Sexta-feira, 30 de outubro de 2015 - 17h11
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
Uma caravana composta por autoridades, políticos e convidados visitou recentemente a reserva Roosevelt para conhecer de perto as demandas sociais e ambientais dos indígenas. Em seu discurso, disse o nobre Procurador da República Reginaldo Trindade que, a partir da expedição realizada por Cândido Rondon e o polêmico presidente dos Estados Unidos, que dá nome à reserva, há um século, a paz nunca mais reinou para a comunidade Cinta-Larga. É de se afirmar, sem prestar excessiva homenagem ao fatalismo, que estava escrito nas estrelas. Ou pelo menos estava expresso no simbolismo de que se revestiu aquela empreitada paradoxal: um humanista e um imperialista juntos no meio da selva amazônica.
A civilização é filha do simbolismo. E o simbolismo impresso na estampa da viagem já prenunciava por si só que coisa boa não iria acontecer dali pra frente. Dizem os relatos históricos que a viagem foi um desastre: houve desavença na equipe, dois carregadores morreram afogados, passaram fome, tiveram malária, tifo, beribéri, e o presidente norte-americano quase foi a óbito, desembarcando em Manaus, prostrado numa maca, à beira da morte.
Theodore Roosevelt concebeu a Política do Grande Porrete (Big Stick), não só para defender os interesses norte-americanos frente às potências estrangeiras, mas principalmente para fazer valer os interesses do imperialismo norte-americano na América Latina. E foi com a Política do Grande Porrete que os EUA intervieram em Cuba, Porto Rico, que foi anexado, na Nicarágua e no Panamá, onde construíram o famoso canal.
É patente para a maioria dos historiados que a política intervencionista de Roosevelt foi uma reinterpretação da Doutrina Monroe (a América para os americanos – leia-se: a América para os americanos do Norte). Roosevelt, ao erguer a clava como mérito da política de Estado, fez com que os norte-americanos passassem a considerar quase como um direito natural a prerrogativa e o poder de intervenção nos países latino-americanos. Big Stick, portanto, é símbolo da Política da Porrada, da Bordoada, da Força Bruta, da Lei do Mais Forte! E ela foi utilizada na América Latina para fazer valer os interesses do Estado Norte-Americano e de suas empresas multinacionais.
Claro que Roosevelt não veio à amazônia com o intuito de divulgar sua ideologia do Big Stick, veio por razões supostamente científicas e espírito aventureiro. Mas, convenhamos, a parceria com Rondon resultou numa composição esdrúxula: um humanista militar de um lado, um imperialista defensor da força bruta como método de relação com os povos, de outro. Seria como colocar no mesmo barco a Madre Tereza de Calcutá e Benito Mussolini – guardadas, óbvio, as devidas proporções. Todos os valores invocados pelo Ministério Público Federal em Rondônia, em sua manifestação textual, são negados e renegados simbolicamente pela ideologia da Lei do Mais Forte, defendida, aplicada e alardeada por Roosevelt aos seus concidadãos. O Gringo não deveria ter vindo! Rondon poderia ter escolhido outro parceiro de viagem. Com o espírito da ganância e da prepotência entranhado na sua visão de mundo, o preposto capitalista do Tio Sam trouxe urucubaca aos povos da floresta.
Como reconhece o Procurador da República, a paz nunca mais reinou entre os aborígenes guaporés, desde então, porque a inhaca do simbolismo trouxe o mau agouro da presença de Roosevelt entre os bravos Cinta-Larga! Os historiadores podem até renegar essa tese empírica, mas os místicos, bruxos e pajés, com certeza, dirão que este escriba não está exagerando! A força bruta cercou as terras dos guerreiros e, ambicionando a imensa fortuna em diamante encravada naquela reserva, os partidários do método Roosevelt querem derrotar a esperança, os direitos humanos, a coragem, a bondade, a cordialidade, as tradições, os ritos sagrados, a dignidade, o comunismo primitivo, os costumes e crenças, e todos os valores que a razão aponta como sendo essenciais à convivência plural e harmoniosa com os esses brasileiros genuinamente autóctones!
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