Quarta-feira, 13 de março de 2013 - 19h38
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
O O papa és nuestro! Perplexo, o mundo cristão vê a América Latina despontar e assumir a cadeira até então vacante de sumo pontífice do Estado do Vaticano, mandatário maior de um bilhão e meio de católicos em todo o planeta e representante de Deus na terra. Na região, o Brasil entra com a nada modesta cota de 130 milhões de fiéis para o rebanho dos pescadores de homens. Depois de várias rodadas de votação, o Espírito Santo resolveu tomar partido da situação e soprou sorrateiramente no ouvido dos cardeais o nome do hermano Jorge Mário Bergoglio, 76 anos, primeiro papa latino-americano da história. Chamar-se há Francisco 1º.
Papa e América-Latina têm tudo a ver. Não exatamente pelo número de cardeais que levou ao conclave, apenas 16, mas pelas milhões almas afinadas com a crença no deus único de São Paulo e São Pedro. Os cucarachas, ideológica e involuntariamente já prestaram relevantes serviços à Igreja Católica ou aos seus aliados medievais, o que acabava dando no mesmo, porque Igreja e Estado eram tão amancebados em conluio de interesses que ninguém sabia quando começava uma e terminava o outro. Eram carne e unha, como se diz no populacho.
Mas nem tudo são flores na relação do cristianismo com as populações latino-americanas. No berço do tango de Carlos Gardel, de onde saiu o novo papa, instalou-se uma das mais ferrenhas ditaduras militares do continente, e a Igreja Católica fez vistas grossas para o fato. No Chile de Pablo Neruda e Violeta Parra, emergiu talvez o mais truculento regime militar de toda a região, e os padres, clérigos e servos do Vaticano, através principalmente da Opus Dei, fingiram que as selvagerias impostas ao povo e ao Estado Democrático nada tinha a ver com o projeto de Deus para o homem na terra. No Brasil, membros da Igreja Católica marcharam lado a lado com a Tradição Família e Propriedade, a famosa TFP, e com a direita e a ultra-direita na defesa dos governos de Castelo Branco, Costa e Silva e Garrastazu Médici, que, ao saber do assassinato de Wladimir Herzog e Manoel Fiel Filho, nas celas do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), teria dito: “foi um acidente de trabalho”.
Fazendo uma salada mista de marxismo com os ensinamentos do Homem de Nazaré, Frei Leonardo Boff deu voz e volume à Teologia da Libertação, do México ao Rio Grande do Sul, na defesa de um cristianismo crítico, social e participativo. Foi amordaçado pelas autoridades do Vaticano, sendo condenado a um ano de silêncio obsequioso. Aqui na América Latrina, apenas uma figura teve aquilo roxo para encarar e escorraçar os homens de batina deste território: Sebastião José de Carvalho e Melo, o famoso Marquês de Pombal, que, em sendo secretário de Estado de Dom José I, enxotou destas pradarias todos os homens da Companhia de Jesus.
João Paulo II, o João de Deus, abriu caminhos para que o pontificado de Francisco I não ficasse vamos dizer assim tão constrangedor, ao pedir perdão, em 1992, aos afro-americanos pelo holocausto imposto à gente de Zumbi, dentre outros, por Domingo Jorge Velho, a mando da Coroa Portuguesa.
Numa visão meramente panorâmica, o continente tem ainda muita injustiça social, socialismo à moda cubana, chavismo na Venezuela, o PT de Dilma Rousseff tentando dividir o pão da justiça social, crescimento do protestantismo com o milionário Edir Macedo e seus asseclas, neo-colonialismo, liberalismo sexual, pedofilia em algumas circunscrições da Igreja Católica, capitalismo selvagem e uma série de outros abacaxis. Habemus Papam, mas também habemus pizza.
Pra não dizer que perdemos pontos para a turma do Maradona e Messi, vamos deixar assim: o Papa é argentino, sim, mas Deus é brasileiro! Brasil 01 X Argentina 0 - nesse primeiro tempo. Fazer o quê? “Se Deus é um cara gozador/adora brincadeira/pois pra me jogar no mundo tinha o mundo inteiro/mas achou muito engraçado me botar cabreiro/na barria da miséria nasci brasileiro! Diz que deus diz que dá! E se Deus não dá/ como é que vai ficar??”
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