Segunda-feira, 20 de junho de 2011 - 16h27
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
O Estado de Rondônia está de luto. A música popular karipuna perdeu uma de suas grandes vozes. Morreu ontem, em São Paulo, o cantor, compositor e folclorista Francisco Lázaro, o Laio. Deixem voar livres as asas azuis e vermelhas – disse ele em uma de suas letras, chamando atenção do homem para o direito que as araras têm de voar livremente no espaço aéreo da amazônia ocidental. Laio era um anjo, um Anjo da Madrugada.
Ao lado de Tatá, Monteiro, Waldemar Nazareno e Roberto Matias, fundou o mais famoso grupo de seresta da região norte, no tempo em que integravam o Movimento da Juventude Católica do bairro Nossa Senhora das Graças, em Porto Velho. O falecido artista, irmão do baixista Sérgio Santos, era um ribeirinho legítimo: nasceu em Calama, à margem do rio Madeira, cercado de igarapés e muitas estórias da floresta e brincadeiras de corre-corre macuchila e bela condessa. Intuitivo, já trouxe consigo o gosto pelo canto, pela música e pelo boi-bumbá, folguedo junino onde tinha a patente de Amo, comandando os vaqueiros do garboso e valente Diamante Negro, impondo respeito e admiração aos contrários.
Um de seus grandes amores foi a cantora Nêga, também já falecida, com quem chegou a ter uma filha e para quem Laio compôs Aceiro, dizendo ele desse amor com a doce intérprete: és, coração, como um aceiro, se da mata és o início, do roçado és o fim. Apaixonado pela música, participou, na década de 80, no espaço cultural do Sesc/RO, do Movimento Musical Grito de Cantadores e dos vários festivais de música da capital. Junto com o poeta Binho (Rubens Vaz Cavalcante) e Ernesto Melo e tantos outros, participou do CD que registrou algumas peças dos artistas que se apresentaram na Quinta Cultural do BASA. O CD Amazônia em Canto, uma coletânea gravada em 1996, em Belo Horizonte/MG com o apoio da prefeitura municipal de Porto Velho, por Bado, Binho, Nêga e Augusto Silveira, foi outra produção antológica que teve a participação de Laio.
Ele era, antes de mais nada, um autêntico cantador, um ribeirinho que remou de Calama até o Porto das Esperanças e aqui se fez legítimo menestrel à moda antiga. Com a viola em punho não tinha medo de cara feia nem dos desafios que a vida lhe impunha. Como uma patativa do baixo Madeira, entoou nas noites enluaradas o melhor do cancioneiro latino-americano, usando com os seus parceiros a alcunha de “Anjos da Madrugada” para tirar uma onda com a cara dos paulistas, que inventaram os “Demônios da Garoa”. O corpo a morte leva/a voz some na brisa/a dor sobe pras trevas/o nome a alma imortaliza – disse João Nogueira. O cantar do cantador, no entanto, não morre, fica latejando no espírito da gente como uma fonte jorrando perenemente saudade e emoção, lembranças e o testemunho de que a voz de Laio permanece viva no coração do povo. Ele cantou por amor e por amor será eternamente lembrado por quem ouviu seu canto livre como as penas azuis e vermelhas planando no firmamento da terra Guaporé. Polifacético, interpretou Geraldo Vandré, cantou toada de boi e MPB. Laio participou da pajelança das várias tribos culturais, mas não se enquadrou definitivamente em nenhuma delas. Era um anjo travesso cantando bolero e brincando de boi-bumbá!
Fonte: Antonio Serpa do Amaral Filho / antonio.serpa@trf1.gov.br
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