Sexta-feira, 15 de março de 2013 - 15h06
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
Ao assistir o documentário sobre a vida do maior gênio do Cinema Novo, Glauber Rocha, uma coisa nos chama atenção: a diferença abismal entre o pragmatismo revolucionário dele e o nosso romantismo Guaporé. Antes de qualquer a priori ou a princípio, Glauber era um homem de ação, do chegar chegando e fazer fazendo, um homofaber movido a lenha conceitual, verdadeiro vendaval tripudiando os trotskistas e leninistas mais afoitos. Até por imposição do seu primoroso ofício, que tem por comandos: câmera, ação! Pronto, o filme da vida real começava imediatamente a ser rodado. Se por delírio ou egocentrismo dissesse “A Revolução sou Eu”, todos haveriam de tirar o chapéu pra ele em consentimento unânime. Morto, dele diria Jorge Amado: “É um gigante, muito maior do que nós pensávamos que fosse”.
Intenso como um solo de Jimi Rendrix e fosforescente como a década de 60 com sua revolução sexual, movimento contra-cultural e entrechoque das grandes potências ideológicas, ele queria tudo pra ontem, como se não houve mais possibilidade de um amanhã. Apaixonado, se entregava de corpo de alma ao sentido político-estético que dedicara à vida, como se estivesse marcado para morrer no dia seguinte.
Crítico, ao falar parecia uma metralhadora verborrágica atirando verbetes e locuções em todos os sentidos da rosa do vento, sempre com uma análise a querer decodificar as contradições da existência e apontar rumos para a arte na construção de uma sociedade proletária e socialista. A maneira de ser do homem Guaporé é muito mais comedida. Nela, devagar também é pressa. Correr pra quê se o Rio Madeira corre sozinho há séculos e nunca ninguém o viu suplicando por uma mãozinha para descer mais rápido! Glauber é filho da urbe industrializada e tacanha. O nativo é rebento altivo da mãe-terra despudorada e farta. O cinegrafista bebeu a vida num só gole, brindando a Sócrates a coragem de ter optado pela cicuta letal. Sorver a existência homeopaticamente, a um dia de cada vez pra não embananar o calendário da contemplação, é a máxima filosófica dos beradeiros.
Enquanto Glauber tem pressa, o homem Guaporé tem sesta. Transformar era seu verbo predileto. Contemplar, com zero de estresse nas veias, já satisfaz o nosso caboclo. Um semeia vento e colhe tempestade; para o outro, devagar se vai ao longe. Para Glauber a ação é pra ontem. Para o caboclo era pode esperar pra depois de amanhã, se não chover. Glauber é um guerrilheiro urbano. O caboclo é um monge tribal. Ambos sonham: um acordado e ou outro dormindo. Glauber quer a tríade: ação, pensamento e sentimento. Para o caboclo, com apenas duas dessas pedras essenciais já dá pra tocar a vida. Glauber sonhou com um Brasil inteiramente comunista. Os românticos combatentes desta ribeira queriam apenas “A República Socialista do Guaporé”.
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