Quinta-feira, 29 de março de 2012 - 14h23
À beira da defuntice compulsória, o Imperador recebe uma carta de um simples homem do seu Reino. Ao perscrutar as primeiras palavras, ele se recusa a continuar com a leitura. As pessoas, ao redor do leito fúnebre, ficam curiosas com o conteúdo. O Pajé, no afã de esclarecer os fatos, solicita a um dos assistentes que lhe mostre a mensagem. Após analisá-la, o Curandeiro não titubeia e ordena que a leiam em voz alta para que o Cacique, já sem forças, ouça a missiva de indignação.
“Majestade, essa é a última vez que lhe chamo por esse vocativo. Você não merece o epíteto. E vou lhe explicar o porquê. Saiba que o nosso Reino nasceu à base de fogo, metal e sangue. Vimos a Serpente de Ferro e a Balsa de El Dorado ceifarem muitos de nossos irmãos e derrubarem as nossas florestas. Depois, veio a Grande Construção que trouxe muitas tribos para nossa Terra. Em todos os ‘acontecimentos’, disseram-nos que a cavucadora Máquina do Progresso apenas seguia a sua grande jornada.
Em menos de quatro gerações, passamos por grandes revoluções sócio-culturais. Os passos pequenos saíram do arco e da flecha para o tablet. Nessas passagens, esperávamos que os dois remansos anteriores servissem de alerta para o futuro. Até porque a última onda de crescimento foi planejada e arquitetada pelos homens que têm o ‘Céu numa tela de led’. De fato, houve muitas compensações e investimentos para a nossa Tribo.
Contudo, nada foi diferente a dantes. As forças produzidas nesse processo não foram guiadas para o engrandecimento de nosso Povo. Perdemos novamente o cavalgar da história e, nesse caso, você é o responsável pela nossa derrocada. Você deixou o Pássaro da Oportunidade voar para bem longe.
Lembro-me de quando você era mais jovem e lutava conosco contra todas as injustiças sociais e os desmandos do rei anterior. Levantávamos bandeiras e caminhávamos, mesmo sob pressão e ameaças, lado a lado para que um dia tivéssemos um governante justo e probo. Você dizia que éramos todos iguais de braços dados ou não e que todos mereciam uma vida digna. E que o dever de um guerreiro era lutar por sua gente, mesmo que o preço fosse o exílio ou morte.
Depois de décadas de luta, conseguimos construir uma força capaz de tombar o tirano Pez de Casca. Com festa e alegria, comemoramos a vitória daqueles que amavam a nossa Terra. Por meio da Mãe Democracia, escolhemos você para ser o novo rei. Todos, naquele momento, concordaram que foi a medida ajustada, em razão do seu percurso de vida. Na sua pele foi lançada a nossa esperança. Tínhamos convicção de que o renascimento da prosperidade da nossa Tribo jorraria neste solo gentil. E por dois motivos óbvios: a bonança trazida pela Grande Construção e o fato de você não ter o sangue sujo dos antecessores.
Porém, estávamos completamente enganados. Não demorou muito e você, outrora plebeu e agora Rei-Quase-Defunto, esqueceu todo o seu currículo de luta social e humanitária, bem como a sua aversão a toda forma de corrupção. Sem pudor, você nomeou para o Venerável Conselho fidalgos sem nenhum escrúpulo ou competência para tratar dos assuntos da nossa Tribo. Não afastou as aves de rapina que sempre dilapidaram as nossas riquezas. Depois, calou todas as vozes que se voltaram contra a sua postura como governante. E, assim, envergonhou todos os guerreiros que um dia lutaram ao seu lado.
Tornou-se um homem pétreo, sem a menor preocupação com as mazelas da nossa gente. Passamos a viver a mercê de todas as intempéries que podem recair sobre uma sociedade. A nossa Pátria se transformou em trapos e escombros. Ao passo que as pedras áureas se avolumavam em dezenas de arcas na sua maloca. O seu próprio corpo, antes atlético, se tornou um barril ávido por carne e vinho. A preocupação maior no seu reinado passou a ser como não ouvir os gritos de sofrimento dos seus irmãos.
Para culminar o seu império de terror, você confabulou a Guerra dos 13 Dias e enviou a maior parte dos seus opositores para o campo de batalha, mesmo com a certeza de que a derrota se mostrava inevitável. Mas sabíamos que a sua intenção era apenas afastar definitivamente do Reino as forças capazes de se opor contra a sua opressão. Como o Príncipe, você entendia que era incompatível coexistirem forças contrárias. Enganado por seus discursos, muitos foram para a luta e lá encontraram o abismo do indizível. Os poucos sobreviventes, já pálidos e feridos, foram abatidos por sua horda pessoal (ocaso, acaso e descaso!). Não havia mais força capaz de enfrentá-lo. Ao final, ficou evidente que a tirania de antes foi substituída pela sua tirania.
Agora, passados os anos, veio o inimigo que você não imaginou enfrentar: a decrepitude. Suas forças estão minguadas e, por mais que lamente, o seu tempo vai passar definitivamente. E logo os tambores vão tocar centenas de notas de alegria por seu passamento. No momento em que no seu peito a fibra rebentar, seremos livres para escolher o novo Cacique. Saiba que vamos lutar para que ele não seja da sua estirpe ou da dos seus anteriores. Como últimas palavras, lembre que você não só traiu seu Povo, a Amizade, a Probidade, o Respeito ou o Amor pela Floresta, mas a si mesmo. E disso ninguém pode perdoá-lo!”.
Quando a última palavra anunciou o silêncio, todos se olharam com muita esperança. Enquanto o Barqueiro levava o homem, agora nu, para a travessia...
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