Terça-feira, 11 de fevereiro de 2020 - 18h59
“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente”. Assim se desenhou a obra-prima e seminal de Mário de Andrade, publicado em 1928. Quase cem anos depois, numa manhã de fevereiro de 2020, os porões do conservadorismo, em Rondônia, nos lançaram ao ano de 1559 e pariram o filho mais monstruoso: o Index Librorum Prohibitorum. A vergonha de nossa gente.
Em expediente de duas páginas, confeccionado por ninguém menos que a Secretaria de Educação da Terra do Rondon, foram determinados a proibição e o recolhimento de 43 livros, de diversos autores e autoras, reconhecidos universalmente pela potência criativa e crítica de suas narrativas.
Num mesmo lanço, jogaram na fornalha da censura Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Sônia Rodrigues, Ferreira Gular, Edgar Allan Poe, Franz Kafka e outros. Com a execrável observação: “Todos os livros de Rubens Alves devem ser recolhidos”. E, para não deixar por menos, Macunaíma também se fez alvo desse atentado à Cultura.
Em razão da repercussão para lá de negativa, inclusive em outros países, a missão inquisitorial “Proibir o Riso e a Alegria” foi provisoriamente suspensa pelos responsáveis por essa mácula triste na histórica Cultural de Rondônia.
Contudo, acreditamos que a fome por censura e interdição ainda perdura e se exercerá em outros planos, silenciosa e destruidora. A educação pública de Rondônia, com suas combalidas forças, escolas precárias e professores com salários diminutos, caminha para época de Trevas. Vivemos momento sombrio e esse índex é apenas um dos sintomas dessa pulsão pela decadência, ignorância e ódio.
Nesse plano, manifestamos TOTAL REPÚDIO a essa tentativa inconstitucional de proibir e mandar recolher livros que transcendem épocas e evidenciam a força da Literatura na construção de cidadãos e cidadãs, especialmente para alunos e alunas da rede pública de ensino de nosso Estado e do País.
Não será pela proibição ou censura de obras clássicas que a nossa Educação dará os passos necessários para a emancipação dos sujeitos pensantes e para a construção de uma sociedade justa e isonômica.
Aliás, é extremante grave que pessoas com essa visão distópica de impor um Fahrenheit 451 aos estudantes, em desalinhamento com qualquer parâmetro pedagógico e educacional, estejam na gestão da fundamental Secretaria de Educação deste Estado.
Rondônia nasceu do amálgama de tantos Povos e Culturas. Nesse passo, é caudalosa em diversidades, Democracia e risos. Por isso, não temos dúvida de que resistirá a essa grande noite que querem trazer para a nossa história. A febre autoritária daqueles que estão provisoriamente no poder não vencerá a Literatura. E a Poesia, segundo Ferreira Gular, flui potente e “Embala no colo/Os que têm sede de felicidade/E de justiça./E promete incendiar o país”.
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