Quarta-feira, 18 de dezembro de 2019 - 08h57
Reza a lenda que o Brasil colonial, natureba, indígena e ágrafo saltou para o mundo das ideias grafadas com o jesuíta José de Anchieta escrevendo uma peça poética numa linda praia brasileira do século XVI. Era um poema de louvor à Virgem Maria.
À moda de Anchieta, as lentes de Joeser Álvarez e Ariana Boaventura voltam-se para as areias bucólicas da costa brasileira para escrever, mais que um louvor à mãe de Deus feito homem, a narrativa pulsante de um tratado panorâmico e dialético sobre as grande temáticas civilizatórias, oscilando o pêndulo de Foucaut entre esperança e a desconstrução provocada pelo ufanismo político reacionário, colocando-se a abordagem cinéfila como deliberado e contundente libelo acusatório das miragens e falácias de inscrições que permeiam a praia do sonho tupiniquim por dias melhores para todos e todas!
Por ironia do destino, o filme rondoniense vai para a Índia, para onde deveriam ter ido os navegantes portugueses que por aqui deitaram âncora e colonizaram a terra. E já que eles não foram, vai Joeser levando a tiracolo a produção Praia do Futuro, 519 anos depois de um certo Pedro Álvarez, seu possível parente distante, ter fincado raízes nos sertões dos Tupinambás e Guajajaras.
A mente hindu, uma das mais velhas do mundo, com cerca de 10 mil anos de existência, vai se deliciar com o colorido urucum sangrento das ondas bailarinas quebrando por sobre a areia, onde, logo de cara, vê-se a inscrição "Amazônia", em meio ao degradê do verde para o vermelho carmim!
E tem início, assim, um discurso cinematográfico que mais parece o balanço incessante da Pororoca de Utopias, construindo sonhos e ideais, e da Distopia, destruindo temáticas e projeções sociais tão reclamadas pelo povo brasileiro. A tensão entre os dois vetores contraditórios, ao calor das águas avermelhadas como o sangue que vem jorrando dos povos indígenas, por alguns segundos, gera na gente a sensação de que - desculpem os otimistas - esta nação está atolada até o último fio de cabelo numa circunstancial e dramática sinuca de bico. Com a peça cinemática debaixo do braço, Joeser vai mostrar ao mundo o movimento de vida e morte das temáticas sociais na trajetória de uma civilização que os lusitanos construíram por aqui e que por lá não apareceram para dar notícias, como se a história nacional fosse um grande erro de português, nada gramatical. No bojo do banzeiro que filmou, o ex-garimpeiro e agora diretor de cinema expressa, no plano único que escolheu, a peleja entre as luzes do iluminismo contemporâneo e as trevas medievalescas do momento líquido presente, retratando com muita criatividade a luta dos contrários num cenário cuja a paisagem encarna, por si mesma, a própria consubstanciação da dialética, que é o vai e vem das águas revoltas por sobre a areia da praia.
Ante à erupção de raios e relâmpagos que explodem no horizonte simbológico da História, configurando a possibilidade de não termos futuro algum nessa praia das províncias de Rio Negro, Grão-Pará e Maranhão, restam as pegadas deixadas no solo pacto, à beira mar, onde tudo começou em 1.500, simbolizando talvez que não há caminho pronto e acabado para o caminhante, e que, sem medo de ser feliz, o povo brasileiro terá que construir seu próprio caminho ao caminhar!
As inscrições de José de Anchieta foram deletadas pelas águas do mar. As inscrições feitas na Praia do Futuro são indeléveis e imunes à corrosão do tempo, creio, posto estarem grafadas no coração e nas mentes de todos aqueles que não arredam o pé do direito de sonhar mais um sonho impossível! O futuro é pra ontem!!! Nós vamos invadir sua praia!!
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