio cultural, da perda irreparável para o humanismo e para a criatividade brasileira e do profundo incômodo emocional provocado pela par

Gente de Opinião Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)