Quinta-feira, 16 de abril de 2009 - 15h17
Porto Velho finalmente conseguiu edificar seu sonhado palco artístico multiuso. Dizem que Chiquilito pensou em fazer, mas não fez, e que Guedes teria mandado engavetar um projeto similar desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultural. A administração Carlinhos Camurça, por sua vez, preferiu servir pão e circo ao povo, no carnaval da praça. Roberto Sobrinho não contou conversa e construiu o bem cultural cuja falta tanto tem envergonhado os munícipes desta urbe: um teatro para a cidade.
Eis que do jargão vernacular caboclo, tomou-se emprestado o verbete que designa tanto o movimento das águas provocado pelos batelões beradeiros, pelo açoite dos ventos do norte em dias de invernada ou, ainda, por obra da peleja medonha no embate de rio com o mar, de onde aflora a viçosa pororoca, para se batizar o espaço artístico da administração petista, berço de indomável banzeiro que as artes hão de produzir nesta cidade, despertando paixões, forjando consciências críticas na expressão e apreciação do belo, palpitando idéias na concepção da cidadania e alçando vôo de liberdade em busca da justiça social e auto-afirmação da civilização Guaporé.
Respeitável público, vem aí o teatro do município de Porto Velho!
Com capacidade para 227 pessoas, o Teatro Municipal Banzeiros integra o Centro de Formação dos Profissionais da Educação e, pelo que se vê da programação anunciada para temporada da primeira semana de inauguração, funcionará como um verdadeiro e multifacetário espaço cultural, atendendo tanto à dramaturgia quanto à música clássica e popular, à literatura, ao cinema e à fomentação do debate de idéias e tendências artísticas e político-administrativas, no campo da produção cultural. A troupe karipuna escalada para dá o pontapé inicial no tablado do teatro municipal, onde constam nomes como o de Bado, Binho, Cláudio Vrena, Júlio Yriarte, Suely Rodrigues, Sílvia Freire, Beto Bertagna, Jurandir Costa, Joeser Alvarez, Chicão Santos, Paulinho Rodrigues e tantos outros, parece ter sido escolhida a dedo para mostrar aos alienígenas que há vida inteligente em meio ao imbróglio urbano que estamos vivendo atualmente em Porto Velho. Se alcaide fosse, com certeza mandaria um convite para a repórter Eliane Brum. Mas essa novela parece que já saiu de cartaz... O fato é que a arte não é o sagrado ungüento da deusa panacéia, apto a curar todas as mazelas que afligem aos rondonienses neste contexto histórico. Todavia, ela engendra a catarse capaz de provocar atrito metabólico entre o senso-comum e o espírito crítico, entre o pensar e o não-pensar, entre o beber passivo de uma tarde e o vomitar colérico de um raio de sol, em dias de ressaca moral, quando o fígado já não agüenta mais destilar a normose e o brega alienantes.
Se é na mesa de bar onde o homem é mais sincero, como sugere o insight filosófico do escriba Paulo Queiroz, sem dúvida que é no teatro onde ele se despe sem pudor, encenando o drama da própria existência para depurar a alma travestida de ideologias baratas e expurgar demônios e deuses que lhe corroem o espírito e perturbam seu sono. E se por atrevimento ou deliberado regionalismo esse teatro tiver o nome de “Banzeiros”, aí salve-se quem puder porque é chegada a hora da pajelança cultural cabocla - a genuína quilomboclada. Porto Velho, cansada de ouvir esfarrapadas promessas do governo estadual, foi à luta e, às próprias expensas, construiu, enfim, seu teatro municipal, que é modesto, sem dúvida, porém digno do anseio de uma comunidade artística que há séculos vem sendo tratada com descaso pelas administrações municipais anteriores e pelo poder executivo estadual. Roberto Sobrinho é paulista, mas age como se mineiro fosse. Enquanto o governador Ivo Cassol, em bravatas de praxe, retoma as obras em ruínas e tenta calar a boca dos que denunciam que Porto Velho é a única capital brasileira órfã de um teatro, o prefeito petista marca ponto histórico na seara cultural e convida a comunidade para a inauguração do Teatro Municipal Banzeiros, no próximo sábado, dia 18. Política não é somente a arte do possível, é também a projeção administrativa do sensível. Cassol administra o Estado como se fosse um capataz de fazenda modelo, despido de nenhuma ou quase nenhuma predileção pela modalidade artística apreciada pelos gregos. Embora a arte baste a si mesma enquanto radicalidade libertária, é inegável que a esquerda brasileira sempre a cultivou com muito mais paixão e entusiasmo que a direita, na esperança de que ela viesse a ser instrumento de libertação do homem e de cooptação de consciências aguerridas para a revolução socialista. O luxo e lixo da memória beradeira vai da Candelária ao Jacy. Nestas paragens cândido-marianas, a arte, dentre outras rebeldias, pode servir de azougue a aglutinar essas pepitas de identidade cultural da gente guaporé, espalhadas ao longo dos trilhos! Entretanto, se na praxe histórica a demanda da utopia se mostrar maior que o romantismo de nossas bandeiras ideológicas, resta-nos então o consolo de que pelo menos A Nudez Nossa de Cada Dia será exibida despudoradamente no palco da vida, para que todos se vejam, se achem ou se percam, ante a indiferença existencialista de Nélson Rodrigues, o Anjo Pornográfico que habita o banzeiro de cada um de nós.
Fonte: Antônio Serpa do Amaral Filho
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