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Serpa do Amaral

O PE(S)TICIDA LIBERTOU A FLORESTA DOS PIRILAMPOS TRABUQUEIROS


Em época pouco distante, quando parte da Floresta vivia com a venda nos olhos, eis que de repente surgiram os Pirilampos da Ternura. Ungidos com o discurso da revolução e vestidos com a bandeira da honestidade, eles se proclamaram os obreiros que transformariam o arranjo da realidade em uma Pasárgada à margem do Rio dos Troncos. E os Bichos, encantados com a “luz” dos vaga-lumes, fizeram muita festa e se empanturraram de ilusão. Era o começo da tragédia.

A Anta, o Macaco, a Cobra e o resto da bicharada, por possuírem a visão embaçada, não desconfiaram do engodo. E, com todas as forças, abraçaram o conto dos Pirilampos e pelos quatro cantos da cidade cantavam o mesmo canto: “o Povo agora dorme tranqüilo, encontramos nosso rumo, graças aos Pirilampos, a Floresta vive no prumo”. Assim, como os ratos hipnotizados pelo flautista de Hamelin, a fé cega nos vaga-lumes deixou a Mata com a esperança de que tudo seria, finalmente, diferente.

Algum tempo depois, os Bichos começaram a indagar um ao outro sobre quais as mudanças ocorridas. A Anta, por sua natureza, disse que lhe disseram que ouviram falar que a Floresta passou a ser uma grande Pasárgada. O Macaco, embriagado pelos comensais, achou que tudo estava maravilhoso. A Cobra, cheia de sua falsa esperteza, celebrava o fato de nunca ter tido em seu alforje tantos diamantes – nem desconfiava que tudo não passava de pedaços de vidro. Nesse tom, as notícias corriam de boca em boca sem se saber a fonte ou a veracidade. Sem enxergar nada, todos se cumprimentavam e saudavam com fervor o “vistoso progresso” feito pelos vaga-lumes sem lume.

Por seu turno, a propaganda oficial não deixou por menos. Os Pirilampos anunciavam o novo El Dorado: “Acabamos com todo o desmatamento. Não existe mais rio ou igarapé poluídos. A memória da Floresta foi relembrada em vários monumentos paisagísticos. Dezenas de quilômetros de mata foram plantadas. Os recursos naturais receberam ondas de desenvolvimento em benefício dos habitantes. A qualidade de vida alcançou índices altíssimos. Em suma, a bicharada passou a ser respeitada diuturnamente”. De vento em popa, a administração dos Pirilampos teve a maior aprovação dos últimos 50 anos da Floresta.

Entretanto, como tudo na vida pode ter outro ponto de vista, surgiu o Tatu. Nem saiu direito da toca e já estranhou aquele monte de bichos com tapa-olhos. Perguntou ao mais próximo: “Como consegue ver o mundo assim?”. A Anta respondeu: “Assim como?”. “Com esse tampão nos olhos” – respondeu o Tatu. Curiosa e ao mesmo tempo assustada, a Anta retrucou: “Eu não sabia dessa venda nos olhos. Vou retirá-la...”. Assim, ao tirar o empecilho da vista, ela enxergou pela primeira vez com os próprios olhos as coisas ao seu redor. A Anta, com tristeza, percebeu que não conhecia a realidade, mas apenas um mundo fantasioso criado pelos Pirilampos. O Tatu não demorou e avisou a todos que não era preciso ter medo e que chegou o nascer de um novo dia. O dia de abrir os olhos.

Na manhã seguinte, o Sol raiou e todos ficaram estonteados, não pela claridade que quase cegava, mas pela figura horrível da realidade. A Floresta se afigurava um caso digno de uma epopéia hollywoodiana do caos. Árvores milenares foram derrubadas ou queimadas. O rio, agora cinzento e fedorento, estava à beira da secura. Toda a riqueza mineral foi destruída. Espécies inteiras foram extintas. A realidade que os Pirilampos haviam propagandeado não existia. Sem contar que, para espanto de todos, em vez de órgãos fosforescentes, os vaga-lumes possuíam na cauda o brilho dos cifrões de euro.

Nesse mar de decepção, a verdade ressoava retumbante no coração da coletividade: “enquanto todos dormiam sob o cântico da enganação, os ‘Iluminados’ dilapidaram a Floresta”. Apesar do pesares, os Bichos deixaram o conformismo de lado. Agora era o tempo no qual nenhuma lei poderia reprimir a força revolucionária das consciências despertas. Por isso, a população da Mata não hesitou em expulsar os Pirilampos Trabuqueiros e reconstruir tudo. Só que, dessa vez, às claras e com as próprias mãos.

Sem delongas, os Bichos construíram um eficaz “pe(s)ticida” para aplicar em toda a Floresta e, desse modo, banir todos os Pirilampos Trabuqueiros. Em pouco tempo, todos os vaga-lumes sumiram da Mata. Alguns foram declarados politicamente mortos. Outros, por ora, fugiram para outras regiões, na vã tentativa de enganar outros seres. Mas era certo que lá também não seriam acolhidos. O exílio se tornou o lar dos Pirilampos das Trevas.

Por sua vez, a Democracia demonstrou mais uma vez que o Povo da Floresta merece todo respeito e que qualquer trabuqueiro que apareça não encontrará solo fértil para semear as suas mentiras...

Ação Popular: Respeitem Porto Velho!!!

 

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